30.11.06

Qualé seu guarda, que papo careta!

“No momento todos os troncos de acesso o Detran estão ocupados. Por favor tente mais tarde”. No início parecia um filme do Tarzan, mas revelou-se uma pornochanchada.

Um dia sua carteira de motorista vence. Sim, eu posso continuar dirigindo, basta perguntar à minha seguradora que só sabe que eu existo porque anualmente deposito uma boa quantia em seu nome. Mas não, o Detran quer que eu faça uma prova. Sabe aquelas certezas que temos de que alguma coisa não vai dar certo? Eu a tenho, intensamente. Começa a saga, porque de ônibus eu não vou andar.
Os motoristas habilitados antes de janeiro 1998 não fizeram aulas de Direção Defensiva e Primeiros Socorros porque a legislação em vigor na época não exigia isso deles. O Conselho Nacional de Trânsito determina que eles se adaptem à legislação atual. Acredita-se que, dessa forma, seja possível tornar os condutores mais conscientes e, assim, reduzir a quantidade de acidentes no país.

Eu acho que essa é a solução! Se eu pagar um dinheirinho para o Detran, vou resolver a barbárie que é o trânsito no Rio. Provavelmente os ônibus passarão a andar na faixa da direita, os taxistas serão substituídos por lordes britânicos, o asfalto recapeado semanalmente virará um tapete, parar no sinal à noite deixará de representar uma possibilidade de assalto, os ansiosos que buzinam um segundo antes do sinal abrir serão eletrocutados ao engatar a primeira, os moto-boys ganharão velocípedes para se locomover, os carros não vão ligar se o motorista estiver cheirando a álcool e os moleques de 20 anos nunca conseguirão passar de 80 quilômetros, engolindo seus complexos de Schumacher garanhão.

Vamos marcar a provinha de atualização? Primeira pergunta da candidata - O motorista terá que pagar alguma taxa pela prova? Não! O valor da taxa está incluído na quantia cobrada pela renovação do documento, que é de R$ 71,86 + taxa bancária. Ah, bom! Bastante justo. Desconta do IPVA anual ou do DUDA para vistoria? Essa pergunta não é válida? Ok. Tenho que fazer um exame médico, de novo, para avaliação das condições físicas, oftalmológicas e mentais. Com certeza enlouqueci nos últimos 5 anos, mas só alguém fora de seu juízo normal acharia correta essa prova. O exame é cobrado pela clínica credenciada, que surpresa! Só aceitam cash, dinheiro vivo, e pode levar em uma mala preta. Ah, para falar com algum atendente do Detran é preciso ter em mãos o DUDA pago, oh!

Um mês depois vou ao posto escolhido. Chove torrencialmente, claro. Levo meus documentos e algo estranho acontece. Os atendentes são... simpáticos? Me cadastram no sistema, tiram minha foto de graça, me fazem assinar em uma máquina e me devolvem tudo: "O sistema escolheu uma clínica de Ipanema para a senhora fazer os exames. Eu sei que tem uma clínica em frente à sua casa mas não adianta reclamar, é o sistema, hihihi! Para fazer a prova por favor ligue para o Detran. Não, aqui não é o Detran, tem que ligar para “Eles”.

- Por favor quero marcar minha prova no posto do Largo do Machado onde, mal consigo crer, as pessoas são eficientes.
- Tem que ligar de manhã porque na parte da tarde não tem vaga.
- Não posso marcar agora para outro dia de manhã?
- Tem que ligar de manhã porque na parte da tarde não tem vaga.
- A senhora é gaga? Eu não perguntei se tem vaga no posto de tarde, disse que quero marcar agora para qualquer dia em qualquer hora neste posto.
- Neste posto tem que ligar de manhã porque na parte da tarde não tem vaga. Mas tem na Ilha, Madureira, Campo Grande, Nova Iguaçu e Nilópolis.

A seguir cenas. Hoje não tem tronco vago para mim e o registro do meu cipó venceu.

