11.7.11

Admirável mundo novo

Não aguentando mais ruminar a questão, decidi usar o exemplo do mapa. O que eu queria era explicar que à medida que o tempo passava eu ia achando mais atraente a ideia do mundo ser um lugar melhor quando está de cabeça pra baixo, e implementar esse projeto exigiu de mim um afastamento temporário das demais funções. No final – que não é necessariamente o final – optei por deixar que cada um escolhesse o seu jeito de ver o mundo, mas eu ainda tinha que organizar as pecinhas porque tirar tudo do lugar dá o maior trabalho. A questão é que explicar pode ser muito complicado, mas eu queria.

O mapa pra mim sempre tinha sido como todos os mapas, desde o Atlas gigantesco no qual eu me debruçava em cima da mesa até os que o Google Images passou a encontrar: no lado esquerdo a America do Norte ficava em cima da America Central (que sempre foi meio embaralhada) e na sequencia, do lado debaixo do Equador, nosotros. No meio ficava o oceano, à direita a Europa com umas coisas em cima, mais pro lado a URSS das minhas aulas de geografia, equivalente a nós aparecia a África-continente que continha a Africa-país e não sei quem teve essa preguiça de repetir nomes, mais lá pra longe ficava a China e, jogada no nada, a Austrália.  Como o Japão podia ficar perto dos Estados Unidos só passou a fazer sentido tempos depois, vai ver antes de descobrir isso eu nunca nem tinha pensado sobre o assunto porque deve ter havido um tempo em que eu não pensava sobre qualquer assunto. Pulando todas as alterações politicas ocorridas no caminho do meu nascimento até o exemplo do mapa, chegou o dia em que eu vi um planisferio todo diferente. E aí... pensei sobre o assunto. Podia ter sido um pensamento de 3 segundos, mas tendo eu nascido com o sol em libra, o ascendente em sagitário, a lua onde quer que ela estivesse, crescido dessa forma torta apesar de convencional e conversado as coisas que conversei, virou Um Pensamento. O desenhista não estava satisfeito com a disposição do mapa descrita acima, mudou. Não mudou os continentes de lugar, chegou foi ele mesmo um pouco pro lado. Tal Carlos, foi ser gauche na vida, e o centro passou pra direita, o esquerdo pro meio, o “sul” subiu, tudo por causa do ponto de vista do sujeito incomodado. Pronto: novo mundo! Parece simples, mas dançar tango também parece.

Há tanto tempo eu não recebia comentários no blog, provavelmente porque há muito tempo não escrevia no blog.  É que transforma-lo em um caderno de esboços deixaria tudo sem pé nem cabeça: jogar nos outros um mundo totalmente revirado não é lá muito razoável, e por vezes foram tantas andanças atrás de um ponto mais confortavel de observação que faltou folego até mesmo pra mim, que escolhi a missão. Ela dizia que aquela era a primeira vez que lia sentimentalidades nos meus textos.

Essa era a primeira vez que cronicamente me identificavam como não-emotiva. Estava no dicionário: Sentimentalidade - S.f. Estado ou caráter sentimental. Do sentimento – S.m. ato ou efeito de sentir.  Do verbo, perceber o que se passa em si.

Eu nunca tinha passado por essa situação - a de convencer alguém que sou, sim, um ser afetado por emoções, diria que terrivelmente abalado pelo que se passa em mim. Não era mais? Será que com tanto vai e vem larguei minha sentimentalidade em algum deserto ou mar por aí? Eu precisava convence-la. Convencer-nos. Não poderia simplesmente recomendar a ela textos de outras épocas onde sentimentos afloravam magicamente, eu precisava garantir que a autora é a mesma.  A forma pouco se alterou – umas gordurinhas localizadas onde antes não havia nada, centímetros a mais nos cabelos mais claros ou mais escuros , mesma altura já que aos 1.70 não chego mais – mas o resto...  O resto continua exatamente igual, só ainda estou testando o melhor lugar para olhar para ele.