28.1.11

Para manter o equílibrio*

Tudo ia bem. Sob controle, o que na maioria das situações é mais do que bem. Perder o controle, inclusive, passou a ser um dos meus piores pesadelos, loshermanamente eu diria “deixa o verão pra mais tarde”. É tempo de se estabilizar. Depois de dias turbulentos pude até – pasmem - sair de férias! Sem relógio, sem jornal, sem responsabilidades, vinte e um dias. Sim, eu chequei se as janelas estavam mesmo fechadas antes de sair, conferi o passaporte na bolsa, tive certeza de que as contas estavam pagas, funções delegadas, entrei naquele avião! No pior dos casos explodiria uma guerra civil no meu destino de descanso ou um vulcão entraria em erupção, o que quer que acontecesse só poderia ser resolvido na hora. Fui.

“Auguri!”, eles gritavam. Mesmo, gritavam, os decibéis italianos são um pouco incômodos aos meus ouvidos, mas desejavam essa felicidade com tal entusiasmo que além do “ciao” e “prego” acrescentei a palavra ao meu reduzido tradutor mental, e sem me preocupar obsessivamente em conquistá-la fui degustando os dias na Itália como aprendi a fazer com cada vinho e comida oferecida. Não é que isso é bom mesmo? Só na volta me dei conta de que tudo tinha sido tão bom, eu realmente tinha estado lá: minhas rabugentices, neuroses e medos viajaram junto com a curiosidade, as lembranças, palhaçadas e todos co-existiram bem. Tudo era parte do que eu sou e aceitar é um pequeno passo pra humanidade, mas gigantesco pra astronauta em questão.

Já estava esse calor quando saí? De novo a serra sofreu com as chuvas! Onde era mesmo que estávamos no projeto? Nossa, foi um mês, mas temos tanta coisa pra conversar! A Dilma, como está? E os dias foram passando com aquele clima de duas doses acima típico de pós-férias, nada era grave, um frescor. Até que... serpente? O quê?

“O Sol e a Terra estão se movendo lentamente e assim a estrela do seu signo não é mais a mesma de quando ele foi atribuído ao seu nascimento, milhares de anos atrás”. Enquanto eu me perdia nas estradinhas toscanas um certo astrônomo foi à TV proclamar mudanças no zodíaco, estava criado um novo signo. Então eu saio de cena por uns poucos dias e mudam tudo? Mudam eu? Já aceitei a mudança da gramática, minhas idéias perderam o acento, agora precisam perder o rumo? Por definição devo pensar em cálculos e não mais em arte, nunca fui metódica! Organização mental... Tivesse a mínima ordem na minha cabeça e não existiriam tantas palavras despejadas do meu cérebro atordoado nesse espaço. Eu já tomei decisões baseada em horóscopo, da Capricho ao último astrólogo-formado-em-psicologia consultado encarei muito Mercúrio retrógrado nessa vida. Perdoei capricorniano com ascendente em leão, devia ter mandado o garoto longe com fúria escorpiana! Perdi horas lendo o meu horóscopo e o dos alvos da ocasião pra saber como agir, me habituei a sorrir pra todos os arianos que cruzam meu torto caminho. Tudo errado? Então o problema estava aí desde 1930 e eu vagando de consultório em consultório buscando “me entender”?

Ninguém termina casamento da noite para o dia, não se inverte mão de rua sem prévia comunicação nem se abandona trabalho abruptamente, certas alterações requerem aviso prévio. Astrologia é coisa séria, sabe-se lá quantos cancerianos adorariam ser easy-rider, odeiam a vida em família, mas insistem só porque o mapa astral falou? Eu poderia ter me casado equivocadamente pressionada pelo retorno de Saturno! Quem banca isso agora, defensores do Butantã? Não. Libriana-indecisa ou virginiana-com-TOC, a decisão está tomada: não mudarei de personalidade. Tal qual Paulinho da Viola, eu sou assim. Ô astrônomo revolucionário, se quiser gostar de mim... me liga mais tarde. Rápido, que librianos mudam de idéia com as fases da lua. E ainda usam acento.

* Ou "Para a Lalol e o André"