29.11.06

Sympathy For the Devil

(ou exercício 1: Rolling Stones)

100 years ago I said Let's spend the night together, I just wanna make love to you
It's only rock and roll, Wild horses, No expectations, Hot stuff
Play with fire, you answered

Everybody needs somebody to love, I want to be loved
Gimme shelter, You can make it if you try, Try a little harder
If you let me I wanna be your man, That´s how strong my love is, Live with me Each and every day of the year
And Little by little you became My Girl, my Backstreet girl
The spider and the fly, Sweethearts together
Ain´t that loving you, baby?
Just my imagination Blinded by love
Biggest mistake

Look what you´ve done, Heart of stone
You got me rocking, I go wild, a Street fightin' man

Dead flowers, Love in vain

I'm going down Always suffering (I can´t get no) Satisfaction
Anybody seen my baby?
Gotta get away, Time waits for no one
Let it bleed, What to do? It´s all over now, I'm moving on
How can I stop this 19th nervous breakdown? Stop breaking down
It must be hell, Sister Morphine


Now I´m Goin' home, the Prodigal son. Back to zero
It´s not easy, I've been loving you too long
I Don't Know Why you turned into My Obsession
Me, always Cool, calm and collected
Something happened to me yesterday
Can't you hear me knockin'? Almost hear you sigh
Ain't too proud to beg: Who's been sleeping here? Who's driving your plane? Just wanna see his face. Tell me, Bitch, Don't lie to me
I´m a fool to cry

Hide your love, Let me go, Laugh, I nearly died
No use in crying
You can't always get what you want

I'm free, You better move on
Can you hear the music? (Goodbye) Ruby Tuesday (still I´m gonna miss you)

Till the Next Goodbye, I will Start me up

argumento: Fernando Tranjan e Pedro Garavaglia



27.11.06

Viva o Sundown, own own own

Diz o comercial da Skol que o verão, ah o verão, é a estação da perdição porque nele você faz tudo aquilo que vai contar para seus netos, bisnetos e tataranetos. Você vai jogar hockey com rodos na piscina vazia e cultivar o amor à preguiça, ao sol e a uma dúzia de pessoas, fazer corrida de pé de pato na areia, farofa com a galera na piscininha Tone, imitar a Dancing Flower e dar muitos mergulhos na água. No verão as pessoas ficam bobas... Assistindo no ar condicionado, dá até vontade que comece logo a época de sair de sandália rasteirinha de noite com homens de bermuda, todo mundo bronzeado e de rabo de cavalo porque não há cabelo que resista, programas pós-praia, sol até às 7, ensaios para o carnaval, uma sensação de férias mesmo pra quem continua trabalhando.

A árvore da Lagoa está horrível, com umas bolas vermelhas gigantes. Se não melhorar quando acesa, dessa vez eu juro que sequestro ela no meio da noite e jogo na Baía de Guanabara já que nunca passo mesmo pelo Aterro. Ou deixo no Leblon, de onde alguém rapidinho vai roubá-la.

Criada pela The Glue Society, esta escultura da foto é um alerta sobre o aquecimento global. O trabalho se chama Calor com possibilidade de tempestade. Foi mais ou menos o que aconteceu neste fim de semana com os cariocas, uma prévia do tal verão. Não é à toa que o filme mais visto tenha sido Happy Feet, o do pinguinzinho.

Outra boa alternativa nas telas – O ano em que meus pais saíram de férias. Texto lindo, elenco encantador, Copa de 70 (apesar de tudo) e Tropicália. Na mão direita tem uma roseira autenticando eterna primavera e no jardim os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis. Viva o Cao Hamburger, o Shlomo, o Mauro e a MPB no cinema nacional. Que, aliás, salva outro filme no qual o bonequinho vai para debaixo da cadeira de vergonha - 1972. Na trilha: Acabou Chorare e Tinindo Trincando, dos Novos Baianos, Baby com a Gal e outras setentices. Para quem gosta de fuçar, músicas dos grupos A Bolha e Soma. Ouça o disco, nunca veja o filme, e desempoeire seus casacos no escurinho do cinema.

