18.2.10

Da jardineira

Era o calor que subia do asfalto ou havia uma névoa na avenida. O trombone pesava no velhinho, parceiro de tantos Carnavais. Na banda tocava-se cada um a seu tempo, e aquilo era tudo o que não podia me faltar na vida. As marchinhas estavam no acorde errado, ou era eu.

Os três dias de folia e brincadeira, eu pra cá e você pra lá, era só até quarta-feira. Aquela máscara negra que esconde do rosto a saudade nem saiu do armário, arlequim mal sabia por que chorava. No balancê tantos passavam sem despedaçar um coração, só restavam os mais de mil palhaços, cada qual segurando uma camélia, a sorrir no salão. Se fossem sinceros pulavam? Valsavam.

As cinzas vieram antes. Não posso mais.

Naquela esquina em frente à livraria não se cantou As Pastorinhas. Nem vi a livraria, confete ou serpentina, não ouvi o Abre alas. Eu devia ter puxado que “esse ano, meu bem, está combinado”, mas precisaríamos ter nos falado antes pra você perceber o recado. Então quando notei inventei uma coreografia solo não para revolucionar a festa, mas por não ter par. E a turma toda grita, que no barulho não se ouve nada mesmo - colombina, onde vai você? E ao me ver já estava dando a volta na praça, tamborim de um lado, o surdo a bater, cantando o refrão até o amanhecer: “gentileza é assim, eu cuido de você e você cuida de mim.”

Foi um último gole. Foi bom te ver outra vez, só não posso beijar-te agora. Não me leve a mal. Quero cantar até decorar que esse mundo é todo meu para de novo poder pular o Carnaval.

Lala-iá lala-iá, lala-iá lala-iá, lala-lalala-laiá. Hey!

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