Não somos sol nem a lua, fomos um
eclipse.
“Aqui em cima é perigoso porque o
vento muda de repente, Angelina. Você pode cair”.
E ainda assim as pessoas sobem.
E ainda assim as pessoas sobem.
Em uma vila caiçara a 1 hora de Paraty
vivem 300 famílias, incontáveis vagalumes e um lagarto que, dependendo do seu nível
de familiaridade com o mato, pode ser confundido com um dragão de komodo. Foi lá
que eu desembarquei para 3 dias com 3 homens que rifarei para comprar meu
veleiro, ou um caiaque. A mudança de embarcação-desejo foi só uma das
transformações daquele feriado de finados conceitos e limites dinamitados tais
quais uma casa construída sem licença por um coreano que não ajuda em nada. Quem
chegou proclamando não querer relacionamento em poucas horas descreveria a
mulher que procura, “a mais linda do mundo, quando vocês virem saberão”, declamou
o Juca sobre a dele. Essas coisas de um mundo onde as mulheres modernas não
cozinham e os príncipes (finalmente) passaram de encantados a encantadores - e
estão no Tinder.
A casa é a primeira na praia, com
imensas janelas de vidro no quarto, um chuveiro no jardim mais forte que
cachoeira, duas portas de madeira na areia por onde entram cachorros e uma
cozinha debruçada sobre a natureza de onde sai a mais saborosa culinária italiana
com influências de México e Salvador, cachaça de milho, café coado na hora e
kava para embalar músicas com sabor de morango (a fruta, não xarope artificial
de sundae).
No cais que flutua para poder
acompanhar a maré, improvisados yoga mats para pausar um pouco o tempo e saudar
a lua. Tal qual um I-Phone em modo avião nossa mente recarrega melhor sem
tantas funções sempre trabalhando em segundo plano.
Tínhamos nos visto meses antes em
Caraíva, ela imponente e linda prateando o mar, na noite em que ouvi alguém muito
feliz dizer “isso aqui não é sorte não, é construção”.
Aprenda a construir sua própria fortaleza,
mas lembre-se de deixar a porta sempre aberta.
Em espanhol as palavras são
escritas como se fala.
Uma hora você precisa abandonar a
velha escola, trocar de vícios, se soltar do cais, acreditar que o que aprendeu
dá conta do próximo passo, que a Bahia já lhe deu... um orixá, régua e
compasso.
Diminua o ego, encare seus medos,
saia do seu conforto mas seja compreensivo com seus limites, se escute, se
aceite, e fale. Podem prometer a vista mais linda lá em cima que não compensará
o esforço se você não desfrutar o caminho (e isso não é só metáfora, é conselho
literal para montanha mesmo).
No fim do seu filme você morre.
Vá. Quando você viaja, nunca volta.
Em um segundo o vento mudou, e dentro
de mim é mar.
Não foi de repente.
- Espero que eu tenha tocado a
sua vida como você tocou a minha.
- Um eclipse nunca se toca.
E cabe tudo na malinha de mão do
meu coração.