18.12.10

Tout ça m'est bien égal

Então, Cherie, isto é o ensaio aberto de linhas para você. Só nos veremos agora quase em fevereiro! Pelo mesmo motivo que não desejei feliz natal ou ano novo tampouco farei contas. Sei que você entende.

De tão entediada já dei banho no cachorro três vezes essa semana. Ele começa a me olhar com a mesma cara de quando eu torcia pra que a mania de morder tudo ao redor acabasse. Um dia o segurei no ar, mostrei os quilômetros de brinquedos pelo chão e perguntei: você tem tudo, por que diabos insiste em querer sempre alguma outra coisa? Percebi a armadilha e acho que ele fez “humpf”.

Como uma delinquente dei play na música sabendo que aquilo traria recordações. Queria sentir saudade dos emails bêbados, gargalhadas de dia seguinte, Something que não fosse Beatles. Sinto é uma coceira nas pernas e essa cigarra cantando até explodir. Coitada da cigarra. Será mesmo que o barulho é indício de calor ou a pobre só está agindo como sua natureza? Uma de nos checará no Google. É péssimo que em um dado dia você se pegue em um flashback e imediatamente se acuse de estar exatamente igual ao que estava há um ano. Ou a sempre.

Cobraram-me um texto noutro dia. “O texto de fim de ano”, ela disse. Uma querida! Não quis desapontá-la, ela deve entender. A música do teclado dá saudade quando não toca mais, vez ou outra forço uma tentativa de aplacar o incômodo desse blog não atualizado e vem uma vontade de dizer aos leitores “sua atenção é muito importante para mim, no momento todos os neurotransmissores estão ocupados, por favor volte mais tarde”. Ou vontade freudiana que às vezes é só uma vontade ou Duchamps caberia melhor? Humpf. Desejo, necessidade titânica, anestesiada, vira um pensamento-nuvem. Dissipa-se.

Quero dizer que não haverá retrospectivas? Perceberão, certo? Sem mais delongas a ausência delas dirá, com menos graça e redemoinhos, que seguimos. Sem fogos, mais uma folha arrancada no calendário de parede - não fosse o celular meu único recurso externo a marcar o tempo. Não começamos mais novas agendas da Company, no Outlook o último dia de dezembro é atualizado à meia-noite pelo primeiro de janeiro como se fosse abril, nenhum rito de passagem. Triste a vida dos que nada celebram, não? Entendo.

Fôlego é o que tomo todos os dias, brindemos no café da manhã!
Pour moi, croissant et fromage. A tout a l’heure.

Um comentário:

Julieta disse...

eu estava no exílio em Nantes quando li esse texto pela primeira vez. Depois reli outras tantas, concordando, rindo, me emocionando. Ontem, depois de ouvir Marina Lima cem vezes e de reler Caio Fernando Abreu, encontrei um trecho que achei ideal pra te enviar, mas aí lembrei que você já o publicou aqui no blog alguma vez, então acabei ficando 2 meses atrasada e sem nada pra te dizer. Meio bocó, né? I know. Meet me chez Bernardo, lá o mundo tem razão!