O que aconteceu? Isso lá é época
de falar em Belo Monte? A revista de domingo lista cinquenta tendências do
verão e sobre a metade delas nunca ouvi falar, a própria estação parece
distante como Copa e Olimpiadas - vai acontecer, mas no futuro, medida de tempo
que não consigo dimensionar como também não visualizo bilhão. Distância sempre
foi uma referência complicada para mim, só passei a calcular um quilômetro quando
descobri que entre dois postos da orla tem oitocentos metros. Mas os verões,
esses eram fáceis! Estavam sempre a um palmo. Passados, bastava recordar os fatos
mais marcantes, futuros, era só contar os fins-de-semana: esse é o da festa, o
próximo o do show, depois tem amigo oculto, no seguinte é a escolha do samba, pronto,
movimentos circulares, zona sul de bar em bar. E agora cadê o bar? Cadê as
pessoas do bar? Cadê o verão?
Lamentando não ter casaco e uma
garrafa de vinho nos sentamos no estacionamento do cinema para admirar a Árvore
da Lagoa. Não houve problema na dublagem, estávamos mesmo em um sábado à noite,
começo de dezembro, embevecidos com a árvore. Achamos um pouco invasivas as
luzes que adentram as janelas da Epitácio Pessoa, e já que era para reclamar meus
companheiros desligariam o barulho que vinha do espaço ao lado. O barulho era o
samba do bloco do bairro, de onde estávamos víamos o primeiro ensaio onde muita
gente se espremia no escuro então saímos dali para jantar no restaurante que
vivia lotado, mas agora sobra mesa porque o dono abriu um com mais drinks na
redondeza.
Estava cheio de “lher-mu”, ele
disse sobre o evento barulhento, ao que rebati de imediato com um “não
frequento lugares com “lher-mus”” e ainda complementei que no ultimo ensaio fiquei
horrorizada com a falta de respeito dos que conversavam alheios à presença do
Monarco no palco. Eu mesma não acreditei nas minhas palavras. Virei praticamente
um João Gilberto, fevereiro me aguarda no Municipal! “Eu ainda não cresci”, ele
explicou sorrindo, notavelmente a léguas do meu mau-humor, e passei o resto do
dia pensando que não existe pressa nenhuma para que isso aconteça. Eu ainda não
envelheci.
Dia desses alguém brincou que o
Brasil está tão desenvolvido que atualmente faz frio em dezembro, mais dois
anos e montaremos bonecos de neve no Natal. Outra explicação cogitou estar o
tempo passando tão rápido que as estações não conseguiriam mais acompanhar, viveríamos
um problema grave de falta de sincronização. Pode acontecer. Quem garante que o
tempo das coisas deve ser absolutamente cartesiano e previsível? Vai ver o
ritmo do mundo desandou, sei lá, do meu ponto de vista as coisas parecem
bastante paradas. Acontece que pode começar uma guerra de vídeos com fundo
branco sobre a construção de hidrelétricas, a Fatima Bernardes deixar o Jornal
Nacional para entrar no BBB, não sobrar um ministro no governo Dilma e na praça
Tahir começarem a cantar Michel Teló, preciso que foquemos no que realmente importa
porque não estou pronta para viver de outono. Não adotei estratégia de
pacificação então, a quem de direito, peço o favor de soprar essas nuvens,
vamos empurrar essas cadeiras para o canto e abrir espaço no salão.
Como tocava na falecida Rádio Cidade: é verão no Brasil e a cidade ferve!
Como tocava na falecida Rádio Cidade: é verão no Brasil e a cidade ferve!
2 comentários:
Adorei a teoria das estações do ano não conseguirem acompanhar o tempo. Arrisco a dizer, também, que Londres é aqui.
Lher-mu? De onde isso saiu?
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