30.12.11
26.12.11
As monções
Foi em dezembro de 2011, quando
um especial de música evangélica substituiu o Rei no horário nobre que tudo começou. Ne verdade
deve ter sido um pouco antes, mudanças assim não acontecem em um estalar de
dedos, mas estávamos todos checando o Facebook então só ali nos demos conta de
que Suzana Vieira andava quieta, e ainda
vinha mais chumbo grosso.
Anos antes já existia a brincadeira de que o
El Nino faria o mar transbordar, Petrópolis seria a nova orla, achamos fashion
os cachecóis passarem a integrar o vestuário feminino metro-paulista –me-acho-cool-sexual, foi
ótimo poder usar botas de cano alto sem precisar sorrir monalisamente a cada
piadinha estilo “deixou o cavalo lá fora?”. A garota de Ipanema ainda tinha
marcas de sol, bronzeamento artificial era coisa de ex-BBB e simpatizantes ou
tema de episodio de Friends, até que naquele ano o Natal chegou e Papai Noel não.
Dias depois, diante de um povo incrédulo de guarda-chuva, o bom velhinho surge de bicicleta explicando que também tem problemas com GPS e precisou parar para comprar um mapa. Não foram as obras nas ruas nem os valores abusivos que o confundiram, aquela terra nublada de gente desbotada é que não podia ser o balneário carioca de sempre! Onde estava o verão?
Dias depois, diante de um povo incrédulo de guarda-chuva, o bom velhinho surge de bicicleta explicando que também tem problemas com GPS e precisou parar para comprar um mapa. Não foram as obras nas ruas nem os valores abusivos que o confundiram, aquela terra nublada de gente desbotada é que não podia ser o balneário carioca de sempre! Onde estava o verão?
Alguns apontaram as baixas
temperaturas como mais um indício de desenvolvimento, outros quiseram colocar panos
quentes sobre a situação alegando ser decorrência do fortalecimento da classe C,
mas nem os ambulantes do Centro aguentavam mais vender guarda-chuva nem as UPAs tinham mais remédios para as micoses
causadas pelas poças pisadas pelas sandálias das moças. Chico abriu a turnê
apontando para as nuvens nos versos “o que eu quero é lhe dizer que a coisa
aqui tá preta” e temeu ter que trocar o patrocínio da cervejaria por vitamina C.
Enquanto Caetano opinava sobre a situação Gil achava tudo uma coisa linda, o
poder daquela transformação do ser. Com uma enorme preguiça de tocar samba as
rodas pós-praia se dedicaram ao chorinho, das areias eternamente úmidas
chegavam desolados cidadãos desorientados com quarenta e oito horas por semana
para preencher sem mar (o pior que podia acontecer seria virarem paulistas, dia
e noite só com uma breja no bar). Elas continuavam batendo nas pedras, as
ondas, mas já pareciam os estranhos porta-retratos digitais - um shuffle de
bons momentos em imagens do passado. Até quando fazia calor não aquecia
vontade.
Foi então que Eike decidiu tomar providências, Nizan Guanaes montou um roteiro, ao Ronaldo entregaram dúzias de ovos, uma verba X e o Beltrame em sacrifício. Sob as câmeras do Luciano Huck lá foi o gorducho como embaixador da cidade enquanto de seu apartamento no Leblon o governador Cabral preparava o Bope para invadir a Fifa, o COI e quem mais ousasse interromper a festa na floresta. Nunca ficou claro se houve uma falha no sistema ou os responsáveis pelo clima estavam mesmo ocupados aprendendo a dancinha do Michel Teló, fato é que ainda a tempo de ter suas famosas areias entupidas de frango para macumba ou consumo próprio na noite de réveillon Copacabana recebeu o sol. O gorducho voltou para sua cobertura na Barra, as demais praias sempre poluídas voltaram a ser passarela do bom e do mau gosto, aparelhos de ar condicionado voltaram a não dar vazão, chuvas torrenciais só no fim do dia, todo mundo tentando tirar o atraso na academia, toda aquela gente suada e malhada voltou a tomar sua cerveja de Havaianas e regata às oito da noite em pé no balcão do bar. Reclamando do calor todos voltaram a ser felizes, e aos 40 graus o Rio de Janeiro continuou sendo.
