- Bruna, acorda!
- Quem é você? (olhos
arregalados como o emoji)
- Sou o Elfo.
- Juro: isso nunca
me aconteceu antes. Tenho tido problemas de memória - nos conhecemos? Já é
Carnaval?
- Sou o elfo do
Natal, vim com o Papai Noel.
- Me drogaram. Eu sou
bradicárdica, não posso tomar MD!
- Viemos entregar
seus presentes, mas Noel está se sentindo mal, algo no coração. Precisamos que
você nos leve ao hospital.
- Vou chamar uma
ambulância.
- Ele não quer
ambulância, o trenó está aí fora.
- Aí fora na
janela? Como não quer ambulância? Eu nunca dirigi renas, ele tem plano de
saúde?
**************
- Vão examiná-lo, mas
isso demora.
- Como faremos com
o Natal? Já lidamos com crise de credibilidade, se entrarmos nas casas de dia imagina
o caos.
- Vocês conseguem entregar
os presentes sem ele?
- Natal sem Noel?
- Buchecha sem
Claudinho? Não tenho expertise em entrar em casas pela chaminé principalmente
em uma cidade sem chaminés. Vamos nos dividir, fico aqui.
- Você é um pouco
mandona.
- Achei que na elfolândia isso já estivesse
superado. Você entende o propósito de mantermos o Natal? Revisão de
planejamento? Divisão de tarefas?
- Estamos indo.
***************
- Já me sinto
melhor, acho que foi a pressão do prazo, a expectativa de todos, um cansaço
enorme. Não tenho mais vinte anos.
- Não sei que tipo
de skincare o senhor faz nem quero ser etarista, mas me parece que já não tinha
vinte anos lá em 1800.
- Antes eram só
cartinhas, agora mandam email, DM, acredita que mandam até áudio?
- Espero que na ordem de prioridades esses fiquem por último.
- Devo amar a
todos igualmente, todos cabem no meu coração. Quer dizer, 'todes'.
- Agora não estou
acreditando em você.
- Nem eu. E o seu,
posso olhar? Bate mesmo tão devagar.
Tem umas
barricadas em volta, vou tirá-las.
- Não! Pode
explodir, às vezes parece que não cabe em mim. Ou pode quebrar de novo, acontece
à toa, é mal feito.
- Ele é tão
grande, mas não parece indefeso. Tem bastante coisa dentro mas está até bem organizado.
- Porque tem muitas
mulheres, elas fazem isso.
- Elas que
colocaram essas crianças na parte da Sabedoria? São seus filhos?
- O senhor não deveria
saber?
- Esse que tudo vê
é outro, eu tenho mais o que fazer.
- Eu poderia ter
me comportado mal esse ano então? Não estava prestando atenção em mim?
- Querida, seja
forte: ninguém está tanto assim, faz o que quiser.
- São minhas sobrinhas.
Muitas irmãs, amigas, não tenho filhos.
- Mas seu coração
está inteiro, não falta pedaço.
- Quem disse que
faltaria?
- Tem umas pessoas
no alto de um armário e parecem quebradas. É para mantê-las?
- Acho que tem
conserto algum dia, deixa aí. Ocupam muito espaço?
- Não tanto quanto
esses sacos de lixo aqui... tem umas verdades fora da validade, outras pessoas dentro! Credo, parecem péssimos.
- Putz, pode me
ajudar a descartá-los? A toda hora me planejo para isso, acontece alguma coisa
e não faço. Fico achando que vai ser como moda que volta, sabe? Aí vou querer e
não terei.
- Livramento, isso
é mais inútil do que guardar calça clochard. E, se me permite dizer, não
combinam em nada com você mais, não tem moda que volte.
Tem centenas de
monitores ligados aqui, uma barulheira.
- É minha central,
monitoro tudo. Não viu Divertidamente?
- Aquilo era o
cérebro. Ops...
- O que você fez?!
Não pode desligá-los, vou perder o controle!
- Você está em uma
emergência com Papai Noel, chegou com elfos, dirigiu renas, dizer que tem a ilusão
de que domina a realidade e controla alguma coisa... Está difícil de acreditar
em você.
- Sei como se
sente.
- Olha como
melhorou, ouve-se até um samba aqui dentro agora! Playlist excelente. Vamos dar
uma volta, será que tem um bar aberto ainda?
- Você frequenta
bares?
- Não acerto fazer
em casa um bom Fitzgerald.
- Vamos assim sem
disfarce?
- Consertamos
nossos corações, vamos como quisermos. Sem tralhas e funções inúteis talvez o
seu passe até a disparar de novo.
- Não quero
borboletas!
- Pede isso em uma
cartinha para mim e penso. Vamos ver se
alguém acredita em nós.