22.3.12

Os moços do meu tempo (ou do tempo do Tribuneiros)



Para Nanda, Lalol, Olga e Pinha. CA e Pim, para Pian, Bruno Menezes e João Paulo Duarte.
De 2006.

Isso não é uma revanche. Os moços do meu tempo, Dondon, ainda gostam muito de competir, mas hoje vamos aplicar uma lição de antes do seu tempo. Porque olha o que encontrei nas conversas do Jobi, moços querendo um amor! Olha esses rapazes tão vaidosos malhando os braços e esquecendo-se das pernas, falando das “mulezinha” e tirando onda com os “muleque”, quem diria que andam sonhando com um beijo gostoso, um abraço apertado daqueles que tira os pés do chão mas que não acabe depois da noitada. Andam muito intransigentes nessa escolha, pior do que donzelas à procura do príncipe encantado, não perdoam um deslize e chamam tudo de deslize! É, Dondon, os moços do meu tempo não mudaram muito desde sua época não, são sempre os mesmos sonhos de quantidade e tamanho. Mas evoluíram, quase acreditam que podem chorar. Ainda não debatem relacionamento mas já aceitam conversar se lhes interessar que tudo acabe bem. Então vamos aplicar nessa conversa a teoria dos jogos, porque falta a eles um manual de instruções. Virou uma guerra o relacionamento entre damas e cavalheiros, e os dois só querem um olho no olho, dançar junto e serem felizes para sempre.

Os moços do meu tempo esperam um dia ser pais de família, um dia... Só não sabem ao certo onde guardar as fotos das micaretas que a musa curtiu com as amigas, e engatinham na arte de fazer o papel de marido nas festas do trabalho dela. Esses moços têm uma sorte: se não quiserem, nunca precisam amadurecer porque o relógio biológico não está em contagem regressiva e não lhes impõe decisões fundamentais bem cedo. Dizem-se confusos, não sabem o que fazer com meninas tão loucas para provar que são capazes de viver sem eles. Diz o Xico Sá, para quem homem que é homem não sabe a diferença entre estria e celulite, que o primo lá da zona leste de São Paulo não anda perdido diante da mina gostosa que ele conduz até o terminal. Por aqui elas bradam que não querem o dinheiro deles, que não precisam de cuidados e agora inventaram de experimentar antes de decidir, mas dão chilique se não são tratadas como princesas. Não entendem nada, esses moços, e ficam ali babando enquanto elas dançam até o chão. Troço tão simples: elas querem que eles reparem na unha feita mas não a ponto de elogiar a mistura de Café com Rebu! (E se algum moço perguntou o que é isso, salvou-se uma alma no purgatório). Estão muito perdidos esses moços, não conseguem acompanhar os vários assuntos que elas falam ao mesmo tempo, não sabem se passam creme ou cospem no chão, se preferem um terno do Ricardo Almeida ou a camisa furada de ontem, se pedem caipirinha com adoçante ou saem por aí pegando geral fingindo que o descartável preenche o buraco no peito.

Juram que têm pavor de aliança, mas quando as moças decidem viver tribalisticamente sem pensar no casamento dizem que elas são descontroladas. Eles não sabem se quando crescerem serão machos-provedores ou coadjuvantes da pós-revolução feminista. Acreditam em todas as façanhas contadas depois do futebol e nunca conseguem fazer em casa o que vêem na TV. Aí perdem a paciência, em Salvador tudo é mais fácil. Para eles tudo tem que ser simples, e quase sempre é, Dondon, graças a uma enorme e invejável capacidade de abstração. Mas as moças adotaram o discurso que por séculos ouviram deles, e aí eles chamam de arrogância o certo ar cruel de quem sabe o que quer que elas têm ensaiado para conquistá-los. Deram para dizer até que elas não prestam! Moças, hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás, eles ainda querem uma lady na mesa. Ora veja bem, se são as mulheres que têm o dom de iludir nessa enchente de canalhas líricos ou mesmo de malandros banais. Não sabem perder, Dondon, eles não aprenderam o que fazer quando desiludidos. Por isso saem pela vida com suas quadrilhas, cheios de hormônios adolescentes, caminhando na ponta dos pés como quem pisa nos corações. São todos ótimos em despertar sentimentos com os quais depois não sabem lidar.

Os moços do meu tempo, Dondon, são eternas crianças. Ainda não pedem informação quando perdidos, não conseguem guardar as roupas e sempre tentam driblar a camisinha. Jogam Playstation no sábado à noite enquanto deixam as moças cheias de caraminholas na cabeça especulando onde andará o meu amor. De resto é balela, eles sabem de cor o número para ligar no dia seguinte, pagam o jantar com um prazer que pula dos olhos, esperam pacientemente e não se desencantam com a tórrida noite por mais precoce que ela tenha sido. Desde que, bem entendido, eles queiram mais. Porque, caso contrário, eles simplesmente “não estão a fim de você”. Mas quando estão, coisa mais linda, Dondon, um moço deitado no colo da moça nem aí para a inveja dos camaradas.

5 comentários:

Lalol disse...

:)

Unknown disse...

Por dentro, com a alma atarantada, sou uma crianca, nao entendo nada.

Leticia Wahmann disse...

curto mto !

Carlos Andreazza disse...

Ô, tempo bom...

Olga disse...

Bruna, são muitas as saudades!Um beijo enorme, com os olhos rasos d'água!