25.12.11
4.12.11
O descompasso do criador
O que aconteceu? Isso lá é época
de falar em Belo Monte? A revista de domingo lista cinquenta tendências do
verão e sobre a metade delas nunca ouvi falar, a própria estação parece
distante como Copa e Olimpiadas - vai acontecer, mas no futuro, medida de tempo
que não consigo dimensionar como também não visualizo bilhão. Distância sempre
foi uma referência complicada para mim, só passei a calcular um quilômetro quando
descobri que entre dois postos da orla tem oitocentos metros. Mas os verões,
esses eram fáceis! Estavam sempre a um palmo. Passados, bastava recordar os fatos
mais marcantes, futuros, era só contar os fins-de-semana: esse é o da festa, o
próximo o do show, depois tem amigo oculto, no seguinte é a escolha do samba, pronto,
movimentos circulares, zona sul de bar em bar. E agora cadê o bar? Cadê as
pessoas do bar? Cadê o verão?
Lamentando não ter casaco e uma
garrafa de vinho nos sentamos no estacionamento do cinema para admirar a Árvore
da Lagoa. Não houve problema na dublagem, estávamos mesmo em um sábado à noite,
começo de dezembro, embevecidos com a árvore. Achamos um pouco invasivas as
luzes que adentram as janelas da Epitácio Pessoa, e já que era para reclamar meus
companheiros desligariam o barulho que vinha do espaço ao lado. O barulho era o
samba do bloco do bairro, de onde estávamos víamos o primeiro ensaio onde muita
gente se espremia no escuro então saímos dali para jantar no restaurante que
vivia lotado, mas agora sobra mesa porque o dono abriu um com mais drinks na
redondeza.
Estava cheio de “lher-mu”, ele
disse sobre o evento barulhento, ao que rebati de imediato com um “não
frequento lugares com “lher-mus”” e ainda complementei que no ultimo ensaio fiquei
horrorizada com a falta de respeito dos que conversavam alheios à presença do
Monarco no palco. Eu mesma não acreditei nas minhas palavras. Virei praticamente
um João Gilberto, fevereiro me aguarda no Municipal! “Eu ainda não cresci”, ele
explicou sorrindo, notavelmente a léguas do meu mau-humor, e passei o resto do
dia pensando que não existe pressa nenhuma para que isso aconteça. Eu ainda não
envelheci.
Dia desses alguém brincou que o
Brasil está tão desenvolvido que atualmente faz frio em dezembro, mais dois
anos e montaremos bonecos de neve no Natal. Outra explicação cogitou estar o
tempo passando tão rápido que as estações não conseguiriam mais acompanhar, viveríamos
um problema grave de falta de sincronização. Pode acontecer. Quem garante que o
tempo das coisas deve ser absolutamente cartesiano e previsível? Vai ver o
ritmo do mundo desandou, sei lá, do meu ponto de vista as coisas parecem
bastante paradas. Acontece que pode começar uma guerra de vídeos com fundo
branco sobre a construção de hidrelétricas, a Fatima Bernardes deixar o Jornal
Nacional para entrar no BBB, não sobrar um ministro no governo Dilma e na praça
Tahir começarem a cantar Michel Teló, preciso que foquemos no que realmente importa
porque não estou pronta para viver de outono. Não adotei estratégia de
pacificação então, a quem de direito, peço o favor de soprar essas nuvens,
vamos empurrar essas cadeiras para o canto e abrir espaço no salão.
Como tocava na falecida Rádio Cidade: é verão no Brasil e a cidade ferve!
Como tocava na falecida Rádio Cidade: é verão no Brasil e a cidade ferve!
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