- Ah, dona Bruna, máquina de
lavar é igual à gente: um dia estamos bem, no outro já era.
E com essa filosofia ele me
deixou, com quatrocentos reais a menos e a missão de comprar uma lavadora nova
o mais rápido possível antes que montanhas de roupas dominassem a minha casa. Diante
do retrato tão cru da efemeridade na vida nem me entristeci pela perda da
máquina, protagonista de tantos textos e lições na rotina de uma dona de casa. O
que me abalou foi o tempo que levei refletindo sobre nós, minha primeira
lavadora e eu.
Há dez anos, quando nos
conhecemos, eu guiava meu figurino pelas regras da Brastemp: não importava
minha vontade, eu tinha que obedecer à necessidade de acumular roupas da mesma
cor até atingir o nível mínimo de lavagem. Hoje nem me lembro dos conselhos dados
lá atrás, faço tudo do meu jeito nas raras vezes em que não deixo para a
faxineira que em uma semana lava, só na outra passa e com isso eu fico duas
semanas esperando pela roupa, fruto do mix de cansaço-falta de tempo-madamismo que
me acometeu em uma década. Estou ótima, minhas roupas também, a lavadora não
por problemas dela, nada comigo. Não dá mais com essa? Vamos para a próxima,
foi bom enquanto duramos. (Quem é essa pessoa desapegada?)
9, 10, 11, 12, 15 quilos, cesto
de inox, plástico ou inox com base de plástico, água quente sim ou não, automática,
semi ou tanquinho, lava e seca, turbo, reuso de água, porta superior ou
frontal, diluição anti mancha, voltagem, cor? Deus, como eu vou escolher? Preciso
de um consultor como existem os de investimentos, tenho que montar uma planilha
comparativa de máquinas. Seria muito antiético delegar essa tarefa pessoal a
algum estagiário da minha equipe? As salas de reunião são de vidro, alguém passaria
e nos veria com uma apresentação em power point sobre maquinas de lavar, eu
perderia o emprego e o sustento para comprar lavadora. Mães sabem comprar
maquinas de lavar? “Mede o espaço que você tem na área, filha”, a minha quer
que eu chegue no Ponto Frio e peça “uma lavadora de 50 centímetros por favor”.
E se eu não tiver mais máquina?
Passarei minhas noites nas lavanderias ouvindo música enquanto espero acabar o
ciclo e ao meu lado sentará um homem interessante também sem lavadora e nos
apaixonaremos como nos filmes... que se passam em Nova York. E se eu abrir uma
enquete no Facebook? Além de checar os aniversários do dia meus amigos virtuais
usariam a rede para opinar sobre marcas e modelos! Mas são tempos tão
estranhos que algum radical poderia associar meu direito a ter lavadora com
feminismo, geraria uma discussão politica, um escreveria em caps lock Ele Não,
o outro O Lula tá preso babaca e um ministro me mandaria esfregar roupa no
tanque como no início do século passado.
Há dez anos eu transformo questões
práticas de serem resolvidas em dilemas existenciais que geram mais páginas do
que ações. Eu só queria não ter nascido libriana. E um aplicativo que indicasse
a lavadora mais adequada para cada pessoa.
Direto do túnel do tempo, "Uma Brastemp I" aqui