Primeiro foi a Rita, depois a
Dora, agora essa de quem nem soubemos o nome.
Viveram um tempo com eles, os
fizeram felizes e num belo dia partiram sem grandes explicações. Uma levou seu
retrato, seu trapo, seu prato, uma imagem de São Francisco e um bom disco de
Noel. A outra levou tudo que ele disse que já iria lhe dar. E a mais nova,
apesar do Spotify, levou alguns CDs e o livro “mais da hora”. Isso além de
planos, os pobres enganos daqueles meninos de vinte anos e (ai, o meu...) seus
corações.
Eles ficaram desorientados
abandonados, alguns mais e outros menos conformados, mas todos sem entender. O
Chico acha que foi por vingança, Jorge taxou logo de “danada sem coração” e o
Rashid ficou olhando para o bilhete onde ela dizia que partiria e jamais o
esqueceria.
O Chico deixou de sorrir, ficou
sem assunto, até o violão emudeceu. Jorge se compadeceu dele, daqueles
compadecimentos onde o outro já vai logo contando uma historia de si mesmo que
julga mais grave, e foi assim que soubemos da Dora. O homem parecia sofrer
menos de saudades e mais por não ter tido seu esforço reconhecido, sua dor era
pura interrogação: lhe dedicara trova, soneto, samba-canção, lhe dera máquina
de lavar, um corpo morrendo de amar e sem qualquer explicação fora abandonado
(vai ver ela só queria o tal presunto!). Ele ainda buscou na passadeira
Sebastiana uma cumplicidade que louvasse seu empenho, mas de nada adiantou. Ao
fim de poucas estrofes, porém, já caminhava para a recuperação: “se não deu pra
gente ficar junto, é um lá outro cá”. Vida que segue.
E então, comprovando que há
sempre alguém sofrendo por amor na fila do metrô, surge no dial (apesar do Spotify)
mais um. Depois de trocar tantas noites pelo dia com ela, Rashid ficou só. Pensou
que seria para sempre e agora pensa em como foi e como será daqui em diante, sentindo
que perdeu a metade de si, rindo para não chorar do que ela deixou ao partir
sem dó - guloseimas, um DVD e o toca-discos. Não pegou um violão, mas papel e
caneta, colocou mais versos no seu rap do que os antecessores nos respectivos
sambas e sem nem entrar no mérito do que é direito de cada um concluiu logo,
poupando choramingos e bradando orgulho: se ela já deve estar em outro lugar,
vale tentar logo ocupar aquele espaço porque tem muitas outras por aí. “Quer ir
embora? Pode ir, mas devolve meus bagulho!”
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O bilhete do Rashid está aqui. A Rita do Chico e o Samba Que Nem A Rita À Dora, do Seu Jorge/Luiz Carlos da Vila, não tem link oficial no YouTube. Para não incentivar a pirataria, deixo por sua conta a busca!
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