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Uma van passa a centímetros do seu nariz e a metade de um homem pendurado pela janela grita: “Santa Cruz?”. Na velocidade em que vinha continuou e ela pensa que se quisesse ir para Santa Cruz teria que correr pelo meio da rua e entrar no veículo em movimento tal qual Pequena Miss Sunshine. Sendo honesta confessa intimamente que isso aconteceu logo depois, no primeiro instante o pensamento foi – eu estou com cara de quem sai do Centro às oito da noite a caminho de Santa Cruz? Ainda que fosse verdade, gostaria de estar parada na calçada com jeito de quem vai tomar um drink no Fasano. A produtividade feminina nas grandes empresas subiria se nos benefícios fosse incluído um maquiador. O terceiro pensamento é reescrever os direitos humanos.
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Senhora, cuidado! Sua barriga está escorrendo entre a calça esturricada e a blusa de lycra. Pede aos garotos a seu lado para, por favor, falar um pouco menos alto? Condutor, saia. Exija treinamento para que os trens se movimentem da forma como foram planejados e não engasguem a cada duas estações – as freadas promovem um contato físico forçado entre os passageiros que viajam em pé e podem derrubar os mais frágeis, o que geraria uma cena bem engraçada no entanto incorreta. Vocês – todos – parados na porta do vagão: se não pretendem descer na próxima estação desocupem imediatamente o caminho ou os empurrarei. Senhor, sem puns. Calcula que os usuários de transporte público sofrem um problema crônico de gases na mesma proporção que motoristas com insufilm produzem muita meleca e reconhece que precisa criar a playlist “manhã” para evitar raciocínios desse tipo.
Coloca Pixies no Ipod e na chegada à Carioca a massa sobe as escadas batendo palmas e dançando à la eighties, segue pela Avenida Chile, os grupos dividem-se para caber nos elevadores do prédio e correm para suas baias pulando nas cadeiras de rodinhas.
Desliga o Ipod. A fantasia é brutalmente esmagada pela rotina assalariada.
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