19.1.12

*That smile on your face

Ah, admirador! Lembro de quando a Radical Chic ainda fazia sucesso e se comparou ao Rio de Janeiro: de longe um espetáculo inigualável, de perto uma colcha de retalhos. Até gosto bastante de patchwork, mas não foi no bom sentido que a balzaquiana fictícia se descreveu – estava mais para “meu coração e minha bunda tem mais crateras do que as ruas da cidade”. Eu continuo achando-a maravilhosa, mas daí à perfeição... cantamos os encantos mil, mas quando estamos a sós entre compadres cariocas confessamos os sacrifícios que a musa nos exige. 

Pode confessar, mãe, foi uma boa tentativa de elevar minha auto-estima, me fazer reencontrar a esperança de haver um alguém romântico na multidão, alguém que se tivesse uma rua mandaria ladrilhá-la para eu passar, não funcionou. (Minha mãe nunca entendeu que quando o obstetra anunciou "ela é perfeita" se referia aos meus vinte dedos, dois olhos, nariz e boca.) Aliás, mãe, não precisa ficar com pena de mim não, tá, já conheço os conselhos de exigir e temer menos, blablabla, vão você e papai conversar com Freud e por favor só retornem com um plano de ação e a conta da sessão paga que há pouco redirecionei a verba da terapia para massagem modeladora com ultrassom.

Onze da noite, véspera de feriado, uma hora e treze de transito pós-trabalho e chega o recado dele - "Admirador Secreto"- no blog para mim: “você é perfeita”. Ô, coração, faz isso não, isso aqui é um poço de desilusão. Na segunda série cheguei do recreio e encontrei sobre o estojo três chocolates. Era dia dos namorados, 12 de junho de 1987, o paulistinha gostava de mim e fez essa surpresa, minhas amigas viram, eu congelei, segundo dia mais nervoso da minha vida que no primeiro um outro entrou no play carregando buquê de rosas dez vezes o pequeno tamanho dele. 5 de outubro de 1985. Minha festinha parou, os primos mais velhos adoraram, nossos pais nos obrigaram os dois beijinhos e tenho certeza de que pensei em furar meus olhos nos espinhos para não precisar encarar mais ninguém dali em diante. Essa Perfeição não sabe lidar com galanteios.

Perfeição é uma carga tão pesada, desafio tão intransponível que vou não. Não vou conseguir completar a Travessia dos Fortes, escalar o Pão de Açucar nem dançar balé. Perfeição é chato, um estado de alerta, precaução infinita, é tanto medo que prefiro calculadora financeira, é até mais atraente! Perfeição é pra quem não tem coração, quando ele assume fica tão mais genial.
Escreve “você é uma menina legal”? Aí eu nem gargalho, dou um sorriso, ganho o dia, penso que até pode ser, sem muitos dramas, e ponto final. Imperfeitamente felizes para sempre.

*How long before you screw it up
How many times do I have to tell you to hurry up
With everything I do for you
The least you can do is keep quiet

1.1.12

@Noel


E aí, gorducho fofinho? Teve um #felizNatal? Essa história das festas terem caído em fins de semana atrapalhou mais do que a chuva, não achou? Não percebi que era Natal nem na Leader Magazine! O lado bom é que quase consegui escapar da tradicional angústia de final de ano – e digo quase porque hoje, sem querer, ouvi a Árvore tocar Noite Feliz, aí é um golpe muito baixo. Ela já está linda com presentes iluminados ao redor e ainda inventaram de colocar músicas instrumentais a cada hora, fui pega de surpresa aos quarenta e cinco do segundo tempo! É um certo delay se emocionar no dia primeiro de janeiro, mas fazer o quê? Pude evitar a longa apreciação dos fogos e fui surpreendida pelo efeito caixinha de música ecoando por toda a Lagoa, quando digo que se existe um Deus ele tem um certo humor negro você se zanga.

Enfim, sobrevivi a mais um reveillon, consegui até me divertir bastante em uma festa fortunosa que parecia último capítulo de novela e agora tudo volta ao normal: os turistas que andam de biquíni no calçadão e dirigem como bêbados sumirão, podemos encontrar com os amigos a qualquer dia de qualquer mês sem sentir a pressão de um prazo se esgotando, os planos devem ser colocados em prática porque não cabe mais a desculpa de que em dezembro não adianta começar nada (vai malhar!). Quanto aos turistas, confesso, não sei por quantos sábados e domingos até o Carnaval teremos folga deles – eu que tanto torci pelo desenvolvimento do potencial turístico da cidade me vejo inventando estratégias para espantá-los (e nem assim ouso pensar em preços abusivos como estão, vou pelo caminho de plantar notícias falsas envolvendo as UPPs ou fotografar os miquinhos nas ruas e associá-los ao Planeta dos Macacos). É que não cabe, Noel! Não cabe no meu bolso essa moda de Cidade Olímpica nem nas ruas espremidas entre a montanha, mar e Lagoa. Não cabe nos blocos, nas praias, nos bares, no glamourizado Leblon televisionado pelo Manoel Carlos. Se ao menos os garçons se tornassem mais bem educados... Como será que fazem os parisienses? Uhn, verdade, ficam mal-humorados como estou.

O mau humor é só por esse ponto, Noel, em todo o resto sou só sorrisos para o ano que passou, tanto que por mim ele nem precisava passar. Nem Susan Miller leio mais, acredita? O que tem vindo, de bom ou nem tanto assim, tenho encarado, bem ou nem tanto assim, mas conseguindo. Adoraria não ter essa dor nas costas e acreditar um pouco mais que toda forma de amor vale a pena, por enquanto sigo alternando compressas de água quente e Tandrilax e letras de música e cinema independente, um cachorro que parece urso panda é mais útil para quem vive sozinha do que abridor de potes (anota essa dica). 

É isso, bom velhinho, não poderia deixar de escrever essa nossa já tradicional carta, não prometerei aparecer tão assiduamente nesse blog quanto outrora por ter percebido que foi o que mais pensei em 2011 e não executei . Só deixo aqui registrado que apesar de não saber uma música da Paula Fernandes, ter visto apenas um filme da lista dos melhores e ter sentado raras vezes no Jobi fiz muito bom proveito desse ano arrumando minha casa. O astrólogo recomendou que eu recebesse mais, quem sabe o que vem por aí? Sem pressa, vamos (vi)vendo.

Como aprendi deliciosamente na Italia: tanti auguri per te! E pra não dizer que não falei de Londres, seja exatamente como você quiser – feliz (em) 2012.