23.11.06

Meu carro é vermelho

Senhor juiz, pare agora e veja só que festa de arromba noutro dia eu fui parar. Quando ele subiu no palco a platéia já estava conquistada, e foi anunciado como o ponto alto da noite. Aí entendi o porquê. Alegando calor, tirou o casaco e revelou sua camisa regata branca. Delírio! Ao seu lado, a mocinha dançava de vestido curto e botas longas de zebra. Era Érica Martins, da banda Penélope, fazendo o papel de Vanderléa.
Tinha um quê de Los Hermanos ali, calças sociais com camisas de manga curta, um certo culto... Mas o Roberto já tinha avisado, anos atrás, que o que provocava lá fora um corre corre dos brotos do lugar era o Ed Wilson que acabava de chegar. Hey, hey, que onda! Depois descobri que nos anos 60 o Ed Wilson fazia Ana Maria entrar na cabine para vestir um biquíni de bolinha amarelinho tão pequenininho.

Ali na Lapa dividia o palco com representantes da nova safra do rock nacional como Gabriel, dos Autoramas, e Nervoso, do Acabou la Tequila, mantendo sua fama de mau. Eles já eram fãs da Jovem Guarda quando deram de cara com o tecladista do movimento, o Lafayette, tocando forró em um bar de Niterói. Bicho, sem palavras pra descrever essa cena. Agora, junto com Os Tremendões, Lafayette é o zen-budista reverenciado pela garotada, e voltou para ficar porque ali é seu lugar.
Cabelo na testa, são os donos da festa, entraram para os dez mais. Recomendo o show, é uma brasa, mora? O próximo é no dia 23 e promete lotar o Estrela da Lapa com garotas papo-firme.

Papara papara papara

Amigo de tantos caminhos e tantas jornadas
Cabeça de homem mas o coração de menino
Aquele que está do meu lado em qualquer caminhada
Me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro
Você tantas vezes provou que é um grande guerreiro
Não preciso nem dizer tudo isso que eu lhe digo
Mas é muito bom saber num pocket show em Tribuneiros

21.11.06

The end

"Os atores fazem o trabalho e eu fico assistindo, e nada é melhor do que isso!"
Homenagem a Robert Altman, 81 anos e mais de 85 filmes.

16.11.06

Para uma Noite Feliz

Planeje seu Natal com os Tribuneiros. Ofertas imperdíveis para toda a família.

14.11.06

A vida passa na TV

Um zoológico na Tailândia decidiu exibir vídeos-pornôs para um casal de pandas para ver se o macho se anima. Chuang Chuang, o marido-urso, vive com Lin Hui há três anos... e nada. Pandas dificilmente procriam em cativeiro, devem ser do tipo que gosta de relacionamentos abertos, sem pressão, e Lin Hui já deve ter enchido a jaula de velas, desfilado com lingeries sexys na frente do marido, tentado um novo corte de pelos e, dizem as más línguas, andado até se insinuando para o leão vizinho na esperança de despertar ciúmes em Chuang Chuang, mas foi tudo em vão. Para ajudar, os veterinários resolveram exibir os vídeos em uma tela grande depois do jantar, quando o panda estiver se sentindo “amoroso” (palavras do projeto).

Fiquei pensando se seriam filmes mais do estilo Sexy Hot ou algo como Playboy TV, com uma historinha para embalar. Será que vão passar o da Paris Hilton?! Alexandre Frota estaria cotado para os fins de semana e, para o caso do panda preferir algo mais cult, alguns pornôs-chic como Nove Canções já foram alugados.

A estratégia de usar filmes motivacionais não é empregada só no campo sexual, várias empresas e cursos também fazem isso. Pode ser uma prática interessante, se customizável. Seu marido anda pouco romântico? Bloqueie os canais de futebol e deixe Notting Hill passando na TV da sala. Ele anda desanimado no trabalho? Jerry Maguire nele! Não quer filhos? Madagascar, Deu a Louca na Chapeuzinho, Procurando Nemo, ou compre logo um Play Station e o convença de que sempre terá companhia para brincar. Anda te valorizando pouco? Thelma e Louise, um pouco de ameaça não faz mal a ninguém. A lista é infinita, use a imaginação e seu cartão da Blockbuster.

Mas se ele sumir de casa cancele imediatamente o plano e volte ao velho debate de relacionamento, pelo menos você tentou! E vamos ver se a Lin Hui tem mais sorte...

11.11.06

You never can win

Esperei meses por essa noite. Queria recuperar cada centavo investido, cada minuto de ansiedade, e o orgulho ferido. Cultivei as unhas longas, pintadas com um esmalte discreto. Um enorme anel de ouro contrastando com os pequenos brincos, e os braços livres de relógios ou pulseiras. Um soutien de renda sugestivamente chamado de meia-taça combinando com a parte debaixo. As pernas longas cobertas por uma calça que acompanha o contorno do corpo cuidadosamente hidratado para lembrar a maciez com que suas mãos o percorriam. Blusa preta, as costas nuas protegidas por um casaco que será estrategicamente tirado e entregue para que você pendure nas costas da minha cadeira. O cabelo sedoso escorrendo pelos ombros, exalando um suave perfume que fará com que você deseje enrolar nos dedos para beijar minha nuca. Salto fino, alto o suficiente para que a minha boca fique quase na altura da sua. Só um pouco menor do que você para que eu possa levantar a cabeça e abaixar o olhar quando nos cumprimentarmos. Um brilho seco nos lábios para que eu possa umedecê-los com a minha saliva.
Dou boa noite de longe e falo com os outros enquanto acompanho seus olhos por mim. O garçom enche a taça de champagne que eu bebo displicentemente enquanto você entretém a roda, quase zonzo. Como é sexy a risada maliciosa de quem também nos deseja! Você me tira para dançar, I´ve got you under my skin. Na minha cabeça, outro refrão me faz sorrir: para quê um beijo se eu posso ter o seu olhar?

Dou um suspiro e digo que já vou, foi uma noite maravilhosa. Você me acompanha até o carro, eu beijo seu rosto e me afasto do seu abraço.
Cuidado ao desprezar uma mulher, a vingança é um prato que se come frio. Foi ótimo para mim, não sei se tão bom para você. Bons sonhos.

8.11.06

Cierrem las puertas

O governo venezuelano proibiu o uso de árvores de Natal, imagens de Papai Noel e botas vermelhas na decoração natalina. O objetivo é erradicar a tradição americana.

O governo brasileiro está em alerta já que agora mais gente deve vir de longe para prestigiar a árvore de Natal da Lagoa.

7.11.06

Old Blue Eye´s Way

Senhor, fazei com que Júpiter fique alinhado com o Sol, com que Vênus entre logo na minha segunda casa, afastai de mim o inferno astral e fazei com que todos leiam os Tribuneiros hoje.

Todas as pessoas que não existem

Tudo o que eu não pude ter sempre ganhou seu semblante macabro no horizonte e tudo o que eu pude ter sempre chegou pequeno e podre por não ser você.
Eis que finalmente dou de cara com a sua cara. Perdido, sorrindo além da conta como sempre, com todos os fios da sua cabeça devidamente moldados e no lugar. Com todas as emoções enquadradas e sem nenhuma poesia ou mistério na aura. Então era isso? Só isso? Fico sem saber por quem afinal sofri todo esse tempo.
Só sei que vou continuar sofrendo, vou continuar emprestando a sua existência para dar cara à minha dor, à minha espera, ao meu intuito final. Definitivamente não é você que eu amo, nunca foi. Eu amo essa coisa, essa falta, essa negligência, esse fim, esse tormento, esse vácuo, essa saudade, essa angústia, esse vazio, essa certeza, esse encontro. Eu amo usar as pessoas como hospedeiras desse meu vírus de amar sem saber o que, sem saber se existe, sem nem saber se é amor.

Tati Bernardi, em teaser para meu futuro texto "I see dead people".

1.11.06

Gil

Quando a gente tá contente, nem pensa que tá contente
nem pensa que tá contente, a gente quer nem pensar
a gente quer a gente quer é viver