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Mas o texto que fez a amiga se lembrar de mim falava sobre ansiedade - algo totalmente aplicável à minha pessoa e, ao que parece, à Fernanda Young.
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Em pé na areia escaldante do Leblon, música alta, sal secando ao sol, um garotinho se aproxima de mim, típico personagem. Ele me oferece a cerveja que segura, eu faço que não com a cabeça, ele começa a mexer os lábios, eu tiro um fone do ouvido: Você não bebe? Não, sorriso amarelo de ponto final. Mas posso lhe conhicê? - me estende a mão - eu sou Rénan. Olhei ao redor - não tinha uma gangue por perto, não era para me distrair. Não tinham câmeras por perto, não era uma pegadinha. Há tanto tempo não ouvia alguém usar o pronome “lhe” que chacoalhei a mão de Renan e quase invejei aquele estufar de peito nordestino do conquistador neo-carioca. Como carioca-com-muitos-anos-de-praia, rapidinho recolhi minhas coisas e fui embora meditar em outro canto sobre a minha condição de pior que Fernanda Young.
Voltei para casa derretendo, pensando que até em avião os conversadores respeitam fones de música, agora nem controlar a ansiedade em paz é possível. E de repente ri da cara-de-pau do jaguncinho. Rénan podia achar que é numa dessas que se começa uma grande amizade, que assim nasce um romance, que não há melhor companhia para uma tarde na praia. Ele podia estar deprimido e resolveu chutar o balde, podia estar feliz da vida e quis compartilhar, podia estar numa terça-feira na praia sozinho tomando uma cerveja e resolveu puxar papo com a menina sozinha ao lado que ouvia música. Simples assim. Mas para alcançar essa simplicidade ele precisou de um desapego, de uma esperança, uma ingenuidade, uma segurança, uma tranqüilidade, uma determinação! Ou não, precisou de um gole, um mergulho e nada a perder.
A Fernanda Young otimista tem razão. Por causa dessa interminável agonia nem perdemos só pessoas e oportunidades, perdemos tempo. Desperdiçamos muita energia com uma obstinação às vezes desmedida. Uma coisa é correr atrás, a outra é rastejar, se esgoelar, achar que a vida não tem sentido sem aquilo. Tem. A vida só não tem sentido sem graça. E para ter graça, é preciso leveza de espírito. Para o resto dar-se-á um jeito.
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(recorte dos tempos Tribuneiros, e terças de sol.)
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