31.7.09

Ligeiramente feliz

Eu estou grávida.

Corta pro flashback. Porão da casa de cultura Laura Alvim. “Não saber que camisinha estoura é como não saber que carro atropela!”. E tinha a cena da Ingrid que saiu com uma toalha na cabeça por culpa de um baseado e uma parte chatíssima onde a Maria Mariana dizia que duas simples bocas podem fazer maravilhas por duas simples almas. A gente ria quando elas diziam que o primeiro beijo tinha sido bom, mas aquela língua atrapalhava um pouco. Primeiro beijo da vida. Era bem próximo.

Eu estou grávida.

Ser surpreendida por uma gravidez aos trinta é como bater o carro na garagem? Você já relaxou, acha que domina as técnicas de baliza, em um dia ruim manobra até pensando em outras coisas, não tem mais alarmes e sinais luminosos indicando a cartela de pílulas, adultos acenando com preservativos, os homens que reclamam que aquilo atrapalha não são mais moleques querendo contar vantagem (será?). Sendo bem sincera você sabe que consegue ter um filho ainda que converse melhor com o garçom do Bracarense do que com o pediatra.

Ela está grávida.

Em homenagem ao aniversário da chegada do homem na lua ela resolveu dar seu grande passo – apesar de pequeno para a humanidade. Cancelou a prova de docinhos que faria com a irmã noiva, prendeu o cabelo besuntado de formol contrariando as recomendações da cabeleireira e saiu com ele. Um cara tão romântico, eles e o oceano Atlântico, ele não sabe quem é Bahuan, ela usa um lindo sutiã e as coisas mais sérias a gente conversa amanhã.

De repente, no amanhã, ela está grávida. Que merda.
E ele sorri. Ela chora. Chora mais ainda. Ele encosta na barriga dela onde cresce um serzinho de treze milímetros. Ele não acha bom que ela fique em lugares fechados por causa da gripe suína, mas pergunta se podem viajar nos próximos meses. Antes do sétimo ele quer que ela conheça seu país preferido.

Ela está grávida e algumas pessoas simplesmente não nasceram para o comercial de margarina. Elas escolheriam Bob Dylan para a trilha. E tudo bem.

You've gone to the finest school all right, Miss Lonely
But you know you only used to get juiced in it
And nobody's ever taught you how to live on the street
And now you're gonna have to get used to it
You said you'd never compromise

29.7.09

Quando eu estou aqui

Pra quem vai fazer as ilustrações do próximo e pra quem mais uma vez manteve os batimentos cardíacos controlados a noite toda.
Pra estopa que deve estar rodopiando de alegria e se estabacando no chão.
Pra quem, de algum lugar, acompanhou meu vinho com um whisky porque são determinadas coisas que nunca mudam.
Pra quem apesar dos tantos presentes em todas as datas devia saber que o maior deles foi o imenso carinho, e pra quem depois me levaria pra andar de bodinho.
Pra bridezilla que comportadamente ontem não ficou desenvolvendo teorias etílicas infinitas sobre qualquer coisa, e pra quem traiu o movimento punk.
Pra quem pode ouvir Lulu Santos no repeat sem traumas – o seu destino é ser star.
Pra quem, uhn, acho que engordou mais um pouco, mas a roupa de business man disfarça.
Pra quem me enganava colocando ovo no Nescau! E hoje me esclarece tanta coisa.
Pra quem ontem estaria vestida toda fofinha com os cabelos azuis (e talvez me emprestasse seus casacos de pele mesmo que não fôssemos a um baile).
Pra quem colocou um caracol na minha cabeceira para eu não me esquecer de levar a vida devagar.
Pra quem nem nas suas apostas mais altas devia imaginar que aquela coleção de livros geraria dois!
Pra quem é báááárbara.
Pra minha parceira no Jogo da Vida.
Pra quem começou essa brincadeira virtual e tornou tudo tão real.
Pra quem pinta, borda, escreve, esculpe, viaja, se muda e encanta, e para seu príncipe bem real.
Pra quem comprava de uma vez só todas as figurinhas do álbum e para suas novas figurinhas.
Pra my person, again, e isso não vai passar.
Pra meu 911, mesmo quando pede pra aguardar um momento, senhora, sua ligação é muito importante para nós.
Pra quem agora voa porque pular era pouco.
Pra dona do meu spa particular – mesmo que ele fique em SP.
Pra quem daqui a pouco volta não só a passar a mão na bunda da vida, mas a agarrar com vontade - e ainda vai ganhar a tal.
Pra quem eu sei que nunca vai faltar nosso almoço de domingo mesmo que nem se lembre mais que diabos é isso.
Pros que aprenderam que não há nada tão ruim que não possa melhorar - muito.
Pra quem talvez não fosse tão parte da família se realmente tivesse nascido nela.
Pra quem – sim – tem o mesmo sobrenome, é minha tia (como ela pode conhecer tanta gente?).
Pra quem cuida de mim mesmo perdido pelo mundo.
Pra minha roommate que gosta de gente bonita.
Pros meus mestres, com carinho. Eles ensinam que hay que endurecer sin perder la ternura jamás.
Pra quem destrói carrinhos, mas constrói amizades – e eu saí ganhando nessa!
Pra quem sabe que a vida é o resultado das nossas decisões, mas sopra um ventinho ali na praia e sempre é tempo de aprender kitesurf.
Pra quem teve batizado coletivo, mas é único.
Pra quem é muito mais bobo do que eu.
Pra quem me deu um chocolate lááá atrás.
Pra quem gira no chão porque... ah, normal, a música é boa.
Pra minha insensatez.
Pra keynote speaker dos seminários que ainda vou organizar.
Pra quem não quer the next best thing, mas the best thing ever.
Pra mãe das meninas.
Pra quem tem 13 milímetros.
Pra borboleta verde com diploma de Yale.
Pra quem elogiava tanto que me convenceu que era bom, e pra baleia da sua piscina.
Pra primeira princesa, ou Your Royal Highness.
Pros amigos que eu ganhei deles.
Pro sóbrio em Salvador.
Pros meus companheiros de aventuras.
Pra quem foi, e isso já foi tanto.
Pros que acham o Junior o melhor garçon do Jobi.
Praquele banquinho na parede que me rendeu tantas conversas, pros que conversam através dessa tela e até sem nenhum comentário.
Pra quem me deu um abraço.
Pra quem me desafiou a escrever e mostrou a medida da felicidade.
Pra quem me ensinou a ter certeza, e que reinventá-la não a transforma em dúvida.
Pra quem segue andando, e às vezes assobia feliz.

