18.10.11

And I don't know why (keep walkin for miles)

*Last night she said
 Oh, Baby, I feel so down
 Oh, and turned me off
 When I feel left out

Eu tenho amigas legais pra caramba, juro. Tenho que ir dormir, uns três episódios da temporada passada de Grey’s Anatomy para assistir, a série nova que ele me deu de aniversário, tenho um cachorro que não se importa de ter o sono interrompido por um abraço meu, um provável convite de trabalho na caixa postal do celular, um pote de brigadeiro vencido na geladeira e uma planilha de filmes do festival de cinema para essa semana. Eu tenho uma festa na sexta-feira e uma nova casa de shows pra conhecer no sábado. Tenho um blog onde finalmente voltei a escrever e outro caótico para ser arrumado sobre os lugares do mundo que eu gosto. Eu tenho lugares espalhados pelo mundo sobre os quais posso falar, tenho fotos incríveis e recordações mais ainda da Toscana, do sul da França e de Boipeba. Eu tenho “pretendentes”, segundo o astrólogo. Tenho um astrólogo, eu e minhas amigas. Tem tanto tempo que um homem não domina desse jeito nossos assuntos e cabeças que já tenho vontade de sufocá-lo como fiz com quase todos os que passaram por semelhante condição. Tenho adoração pelo verso “porque era ela, porque era eu”. Tenho vontade de comprar o CD novo da Mallu Magalhães mesmo que tenha tido tanto preconceito quando ela virou namorada do Camelo. Eu tenho amigos que fazem filmes, que fazem livros, músicas, cupcakes, amigos que fazem falta, festa, filho e tanta força pra ficar bem. Gente que quer uma casa em Guaratiba, um trabalho independente, fritar bifes para o marido, que está desinformada de si mesma ou acomodada a velhas idéias. Gente que está no armário se guardando pra uma ocasião especial. Gente que confunde liberdade com solidão, que dirige sozinha cantando de noite, pra quem as informações sempre tiveram links. Gente incoerente e inconsequente, gente inteligente pacas do tipo que me deixa encabulada sem falar. Gente de quem é tão fácil gostar mesmo que se ache tão difícil.
Eu tenho que dizer para ela que vai ficar tudo bem e que apesar de querermos ser diferente isso é como no final das novelas mesmo que tenhamos certeza de que a vida segue depois dos créditos, mas tenho medo dela perguntar como. Eu também tenho uma dificuldade enorme em entender porque.

 I'm walking out that door, yeah
* Last Nite, Strokes

16.10.11

Otimista demais

Nós sempre fazíamos cartões além de dar os presentes. Um dia, deixamos de escrevê-los. Eu deixei. Porque os dias começaram a ficar corridos, os hormônios da adolescência nos permitiram menos frenesi, porque escrever exigia reflexões que remexiam e comecei a me afogar no redemoinho causado por elas, todas as alternativas anteriores, relevante aqui é que, pra mim, o encerramento dos textos sempre podia ser com palavras do Rei: ao fim de mais um ano de vida ou encerramento de um velho, o feliz ano novo trazia a mensagem de que, tivéssemos nós chorado ou sorrido, importante é que emoções tínhamos vivido.


O cinismo da vida adulta adaptou a lição de Emoções no campo amoroso fazendo surgir a premissa de que tudo vale a pena desde que renda boas história na mesa de um bar. Melhorou os fins de noite já carentes de grandes acontecimentos e aliviou a pressão das coisas terem que ser como uma comédia romântica - se passamos a assistir mais produções independentes com protagonistas disfuncionais por que não assumir logo o roteiro inesperado entregue pela realidade? Em contrapartida, comecei a batucar “qualquer coisa que se sinta...”. Por resistência, cicatriz, comprimido ou Oscar, pouco passou a importar. Se até ônibus que demora a passar passa (e me abalar não altera em nada o itinerário dele) imagina dar corda para aborrecimentos que não são diários! “Eu, hein, Creuza” virou mantra, pobre súdita do Rei.

Substituímos nossos terapeutas por um astrólogo – o mesmo para compartilharmos o aprendizado de interrogá-lo - e não o fizemos por inclinações místicas, mas porque a ciência que economiza sessões oferece um panorama de tendências mais objetivo. Aproveitamos que a casa afetiva está vazia para descartar essa ansiedade e focar no realismo que Saturno traz, frequentamos festivais de rock com musica pop e grama sintética, planejamos o negócio próprio menos por idealismo do que por rentabilidade e autonomia. Até que num sábado muito depois dos tempos dos cartões, quando música alta de músicos atraentes é tema de conflito mais profissional do que amoroso, releio a sequencia de e-mails há dias sendo casualmente escrita entre nós. Falamos sobre entender ao invés de julgar, tentamos um perdão, pensamos se o erro do outro não foi o melhor que ele pôde fazer, lamentamos calmamente o descompasso entre os seres e que reciprocidade seja tão complicado de viver quanto de pronunciar.

Porque queremos desacelerar os dias, porque nossa intempestividade não altera em nada o tempo de cada um, porque sabemos que aquele festival não é pra nós, porque nosso mapa astral já aponta o fim do retorno de Saturno, porque todas as alternativas anteriores são verdadeiras vem finalmente uma vontade de chorar e de rir, e uma impressão de que o encerramento-padrão dos cartões não faz sentido de novo, faz um novo sentido. Em paz com a vida, o que ela me traz só acrescenta que o importante é que a emoções sobrevivi.