4.7.08

É por isso que eu canto

Ela estava devastada. Trevas. Todos os tricolores estavam cabisbaixos e só não choravam para não serem taxados de botafoguenses, mas só uma estava estatelada no gramado do Maracanã. Comparado a ela, Renight Gaúcho parecia apenas chateado:

“É uma fábula! Você luta heroicamente, consegue o que até os mais iludidos duvidaram que fosse possível e erra no básico – chutar a bolinha pro gol. Faz tudo certo e no último minuto é vencido por um equatoriano, roubado por um juiz mau-caráter que representa todos aqueles que te passam a perna quando você merecia a vitória, acaba o sonho por falta de sorte!”

Morro de inveja dos que conseguem exorcizar tudo em um estádio. Ingênua, tentei argumentar que era só um campeonato, não tem outro acontecendo? Ofendi os deuses mais poderosos, posso jurar que esse comentário idiota gerou os trovões que abalaram o Rio de Janeiro naquela noite:

“Nãããão!” – ela só levantou a cabeça nessa hora. – “Nós merecíamos aquela vitória. Está provado que a vida é injusta, aquele goleiro desgraçado se mexeu na hora da cobrança porque é sempre assim, o mal vence, o mundo não presta”.

Silêncio total. O mundo presta, ao contrário de qualquer argumento meu ali.

“Eu acho que fui Hitler”.

Danou-se. Aparentemente o ditador teria influenciado a tragédia do Fluminense e eu precisaria ouvir a teoria.
Nós pagamos pelo que fazemos e ela tinha errado muito, mas pelas contas feitas já devia estar em dia com a justiça divina. Achava que o tempo trágico do casamento teria sido suficiente para abater anos e deixá-la com crédito, mas não aconteceu assim. Até assassinos têm a pena reduzida por bom comportamento, mas a dela nunca era atenuada, logo, devia ser karma dos pesados. Nível Hitler na outra encarnação.

“Nego tá me sacaneando”!

Nego era Deus, o que teoricamente escreve certo por linhas tortas e a irritava por isso.

“Eu também faço as coisas certas, tento muito e fico ouvindo que é pro meu bem, foi melhor assim, blábláblá. Aaaaaaaaaahhhh, eu quero ser campeã da Libertadores!”

Lexotan? Tequila? Psicanálise? Abraço? Gargalhada? Filme bobo? Existe injeção de serotonina? Vai pra casa, grita no travesseiro, amanhã melhora.

Sonhei que era reveillon. Do nada, em julho, era ano novo. Como assim? Eu nem tinha me preparado para o brinde! Contagem regressiva e alguém disse a frase da Renata: “que 2008 seja como você quiser”. Não tem karma, culpa, injustiça, sacanagem, juiz ladrão, tem que ter vontade. Ás vezes é uma merda e não sei como são as coisas no futebol, mas na vida a meia-noite não acontece num simples movimento do ponteiro, pode durar uns seis meses para ser um novo ano. Comercial da Coca-Cola: é você quem faz.

Talvez você tenha lido até aqui esperando por um desfecho otimista. Bem... ele é! Só não tem nenhuma história agora para ilustrar o final feliz. Mas eles existem, eu ainda acredito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bruna,
Leio sempre seu blog, mas nunca comento.
Hoje preciso dizer:seus textos me inspiram!
beijos