28.7.09

There's no point to any of this!
It's all just a... a random lottery of meaningless tragedy and a series of near escapes. So I take pleasure in the details. You know... a Quarter-Pounder with cheese, those are good, the sky about ten minutes before it starts to rain, the moment where your laughter become a cackle... and I, I sit back and I smoke my Camel Straights and I ride my own melt.

Reality Bites, 1994

19.7.09

As canções que eu faço para você

Pode ter sido o Rei debaixo de um temporal no Maracanã lotado ou a lembrança do receituário azul.
Quando a dor vem de algum lugar concreto, ufa, deixa vir. Se com ela vem uma vozinha amiga, parente da tal luz no fim do túnel, confia. Se traz uma torrente de lágrimas, deixa cair. Elas limpam a alma, levam embora, fazem cada sorriso ser mais bonito e cada ser ser mais humano.
Se a dor gera histórias de uma vida, são detalhes que eu conto aqui. Às vezes vou deixar você me ver chorar sorrindo.
O amor pode vir de um abraço amigo, do caso mais antigo, pode não vir como a gente queria, pode vir de um gesto inesperado, uma ligação bêbada no meio da noite, uma tarde com vinho em um vale, uma dedicatória em um livro, pode vir do outro lado do monitor. Aqui esse amor é uma canção composta por um pobre resto de esperança sentada à beira de uma estrada. Um olhar volta e meia tristonho que deixa sangrar no peito uma saudade, um sonho. Posts e posts que nos trouxeram até aqui - coisa que somente entre nós dois ficou - cicatrizes que falam em palavras que não calam o que eu não me esqueci.
Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada (do tempo que transforma
todo amor em quase nada), mas como "quase" também é mais um detalhe eu quero levar este canto amigo a quem o necessitar. Preciso do coro de passarinhos! Quero ter um milhão de amigos pra cantar em um estádio inundado e lotado.
A felicidade pode vir em capsulas e o futuro em drágeas, mas é melhor quando vem em forma de gente mesmo que gente provoque dor. Porque quando você está aqui eu vivo momentos lindos que me fazem lembrar que com tanto sentimento deve ter algum que sirva.
Qualquer coisa que se sinta é melhor do que um receituário azul. O importante é poder compartilhar as emoções que vivi.

No dia 28 de julho nos encontraremos no Associados. Vou pedindo o chopp.

17.7.09

A few of my favorite things



An education, um roteiro de Nick Hornby. Em breve para as melhores platéias.

13.7.09

O que não tem critério nem nunca terá

Tribuneiros.com lança campanha contra a lisura!
Clique aqui para participar da homenagem a todos os pegadores que dizem que eu deveria estar na festa ao invés de ficar em casa redigindo textos. (Porque de vez em quando eles preferem jogar Wii a gastar mil reais no Baronetti).

Do para-choque

“Se um dia a vida lhe der as costas, passe a mão na bunda dela”

Paulo Cesar Pereio

7.7.09

Ctrl+Alt+Del

Todos em pé na calçada do bar. De novo.
O bar lotado. De novo.
Todos se divertindo, mesmo que preferindo estar em outro lugar. Todos adorando aquelas companhias, mas num beco escuro do peito um desejo imbecil de ter outra, e às vezes o desejo derrama e inunda. Se isso fosse um filme do Gondry a cena viraria uma piscina com todos brincando de Marco Polo.
Você pode pensar que se fosse uma obra de arte seria um quadro do Hopper, mas não. Na cidade colorida as dores não tocam blues, cantam samba, e pelo menos fica mais animado, aquele triste que a gente chama de bonito. É tão bonito que dói.
Na parede do bar o folheto de um curso que ensina a rir de si mesmo. É sério.
A música lá longe. De novo.
Todos vendo o mundo de uma redoma blindada, as pessoas em um plano etéreo. Se fossem risadas viriam do apartamento ao lado.
Você pode pensar que se eles voltassem no tempo fariam diferente, mas repetiriam.
Às vezes o mundo parece um manicômio lotado de gente com esparadrapo no coração.
Se fosse feita uma enquete no bar todos levantariam a mão.
Têm a banda calada, o tempo parado, comida no estômago, vontade de cair no sofá, pantufa e moletom, pálpebra pesando, um exército empurrando para sorrir. Sorriem. Superam. Suspiram.
Você conhece ela?
Conheço. Ela é quem eu queria ser se assim fosse ter você perto de mim.
Se fosse uma doença seria fibrilação.
Eles sabem que daqui a pouco vai aparecer alguém para deletar os itens excluídos de vez, mas antes têm que abrir espaço e a lixeira está ocupando toda a memória.
Se fosse um Mac a mensagem seria “the finder needs your attention”.
Se fosse fácil...