26.7.10

Patchwork (vol. I)

Eu fico pensando se ali na frente vou olhar pra trás e dizer que valeu a pena. Se um dia vou contar a minha historia incentivando alguém a persistir. É difícil. Menos que isso aconteça, mais o persistir.

Ontem vi nuvens. Na verdade ontem olhei nuvens, possivelmente as vejo todos os dias a não ser que em algum dia eu nem levante os olhos de modo que caiba em cena o céu. Pensando bem, quando não saio do quarto não vejo o céu, e está aí uma boa razão para não repetir esse ato: decidi que é inadmissível uma pessoa passar todo um dia sem avistar o céu, e então levantarei da cama.
Ontem quando vi nuvens pensei que olhá-las seria uma estratégia para o pensamento estar ali. Não olhá-las imaginando formas, mas tirando fotos. De um tempo pra cá tirar fotos me obrigou a procurar detalhes e buscar pontos de vista, montar composições, é mais fácil com câmera. Win Wenders falou que há tantos anos usa óculos que se habituou a ver o mundo emoldurado. Às vezes eu vivo pensando naquilo como um texto. Tomara que seja de uma historia feliz.


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Ia se chamar pedaços. Ou vestígios? De pedaços virou uma colcha, de retalhos. Da colcha a cadeira, a lareira e o cachorro. O copo de leite, a madeira escura e o orvalho. A manhã gelada, o sol pro meio-dia e o saco de pães. A casa acordando, a mesa completa. Ponto.

Em frangalhos. O joio e o trigo. O branco do leite, do casaco novinho, da neve no parque. Branco bom. A tranqüilidade. A inspiração. A mão estendida sorriso no rosto. Essa vida se fosse minha logo mandava colorir, mas os momentos em preto e branco parecem imortalizados, historias de castelos, melancolia que não é tristeza. Retratos de um tempo feliz. Vestígios. Vestígios não doem.

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E você... será que um dia eu vou descobrir que não é nada perto da minha imaginação? Nós seremos muito felizes nas minhas histórias. Até... .

18.7.10

As preparadas (ou "lições do Bonde para o baile todo")

Quantas horas por dia você faz ginástica?, ele perguntou. Não são bem horas por dia, eu teria que fazer um cálculo para dividir duas vezes irregulares por semana por sete dias inteiros para achar o inexpressivo decimal que representa minha ocupação de tempo com exercícios físicos. E trabalho? Leitura, cinema, amigos? Aparentemente estava comprovado que eu não sei dizer adeus porque passo meus dias fazendo nada. Lamentável. Ele não considerou as horas na terapia, naquela filosofia tempo gasto falando sobre o assunto não é considerado “ocupar a mente com outras coisas”.

Masculinamente diagnosticado, meu problema era “inventar problema”. Não há mensagens ocultas por trás de Crepúsculo nem Woody Allen é um bom parâmetro, as musicas não dizem o que eu sinto - como os hipocondríacos sou eu que começo a sentir o que dizem as letras - ninguém insinuou nada quando perguntou como eu estava, isso é parte das normas de educação ocidental, “vai pegar alguém”, prescreveu.

Como no universo de seres aparentemente tão parecidos comigo a solução para uma gigantesca disfunção amorosa pode ser “vai-pegar-alguém”? E meu histórico familiar? Instinto de defesa, necessidade de auto-suficiência, programação cerebral constituída há mais de três décadas? Ele sugeriu trocar a meia-calça fashion por um jeans que aperta até meu útero e “partir pra night”. Maquiagem não faria mal, eu pareceria "menos chata".

Eu pensando que me desconectar do problema sem perder a ligação comigo mesma para tudo voltar ao lugar – ou ir pra lá pela primeira vez – indicava que viver havia se tornado tão complexo que a matrícula em uma aula de respiração seria o primeiro passo para a cura. “Depois alguém gosta de você como você é, primeiro deixa nego te chamar de gostosa”.

E foi nessa hora que Simone espichou os olhos do livro e sussurrou pra mim: "vai que é tua, Taffarel".

De Beauvoir. Simone de Beauvoir.

12.7.10

Saudade, amor, que saudade

Chamei de saudade instalada, aquela que realmente é.
Não é a falta cotidiana, o não estar mais, é o nunca. O não estar e reticências (porque saber se é um ponto final não temos como, mas sempre parece).
Tem a saudade do não saber cadê, diferente dessa saudade do vão. É a saudade birrenta, do lugar vazio no carro, não tocar do telefone, mas a que dói mesmo é a do não abraço, do não sorriso cúmplice, do não carinho no cabelo. Parece maior. Pior. Não é a saudade que bate o pé, é a que suspira.
Tem a saudade antecipada, quando você realiza o quanto é feliz, mas entende que vai mudar. É quando já dá para ver o fim da linha, bola pra frente, e você saboreia cada minutinho restante. O cãozinho já cego que não sobe mais na cama mas ainda abana o rabo quando você chega. O sussurro no escuro da madrugada - “mãe, cheguei, boa noite” – que na casa nova vai virar só lembrança. O olhar registrador a caminho do aeroporto.
Tem a saudade ingênua, que adoraria não pintar o cabelo nem cuidar do marido péssimo de febre de 37 graus. Saudade daqueles tempos, ah, aquele Rio de Janeiro, Co-pa-ca-ba-na. É a saudade que diz falsamente indignada “onde já se viu?”. Que pode ser sacana – lembra da Lalinha? Hehe, Lalinha, que pedaço de mulher! E Lalinha nem nunca olhou para o saudoso.
Saudade do que nunca foi. Saudade dos ideais que a vida insistiu em provar não passarem disso.
Tem ela – se todos fossem iguais a você - a saudade bem resolvida, aquela certa nostalgia que sorri com o canto do lábio. A das fotos das férias de verão quando duravam três meses. Dos banhos de mangueira, waffle com mel e calça Fiorucci.
Tem o bichinho esperando na porta. Um par de sobrancelhas arqueadas. Braços ao redor de um travesseiro. Orvalho. Jangada a seco. Estalar da cadeira de balanço. Fim do Fantástico. Canção de marinheiro. Flor de viúva. Incompletude ou o que fica quando a gente sabe que é hora de partir.

Tem tanta saudade na vida, mas a saudade instalada é aquela que já entendeu que não adianta gritar, então chora baixinho mesmo.

Saudade é o registro do amor que só pôde ir porque um dia pôde ficar.

Tribuneiros.com é o site que se despede hoje, mesmo que nunca vá pra longe de mim.

7.7.10

Ok, go


well, don't go blamin' the kids again