Imagina se sua empresa tivesse promovido um Dia das Crianças no escritório. Seu escritório ficasse em um prédio com nove andares e em cada um você tivesse contabilizado cerca de 100 pessoas. 100 porque viu uma multidão sentada em baias olhando para computadores, nem enxergou o final da sala então pensou logo na centena, parâmetro numérico possível pra quem só sabe que um metro é menos do que sua altura, dois equivalem a um homem enorme, a ciclovia da Lagoa tem oito quilômetros, entre um posto e outro na orla são oitocentos metros e a régua da escola tinha trinta centímetros.
Digamos que no tal dia os colaboradores levassem seus filhos, então atrações seriam organizadas para diverti-los, pipoca, sorvete e flores fossem distribuídos (e você logo desconfiaria que as flores envolviam algum clichê cafona). Enquanto você estivesse lendo os emails do dia, garotinhos louros e meninas de cabelos cacheados correriam pelo corredor gritando porque crianças não andam nem falam baixo. Como idéia genial para diminuir os decibéis você organizasse uma sessão de Lua Nova, convocasse o publico mirim e saisse como o flautista de Hamelin guiando todos até a distante sala de TV proporcionando a volta à normalidade antes da primeira telespectadora sair gritando “mãe, sangueeeee!”.
Digamos que inicialmente você sugerisse aproveitar a mão-de-obra extra e distribuir tarefas atrasadas entre eles como uma gincana: quem arrumar o arquivo primeiro ganha um calendário! A melhor resposta para idéias inúteis vale um porta-crachá! – mas no meio do dia admitisse que as crianças até dão um clima de humanidade ao ambiente.
Digamos que ao tirar os tampões de ouvido, melhor mimo oferecido pela TAM, ouvisse o espanto provocado pela visão de uma máquina de biscoitos na saída do elevador: “papai, você come isso o dia todo?”, que é diferente de dizer que isso é tudo que papai come em quase todos os dias.
Digamos que o encantamento dos filhos por desvendar o tão famoso “trabalho dos pais’ fizesse você se lembrar do que representava ir trabalhar com seu pai na cidade anos atrás. O Centro era um vai e vem de pernas cinzas onde você tinha que dar muitos passinhos rápidos segurando a mão dos adultos, pessoas se abaixavam para te olhar e davam papeis de rascunho para você desenhar em mesas por onde era levada de uma em uma para ser apresentada, sempre fascinada pelas maquinas enormes de escrever que eram terminantemente proibidas para menores porque acabava a fita.
Digamos que apesar de considerar aqueles papéis-carbono muito glamourosos você ficasse observando o cenário e decidindo que quando crescesse não queria nada daquilo, planejasse um futuro colorido, pessoas em movimento, imaginasse um trabalho em que cada dia fosse diferente do outro e não houvesse paredes sem janelas.
Digamos que um dia você se visse trabalhando com sono por ter passado a noite tentando comprar ingresso pro show de um Beatle, depois de duas Neosaldinas se rendesse, recostasse na cadeira e ficasse vendo as crianças brincando de aviãozinho. Ainda insistiria em falar das coisas que aprendeu nos discos ou essa lembrança seria o quadro que dói mais?
Um comentário:
Gostei muito deste post! É meu preferido agora! haushaushah
Parabéns e obrigada por me distrair de vez em quando. =)
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