28.6.10

Da foto

"Está aqui, registrada em cores, a prova de que no fim do mundo tem uma possibilidade!"

Ufa, existe uma alternativa, ainda que ela desconfiasse que se precisasse ir até lá escolheria forma menos capitalista de vida. Depois de responder à brincadeira da amiga se deu conta de que, devagarzinho, voltava a ter esperança de que talvez existissem outros caminhos que levam a lugares mais perto. Ou fé, parente da esperança. Fé deve levar muitas pessoas a fins de mundo como aquele fotografado na viagem. Aquele pode ser o fim de um mundo que não serve mais para os que chegam ali e, por isso mesmo, o começo de outro diferente - possivelmente melhor pros que estavam gostando bem pouco do antigo e acreditaram que dava pra refazer.

Estava ali, em construção, uma casinha num canto qualquer da India sem nada em volta. Grama baixinha, pontas de pedras, um morro na frente, varias arvores à esquerda quase saindo de quadro, telhado verde, futura varanda, janelas de madeira e vidros e uma antena de TV via satélite. Em tom de brincadeira a amiga mostrava a ela que até nos lugares mais distantes do planeta seu ganha-pão estaria garantido! Aquela casinha lá nos cafundós lhe pareceu tão aconchegante quanto cobertor fofinho no inverno. Alguém no outro lado do mundo, por um detalhe imperceptível para os tantos turistas que passam por ali, se lembrou dela. Só aquela pessoa olharia praquela antena e pensaria naquela história. Talvez fosse isso a poção mágica, do fim do mundo veio uma pista.

Começou a cantarolar o verso que sempre lhe intrigou - tudo que a antena captar meu coração captura... E sorriu. Ela iria viver a vida ao vivo porque essa era a sua opção, e ao vivo a gente improvisa. Tudo bem.

24.6.10

Pra não dizer que não falei de Saramago

"Diz o refrão que não há bem que sempre dure nem mal que ature, o que vem assentar como uma luva no trabalho de escrita que acaba aqui e em quem o fez. Algo de bom se encontrará neste textos, e por eles, sem vaidade, me felicito, algo de mal terei feito noutros e por esse defeito me desculpo, mas só por não tê-los feito melhor, que diferentes, com perdão, não poderiam eles ser. Às despedidas sempre conveio que fossem breves. Não é isto uma ária de ópera para lhe meter agora um interminável adio, adio. Adeus, portanto. Até outro dia? Sinceramente, não creio. Comecei outro livro e quero dedicar-lhe todo o meu tempo. Já se verá porquê, se tudo correr bem."

*****
"O mais certo é ser a palavra o melhor que se pôde arranjar, a tentativa sempre frustrada para exprimir isso a que, por palavra, chamamos pensamento."

12.6.10

Uma porção de bolinhas de queijo

(Conversa de botas batidas)
Primeiro concluímos que o Leblon estava se transformando em Epcot Center. Japonês, árabe, espanhol, português, italiano, todos os povos estavam espremidos em não mais que um quarteirão, representado pela culinária um pedaço da cidade reunia todo o mundo: it’s a small world after all. Traduzido com o nome de bebidas até o lema foi copiado – “if you can dream it you can do it” é uma baboseira suicida sem fim. E como em um mini-mundo eles não poderiam faltar, identificamos imediatamente a Faixa de Gaza onde circulam livremente os terroristas, homens-bomba das origens do movimento pela libertação Hamas, a.k.a. Jamás se iluda com eles.
Tem problema não, nosso tabuleiro de War está armado em cima da mesa, vai jogando. Não temos pretensão nenhuma de conquistar o mundo, o objetivo é ter boas histórias para rir no final. No dialeto Jobi escreveu o poeta: tudo vale a pena se a alma não é pequena. Pequeno é só o orçamento desse filme com elenco reaproveitado, vambora, roteiro bom sustenta a obra.
Vou pra festa de dia dos namorados nenhuma, podem encher o Scala com dancinhas comemorativas que eu vou ver o jogo de um lugar seguro. Desculpe, slogan, “faz de conta que sou o primeiro” vai me fazer acreditar que é o único. Pfffff.... Sei lá se já fiz loucuras por amor, assumo todas as que já cometi por falta de amor próprio.
It’s time, diz a Jabulani.
Agora penso que a figura do quebra cabeça pode ser uma pintura surrealista e, se não soubermos logo, não vamos entender nada e ficar chorando porque não faz sentido. Faz assim: eu tento e te conto.

