4.12.11

O descompasso do criador


O que aconteceu? Isso lá é época de falar em Belo Monte? A revista de domingo lista cinquenta tendências do verão e sobre a metade delas nunca ouvi falar, a própria estação parece distante como Copa e Olimpiadas - vai acontecer, mas no futuro, medida de tempo que não consigo dimensionar como também não visualizo bilhão. Distância sempre foi uma referência complicada para mim, só passei a calcular um quilômetro quando descobri que entre dois postos da orla tem oitocentos metros. Mas os verões, esses eram fáceis! Estavam sempre a um palmo. Passados, bastava recordar os fatos mais marcantes, futuros, era só contar os fins-de-semana: esse é o da festa, o próximo o do show, depois tem amigo oculto, no seguinte é a escolha do samba, pronto, movimentos circulares, zona sul de bar em bar. E agora cadê o bar? Cadê as pessoas do bar? Cadê o verão?
Lamentando não ter casaco e uma garrafa de vinho nos sentamos no estacionamento do cinema para admirar a Árvore da Lagoa. Não houve problema na dublagem, estávamos mesmo em um sábado à noite, começo de dezembro, embevecidos com a árvore. Achamos um pouco invasivas as luzes que adentram as janelas da Epitácio Pessoa, e já que era para reclamar meus companheiros desligariam o barulho que vinha do espaço ao lado. O barulho era o samba do bloco do bairro, de onde estávamos víamos o primeiro ensaio onde muita gente se espremia no escuro então saímos dali para jantar no restaurante que vivia lotado, mas agora sobra mesa porque o dono abriu um com mais drinks na redondeza.
Estava cheio de “lher-mu”, ele disse sobre o evento barulhento, ao que rebati de imediato com um “não frequento lugares com “lher-mus”” e ainda complementei que no ultimo ensaio fiquei horrorizada com a falta de respeito dos que conversavam alheios à presença do Monarco no palco. Eu mesma não acreditei nas minhas palavras. Virei praticamente um João Gilberto, fevereiro me aguarda no Municipal! “Eu ainda não cresci”, ele explicou sorrindo, notavelmente a léguas do meu mau-humor, e passei o resto do dia pensando que não existe pressa nenhuma para que isso aconteça. Eu ainda não envelheci.
Dia desses alguém brincou que o Brasil está tão desenvolvido que atualmente faz frio em dezembro, mais dois anos e montaremos bonecos de neve no Natal. Outra explicação cogitou estar o tempo passando tão rápido que as estações não conseguiriam mais acompanhar, viveríamos um problema grave de falta de sincronização. Pode acontecer. Quem garante que o tempo das coisas deve ser absolutamente cartesiano e previsível? Vai ver o ritmo do mundo desandou, sei lá, do meu ponto de vista as coisas parecem bastante paradas. Acontece que pode começar uma guerra de vídeos com fundo branco sobre a construção de hidrelétricas, a Fatima Bernardes deixar o Jornal Nacional para entrar no BBB, não sobrar um ministro no governo Dilma e na praça Tahir começarem a cantar Michel Teló, preciso que foquemos no que realmente importa porque não estou pronta para viver de outono. Não adotei estratégia de pacificação então, a quem de direito, peço o favor de soprar essas nuvens, vamos empurrar essas cadeiras para o canto e abrir espaço no salão.
Como tocava na falecida Rádio Cidade: é verão no Brasil e a cidade ferve!

2 comentários:

Julieta disse...

Adorei a teoria das estações do ano não conseguirem acompanhar o tempo. Arrisco a dizer, também, que Londres é aqui.

Luiz disse...

Lher-mu? De onde isso saiu?