Tem quase um ano aquela frase - Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro*...".
Ele mandou por que era aniversário dela ou por que se lembrou da nossa conversa sobre a razão da arte? Era a razão da arte ou se o mundo estava melhorando? Pelo visto tínhamos várias conversas. No fundo eu ainda devo sentir alguma saudade que assim que a mágoa passar vai ser mais bem resolvida por tornar-se uma assumida nostalgia gostosa dos tempos que não cabem mais. Tínhamos o mesmo amor um pelo outro, e o reconhecimento e incrível registro dessa certeza são alterações milenares em um ser traumatizado pelo não-amor.
O tempo altera, mas é preciso algum esforço conivente. A gente não esquece, engaveta. Quando der, reveja os guardados (não queime as fotos). Mas cuidado, testar limites é diferente de auto-sabotagem. Sonho com o dia em que assoprarei o pó acumulado como quem reencontra uma velha caixinha de música esquecida no porão.
Ainda dói assim mesmo ou dói lembrar-se da dor? Dói dentro do peito, vontade de se dar um nó pra desatar o nó. Cabeça que vai de encontro a joelho. Quase vertigem. Nossa... Calma. Lembra? Está tudo bem. Perdão é um sorriso sincero. Ainda vou te abraçar com carinho. Agora fecha essa gaveta, se dá mais um ano. Essa saudade não é real, é só seu coração pedindo água.
No fundo pouca gente está querendo alterar as coisas, mas eu quero tanto que quis um canto.
E desabrochar não altera?
**Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade
*Clarice Lispector
** Camelo (ainda mudo o autor desse blog.)
Um comentário:
"Agora fecha essa gaveta, se dá mais um ano. Essa saudade não é real, é só seu coração pedindo água." - Que coisa linda...
*suspiros*
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