5.2.09

O tal do ataque de nervos

Eu não queria ter te matado, mas a verdade é que você me obrigou. Provocou. Testou meus limites. Desde a época em que você sorria de lado, os olhos semicerrados e um falar bem devagar naquele ritmo hipnotizante que me embriagava só pra estalar os dedos no meio do meu transe e pegar outra na minha cara eu previa isso. Quantas doses virei e bocas beijei em vão! Enquanto eu me achava a mulher mais malandra desse mundo por seduzir um figurante qualquer você usava minha vingança pífia como desculpa para seguir com o seu show.

O copo lindo de cristal espatifado na parede poderia ter ido parar na sua cara de pau por conta da pergunta cretina que sempre ironizava o meu ciúme – “isso é TPM?”. Eu não esqueço, meu anjo, a parte do casal incapaz de lembrar fatos e datas importantes sempre foi você.

Poderia ter sido pior, arrancar a sua cabeça separaria para sempre seus deliciosos lábios do seu confortável tronco onde por tantas noites eu dormi. Isso sim seria injusto, eu sempre soube que um era o perfeito complemento do outro e essa dupla só teria sido usada para o bem se não fosse a influência maligna de outras partes do seu ser. Eu compreendo.

Você teve sorte, coração, uma sobrevida longa e bem aproveitada desde a primeira vez em que me fez de boba. Um cara aí do trabalho não ligaria tantas vezes a menos que a empresa estivesse em chamas, e incêndios que requerem a presença de homens como você no meio da noite normalmente só acontecem na cama de vagabundas.

Por que negar, amor? Eu já tinha perdoado sua indiferença às minhas perguntas, os quarenta e três minutos ignorando meu discurso, aqueles homens correndo atrás da bola desviando seu olhar de mim, já estava tudo sob controle! Era só pedir desculpas e dizer que me amava, mas “paranóica” é uma acusação grave. Falta para cartão! Nessa linguagem você entende, baby? Convenhamos: antes ser descompensada do que cega, não é? Pensa bem, se eu fosse desprovida de visão teria sido a única mulher no Rio de Janeiro a perder o espetáculo que era você sem camisa jogando pelada com os amigos na praia, olha como o seu exibicionismo teria sido desperdiçado!

Até você parar de negar eu já tinha pensado várias vezes se conseguiria te atirar pela janela, mas a partir da sua confissão estávamos indo bem. Por que soltar aquela frase, meu amor? Estaria você possuído por alguma entidade? Quem em sã consciência pronuncia as palavras “é por você ser assim que eu acabei me apaixonando por ela”? Seria uma tentativa velada de suicídio? Você realmente fez isso comigo?

Minhas mãos milagrosas que você tanto gostava, as unhas vermelhas que antes te acariciavam apertaram a sua goela e agora, querido, você nunca mais vai me enlouquecer. Eu avisei que um dia essa fase ia passar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bruna, por mais egoísta que isso possa parecer, adoro quando vc escreve com raiva (ou como se estivesse com raiva...hehe).
Beijos

Anônimo disse...

Hahaha, sensacional! bjs, Fernanda