27.6.11

Do armario

Houve um tempo em que eu escrevia

Dedicatória (s) ao que eu vivia
por Bruna Demaison - Segunda-Feira, 13 de Abril de 2009, às 11:31

Você estava ali a um palmo, e tão longe. Não percebi a distância aumentar, acho que eu estava dormindo. Eu estava dormindo longe de você. Tivesse me abraçado ao invés de me agarrar algum pedaço de mim teria evitado essa ausência. Eu me despedi rápido, abri a porta sem temer aquela vontade louca de fechar, dei um beijo sem carinho como se fôssemos nos ver amanhã. Como se eu não fosse sentir saudades. Como se não quisesse esticar um pouquinho mais o encontro com um medo danado de ser o último. Sem precisar me controlar.
Entre lençóis e cafés eu mostrei uma besteira no jornal, nós alcançamos as conversas banais que tanto almejei para imitar casais, mas enquanto minha dor de cabeça aumentava a minha vontade de te prender aqui diminuía. Você não curou a minha dor de cabeça. Você me viciou no calafrio de um olhar intraduzível e me ensinou a te hipnotizar em tantas noites esfumaçadas. Talvez só esse vício nunca tenha saído daqui. O que você fez?
Eu compus tantas canções, quis de novo muito e sempre outra vez. Defendi o prazer. Celebrei a impulsividade. Enfrentei o descompromisso e criei um não me importo para ceder à mania de querer o seu querer, inventei uma maturidade que - quem colocou essa segurança aqui? - descobri real. Desvendei todos os seus sinais. Você transformou o hábito do meu desejo em uma rotina sem esperança, luta vã, desbotou meus planos com os tantos nãos que me ofereceu.
E se eu hesitar em te pedir para ficar? Se falar sem ensaiar, se a festa existir de qualquer jeito e eu nem reparar? Se eu não precisar disfarçar ou tiver a audácia de não estar por perto, se sair de perto por querer e não por fugir. E se eu quiser outro? Se eu achar pouco? Se eu não sonhar mais?
Se eu puder desativar meu radar, rodar de bar em bar sem te buscar não vou mais precisar estufar o peito, justificar meu direito, procurar proteção. Nem vou mais respirar fundo. Não vou mais acordar feliz. Vai faltar motivo, sobressalto, frio na barriga. Coração vai bater pouco. Vai bater certo. Vai ficar chato, nublado. Vai ficar sem graça. Se eu te olhar sem faltar ar não vou mais saber rimar.
Se acabar vou descobrir que não foi nada por você.