4.6.10

Glossário da Copa

Se o Beckham vai à Africa só dar apoio moral eu também posso oferecer ajuda com minha perspectiva única! Não entramos em campo, mas entendemos do negócio.
Começa o jogo aqui no Tribuneiros.

Ke Nako!

2.6.10

Lixo

Se não consigo me concentrar, essas vozes, onde foi o chão, porta, estou em pânico. Pânico. Fome porque é impossível comer, vontade de morrer. Sair correndo se tivesse força, cair no chão, por favor, me deixa ir embora, fugir pra longe daqui, desaparece. Queima esses jornais, rasga fotos, nome, menções que são mísseis. Sou engolida por um monstro gigantesco ou ferida com um punhal no meio do peito, esse maldito ponto que lateja como se tivesse prendido o dedo na porta. Não, por favor, de joelhos em súplica: não. Me sinto zonza. Não foi assim que descreveram os poetas, se existe música é trilha de terror, mil tubarões engolindo barcos a um relance da sua mão na dela. Sai! E cresce um ódio, bateria em você até me cansar e dormir. Rasgaria sua pele, exporia sua carne para mostrar um pouquinho do que corrói em mim. Se não precisasse depois acordar.

Se chorar adiantasse choraria por horas, dias, noites, gritos. Conversar, escolheria com cuidado entre todas as palavras do dicionário as que trouxessem você pra mim. Imploraria. Desenharia o tamanho do gostar e prometeria nunca te ferir. É isso? Tanta dor. Quando é bom? Se te trancasse em uma gaiola e alimentasse como meu você fugiria, eu temeria constantemente. Viveria em vigília, soldado a postos em guerra - contra quem? é em mim. Conseguisse, eu me mataria. Berraria até catapultar a parte tão infeliz. Fraca. Sem vergonha. Exterminaria cirurgicamente a sangue frio cada neurônio que reage a você nessa doença.

Engole esse choro e levanta a cabeça. Já. Não é ninguém, nada, não tem. Chega.

Não dá.

Um dia vai passar. Um novo dia.

Recolham esse trapo.

1.6.10

Thank you

De tanto acertar nos convenceram da nossa capacidade, ninguém prestou atenção ao esforço. E se baixássemos as armas? Com tanto acerto mal conhecemos o erro, não nos arrependeremos deles.
As fotografias de apartamentos pasteurizadamente decorados, quadros de Hopper, violinos cortantes. Juro que queria algumas palavras, quais são? E se por um momento elas me faltarem? Fica essa mensagem estranha, não entende como vazia, está repleta, só embaçada. Ecos em uma caverna, água gelada que nem dói. E se superarmos a anestesia?
Tem muito branco, pérola, superfícies lisas. Três goles da bebida mais cor de sangue na taça mais fina para despertar o que adormece. O que se embala com os sons dos carros cortando a larga avenida e aqui ao lado tem uma pequena rua, vou pintá-la. Como se a caixinha de música na mesa de mármore tocasse a melodia do bosque que se chama solidão. E se não tivermos medo de lobo mau?
Agora que sorriu não se esqueça de trazer as cores, respirar fundo para renovar o ar. Presta atenção. Tira o sapato, escuta o vento. Aceita, mas não desiste. Se entrega, não se entrega, permite. Esteja lá, só, lá. Naquele momento. Não tire fotos, guarde lembranças e seja capaz de recontar as histórias, desenhe em aquarelas ou grafite paredes, faça viver. Toque a pele encardida das mulheres, os enfeites que as fazem tão sagradas, as sedas e crenças, busque a força que os faz tão ingênuos. Espertas somos nós construindo fortalezas que nos trancam do lado de dentro. Faça parte. Depois me conta como querer sem se quebrar, que nunca entendi como não desejar não é morrer.
E se não for nada disso, recomece. Não se esqueça. De tanto errar perderemos o medo.
Boa viagem, aproveita o caminho. Um dia componho uma canção, um dia entenderemos tudo melhor.

Leva Alanis no Ipod.