Ele estava no escritório quando ela ligou: “Estou indo
embora”.
Cinquenta e três minutos depois
ele chegava ao apartamento. Armários organizadíssimos – simetricamente vazios. Não
era na mala que ele queria que ela guardasse as roupas que insistia em deixar
espalhadas. Nada no chão, só tristeza no ar. Nunca fez tanto sentido dizer que
o transito de São Paulo era de matar. De matar reconciliações.
“Se você tivesse chegado eu não teria
partido”, ela explicou, por telefone, de Buenos Aires, depois que a mágoa
baixou. “Teríamos nos entendido naquele dia, não no seguinte. No seguinte
discutiríamos pelos mesmos motivos, eu choraria, você sairia de casa carregando
a certeza de que nossa convivência era um erro, os anos se passariam. Prefiro
que eles passem sem arrastar discórdia”. Foi a primeira vez, das tantas em que
conversaram desde o inicio, em países tão diferentes quanto os dois, que
falaram sem a ilusão romântica de que a paixão move montanhas. Ela move a
indústria farmacêutica, os consultórios psiquiátricos e o mercado de cinema.
Só. Sem ela, ele seguiu, e chegou à teoria que move a espécie humana ocidental.
Homens são incansáveis
predadores, espécie admirada nos vestiários masculinos pelo louvável hábito conhecido
como “pegar geral”. Matematicamente, para cada garanhão destes corresponde em
igual numero uma mulher. Culturalmente pode-se aceitar a ideia de que parte do
total feminino não é tão ativa assim, o que leva à logica de sobrar para a
outra parte das mulheres a porção dispensada pelas primeiras. Em uma comparação
quantitativa, o universo de moças em atividade tem mais trabalho a fazer para
dar conta de seu quinhão do que os auto-proclamados “pegadores”. Estes
desdenham das bem sucedidas na tarefa, sem pensar que elas só estão mantendo
viva uma cadeia alimentar.
Coube a ele aqui, e a ela lá,
voltar a essa roda viva em busca de um par. Ele sabia que aquela dor era uma
questão de tempo, sempre teve a certeza de que ela não era a mulher dele. Nada
relacionado a pertencer ou não ao grupo das ativas. Na verdade, apesar da lista
de motivos que os dois poderiam em segundos elaborar, não havia de verdade nada
relacionado a ideologias politicas, gosto cinematográfico, hábitos alimentares
ou opiniões. São essas certezas que temos sobre essas pessoas que esperamos. As
tais certezas que nos guiam, ou nos levam à perdição.
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