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Cinco da tarde de uma sexta-feira no cinema Leblon. Não era Superman ou outro super-herói, mas o público que não lotava a sala foi ao delírio no final. Também não eram cinéfilos de Festival do Rio ou Estação Botafogo, dados a exaltações durante as sessões. Ouvi u-huuus e palmas! Um cambada de desajustados invadiu o cenário da novela das 8! As famílias não são perfeitas nas tramas de Manoel Carlos, mas a classe alta carioca está indo ao delírio com Pequena Miss Sunshine? Ok, parte dela. E com eles voltamos às críticas de cinema. Cotação: bonequinho fazendo dancinha estranha. Isso é bom.
Não leia a partir daqui se você ainda não tiver visto o filme (inclusive, saia da frente desse computador e vá ver).
Pode ser difícil explicar o que acontece, primeiro também vou ter que recuperar minha consciência. Por partes. É um script que prova ainda haver vida inteligentemente ácida sobre a Terra, guardem o nome do roteirista estreante Michel Arndt. Humor negro é sempre bem-vindo, o politicamente incorreto precisa resistir. Tem momentos não-verbais que mostram existir o silêncio inteligente além do diálogo igual, guardem um Oscar para Steve Carrel. Um casal de diretores de comerciais e clipes que levou quase 5 anos para viabilizar seu primeiro longa – esse! Não sei se Jesus was wrong como diz a camiseta, mas o personagem que a usa está certíssimo e até o final feliz dele incentivado por Proust é quase piegas e bom. O que acontece em um final feliz na vida real? Melhor frase: “Go hug Mum”. Comprei um caderninho. Não vou parar de falar, mas acho que vai melhorar a comunicação.
Pequena Miss Sunshine pode ser o retrato da família mais disfuncional que você já viu, e é um retrato hilário. Até que as gargalhadas dão lugar à lágrimas aqui e ali na platéia, e os disfuncionais vão reconhecendo a tragicomédia que pode ser a vida em casa. O filme foi feito para quem tem certeza que um dia sua família vai levá-lo à loucura e se impressiona que aquele bando de atrapalhados sempre consiga fazer com que tudo acabe bem. Aviões partem todos os dias para todos os lugares do globo, é estranho que tão pouca gente fuja e mais estranho ainda que tanta gente volte. Vai entender... Pode ser como diz a crítica do NY Times: talvez família que tome Prozac unida permaneça unida, o certo é que família que anda unida numa Kombi cor de banana tem maior valor cômico. Cinema é a maior diversão.