31.12.09

The October issue

Tínhamos acabado nos conhecer, Catarina e eu, e almoçávamos em Napa, quatro taças mais leve – três e meia, que do Zinfandel não gostei. Ainda ríamos do simpático responsável pela vinícola que defendia a idéia de que uma garrafa de vinho aberta deveria ser consumida naquela mesma noite, no máximo duas depois, e quem não é capaz de fazer isso que beba Bud Light. Foi logo após essa lição que Catarina veio ver minhas anotações: “você está estudando vinhos?” De certa forma sim, mas na verdade só entendo o que escrevo então à medida que nosso guia ia falando eu ia anotando – e bebendo.

Então eu era brasileira, férias na Califórnia, e ela, o que fazia? “Nada. Vou morar na Toscana.”

Saímos andando até a área permitida para cigarros, onde estava Patrycia. Em Wine County se pode beber dentro dos lugares e fumar fora deles, jamais os dois juntos. Patrycia também não fumava, mas ali estava para conversar. Havia tirado três meses dos seus oitenta anos para dar uma voltinha, gostou muito de Salvador e Havana, aquela era a última parada antes de retornar a Sidney, Austrália. Com um inglês enrolado nos contou que viajar era o passatempo preferido dela e do marido, falecido oito meses antes. Passado o luto ela manteve o hábito, é o que gosta de fazer. Agora ia sozinha com seu casaco de nylon branco e cabelos no mesmo tom.

Catarina se mudaria para a Toscana com o namorado. A filha estava criada tentando superar a crise econômica na Flórida, nasceu quando ela tinha vinte e poucos anos e trocou a idéia de trabalhar na ONU por uma paixão mexicana. A nova paixão era do ramo de turismo e quicava pelo globo, quanto tempo mais ela se prenderia a estafantes reuniões de apresentação de resultados e análise de riscos em multinacionais? “Descobri que mais da metade do meu dia eu passava resolvendo problemas que para mim não representavam ameaça alguma. E que a Toscana é extremamente agradável”.

A nova cidadã italiana terminou seu cigarro, passamos em mais alguns oásis de Baco e voltamos a San Francisco. Ao descer do ônibus, Patrycia se despediu: “girls, stay safe.”

À noite achei, jogada dentro da mochila, a bateria da câmera que pensei ter deixado no hotel. Não tenho uma só foto dos intermináveis vinhedos e suas rosas! Alguns momentos são irretratáveis e inesquecíveis. Preste atenção.

You too, Patrycia.

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