22.4.07

Resíduos

Dos tantos anos, o saber-se amada. Do pouco tempo, a espontaneidade. De tanta convivência, as lições do machismo feminino. Daquela montanha, o ainda poder ser qualquer coisa. Daquela casa rosa, a porta sempre aberta. Daquela idade, a dor e a delícia de ser especial. Daquele amor, as declarações que não são feitas em forma de eu te amo. Daquela paixão, a transitoriedade dos sentimentos. Daqueles cigarros com um copo de whisky, a ilusão tão certa de que depois dá-se um jeito. Daquelas noites, a solidariedade feminina. Da grama verde do vizinho, a nota fiscal da loja de produtos artificiais. Daquele Carnaval, permissão e a máscara para ser feliz. Daquela união, uma pista sobre seu lugar no mundo. Daquele encontro, o calafrio de um olhar intraduzível. Daquela dor, o alerta de sinal vermelho. Daquela estrada, horas de vôo. Daquele adeus, a vontade de um novo encontro. Daquela brincadeira, a necessidade de novas regras para o jogo. Daquela decisão, a sentença da certeza interna. Daquela floresta, o livro de ouro dos mosqueteiros. Daquele amadurecimento, a tranqüilidade de só ser quem você já é. Daquelas palavras, uma esperança. De Drummond, a próxima frase.
De tudo, ficou um pouco.

Nenhum comentário: