Você descobre que é hora de acabar o ano quando passageiros de um avião se rebelam e começam a berrar com os comissários porque a neblina impediu o pouso em São Paulo. Vindos de Londres, os viajantes não queriam descer no Rio de Janeiro: “vamos nos assustar com aqueles presépios! Toca pra Viracopos!”. Semanas antes, no dia da final do Brasileirão, Herbert Vianna assumiu o microfone da aeronave na qual voava e puxou à capela o hino do Flamengo, transformando a ponte aérea em uma jam session. Dezembro estressa.
No mais perfeito clima Al Gore falou, Al Gore avisou, a estufa carioca não tem mais sol, uma lama provocada pelas chuvas semanais cobre os caminhos por onde Madonna pisou e o choque de ordem previsto para as praias faz aumentar o preço das cadeiras que não estão sendo usadas. As garotas de Ipanema não tem marca de biquíni (ou essa garota cresceu e trocou as areias nubladas por um escritório com ar condicionado quebrado?).
A década vai acabando e só me dou conta de que o bug do milênio é passado distante quando a playlist que mais anima as festas tem o nome de “músicas anos 90”, nostalgia indicadora de que aqueles adultos viveram bem suas adolescências. Correm na web listas de retrospectiva, “os dez mais de qualquer tema”, e nem sei se o Cold Play é coisa de agora ou tempos remotos, aqueles onde líamos jornais em papel. É melhor parar o texto por aqui, resistir à pressão de refletir e avaliar e planejar – depois do dia 31 vem o dia 1 como em qualquer outro mês.
Ao contrario do que diz um estudo de saúde pública da Austrália, Papai Noel não precisa perder peso nem trocar o trenó por bicicletas para servir de exemplo para as crianças. Deixem o velhuxo beber sua Coca-Cola, delegar as funções aos duendes e continuar com o olhar condescendente que só alcança quem já chutou o balde. Ele tem um sorriso feliz.
Tente se manter são nesse Natal.
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