23.4.08

Deus, Jorge, livros e rosas

"Deus, está aí? Me ouvindo? Está sempre me ouvindo? Fica me espiando? Tem um minuto? Tem dez?"

Dear-God.net é um site feito para que gente do mundo todo compartilhe sua fé - e seus medos – através da prece. Se Ele chegou na web, melhor garantir que não esqueça de mim e que leia Tribuneiros.com. Passa lá que hoje é dia santo na casa!

No Rio, São Jorge embaralhou os feriados, um dia ainda desbanca São Sebastião e vira padroeiro da cidade. Logo ali em Barcelona, a Diada de Sant Jordí enche as ruas de escritores e rosas. 23 de abril marca a morte de Cervantes e Shakespeare e foi transformado em Dia do Livro. Diz a lenda que há muitos anos um dragão atormentava um povoado espanhol e os habitantes decidiram oferecer uma pessoa por dia para acalmar a voracidade do bicho. Quando chegou a vez da filha do rei ser devorada, São Jorge apareceu e enfiou a lança no coração do dragão. Do sangue derramado brotou uma rosa. Juntando tudo, é tradição na Catalunha oferecer rosas às mulheres e livros aos homens, e as editoras montam bancas por toda a cidade para que os autores autografem as obras.

Quem quiser importar a festa, a Argumento vende Contra a Juventude - As Melhores Crônicas Tribuneiras:-) E quiosques vendem rosas em vários bairros.

13.4.08

As minhas noites de blueberry

“- Essas foram dadas a uma garota russa que adorava colecionar chaves e ver o pôr-do-sol. Infelizmente ela gostava mais do pôr-do-sol do que dessas chaves e acabou desaparecendo em um.
- Por que você não foi procurá-la?
- Quando eu era pequeno minha mãe me levava ao parque e dizia que se eu me perdesse era pra ficar parado, assim ela me encontraria.
- Isso funciona?
- Nem sempre. Uma vez ela se perdeu procurando por mim."

Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights), de Wong Kar Wai

8.4.08

Da sempre sua...

Olá,

Bom saber notícias tuas. Por aqui o inverno começa a dar uma trégua e permitir que coloquemos nossos corpos para fora sem milhares de camadas protetoras.
Essa não é pra mim uma situação nova, e ouso dizer que traição é somente um tabu que como tantos outros aos quais ficamos aprisionados por anos, uma vez transgredido, torna-se questão corriqueira como tantas que nos cercam sem gerar grandes dilemas. Não quero com isso confessar-me uma adúltera compulsiva nem tampouco pregar contra a fidelidade, somente aconselhar a todos que sofrem com culpas e desejos sacrificadamente contidos que sejam fiéis ao que sentem pelo outro, não às artimanhas de suas criações. Que questionem por que há no mundo – desde que ele é mundo – tantos casais infelizes e (por que não dizer?) vivendo sob o véu da hipocrisia.
Prefiro o risco de ir e voltar (ou não) ao condenante “felizes para sempre” que eu jamais poderia ter pronunciado caso soubesse que não poderia duvidar em nenhum momento de tal escolha. Duvido o tempo todo! Dias mais outros menos, mas tanto nesse como nos outros casamentos nunca tive por mais que algumas semanas seguidas a absoluta certeza de viver ao lado do único amor da minha vida.
Não sei se por não conhecer todas as pessoas do planeta e assim não poder testá-las ou por viver em constante mutação (como todos os sinceros), volta e meia paira sobre mim a interrogação: será que ainda amo tanto? Gostarei mais dele ou de sua presença? Sentirei falta do que ele é ou do que me causa? Poderia outro causar? Quando pode, e por prolongado tempo, separo-me e fico com o novo até o será voltar a rondar nossa cama, mesa e banho. Quando pode por pouco tempo, a volta é sempre inebriante e revigorante. E enquanto nenhum outro pode, feliz sou eu bem casada, bem amada e aberta a tudo que meu coração puder captar e meu cérebro não puder impedir.
É com ele sempre a minha batalha. O que sentimos sempre sabemos, sempre. Se queremos assumir ou não é outra questão. Portanto, querida, acho que respondi ao que me perguntaste. E se não foi bem isto que me perguntaste, perdoa-me. Talvez tenha dito tudo para lembrar a mim mesma.

Cuida de você que o mundo segue.
Um beijo...

5.4.08

Uma arma na mão e só merda na cabeça

- Fica calma, está tudo bem, mas o Pedro levou um tiro.
Esse era meu pai, sentado no sofá, aparentando ter vinte anos a mais do que tinha ontem. Ontem foi o dia em que o Pedro saiu aqui de casa com meu irmão pra irem a mais uma festinha na The Week. Bebida, mulherada, desconfio que os meninos se divertem mais sacaneando um ao outro durante a noite do que realmente pegando alguém ou dançando (homem dança na The Week?).

Era uma arruaça desse tipo que estavam fazendo ao sair da boate – “ah, muléki, e aquela baranga que te deu toco? Seu viadinho!”. A diferença é que de repente um cara empurrou meu irmão no chão, começou a chutar a cara dele e disparou dois tiros. Que sorte que ele viu Missão Impossível duzentas vezes, né? Conseguiu se esquivar e não foi atingido por nenhum disparo. Boa garoto! Mais tarde, quando eu parar de tremer e de chorar, ele vai me ensinar a técnica. Posso precisar...

O Pedro não teve tanta sorte. Quando viu o amigo no chão, correu pra cima do agressor e acabou levando um tiro na perna. “Meu filho, de cara valente o cemitério tá cheio”! Tenho certeza que a mãe do Pedro já falou isso pra ele, a minha repete como mantra tentando criar o filho no purgatório da beleza e do caos. Mas quem vai ter sangue frio ao ver alguém que gosta sendo alvo de bala?

Não dá pra trancar os garotos em casa, né? Eu confesso que a minha vontade é essa. Cada vez que vejo meu irmão sair pra noitada com a galera, torço pra ele arrumar uma namorada e viver de cinema e restaurante logo. Aí lembro que na idade dele eu saía de quinta a domingo. Isso tem uns 8 anos, e não sei se a juventude é despreocupada ou se a cidade era mesmo melhor.

Agora o Pedro saiu do hospital, meu irmão está dormindo, os outros amigos hoje não vão à The Week, repórteres de todos os cantos estão ligando pra cá e eu estou escrevendo isso só pra desabafar mesmo. Já nem é mais uma denúncia. Logo eu que fiz jornalismo pra não ficar calada! Eu que volta e meia quero mudar o mundo! Eu que sou uma cidadã indignada! Estou exausta. Minha indignação não vai mudar nada. Só quero abraçar meu irmão, ver o Pedro de novo ganhando medalha de ouro e agradecer a Deus ou quem quer que seja por ter protegido os meninos.

Não sei se os tiros foram dados pelos seguranças do Estacione Fácil, não vou questionar o fato de um prestador de serviço portar uma arma, não vou nem responder aos ignorantes que comentam no jornal que “pra tomar tiro ele deve ter feito alguma coisa”. Se eu ainda tivesse vontade de consertar o mundo perguntaria que tipo de coisa justifica levar um tiro, mas vou levantar essa discussão pra quê? Daqui a pouco grito que esses alienados merecem um tiro na testa pra parar de falar besteira e aí perco a razão.

Mas se alguém ainda tiver esperança, faz isso por mim?