7.3.12

Quase tudo


“Todo mundo desmaia agora!” Aproximava-se uma pessoa chata. Eles tem essa mania de que as pessoas ficam chatas, é dificílimo acompanhar os status e morro de medo de um dia a maldição cair sobre mim. À ordem dela desmaiamos imediatamente soltando nossos braços e cabeças sobre as cadeiras da praia, fechando os olhos e acho que entreabrindo um pouco a boca – não deu para reparar bem, mas a minha interpretação desconfio que tenha sido assim. Quando autorizada nossa volta soubemos que o representante do perigo voltaria à beira-mar pelo mesmo caminho, precisávamos de atenção. Ela conhecia o itinerário porque foi assim que os dois haviam se encontrado semanas antes, quando a visão dele ainda trazia felicidade – ele ainda não era chato e, ela insiste, era malhado.
 
Desconfio de poetas sarados, não tanto por preconceito, mais por estereótipo mesmo, e argumentei que um corpo não decairia em tão pouco tempo, mas ela estava certa de que as costas do menino estavam agora flácidas e a decadência corporal não tinha a ver com a quase-desilusão amorosa. "Quase" não por ter sido pequena, mas por pertencer à sua quase-vida amorosa. Não nos restou outra alternativa além de aguardarmos o retorno do corpo para análise durante um re-desmaio.
 
Além de ter sido personagem da quase-vida amorosa dela o moço tinha adotado uma estratégia duvidosa durante a noite anterior. Um poeta sarado na mesa de um bar movimentado que levanta a camisa e acaricia a barriga para chamar a atenção de sua presa depois de falidas tentativas de jogar saquinhos de sal na cabeça dela não parece expert em sedução. Não parece originalmente sedutor. Não parece nem legal. Não que esperássemos frases bonitas ou textos rebuscados, essa era a tática de outro personagem da quase-vida amorosa dela, apenas consideramos auto-acariciamento e brincadeiras ginasiais esquisito. Acontece que o ato não funcionou como conquista, mas foi imbatível como diversão e passamos a tarde interrompendo diálogos com rápidas imitações da cena, em um estilo Latino featuring Ricky Martin. Quase compensou perder o pretendente.

Apesar de ter uma quase-vida amorosa temos pretendentes, o que é melhor do que nada. Os pretendentes não geram passarinhos de animação voando ao nosso redor em dias ensolarados ou meios que produzam finais felizes, na verdade mal geram as doses diárias mínimas recomendadas de serotonina e por uma infeliz equação de erros + memória quase achamos isso bom, mas geram tardes divertidas. Falando sobre eles, não com eles. Às vezes nós quase preferimos que um desses acerte o alvo e mude o jogo.

Antes que passássemos a preferir ela avisou que o poeta chato já tinha voltado como previsto e não tínhamos percebido. Só nos restou então fazer mais uma vez a imitação de Latino featuring Ricky Martin e revermos nossa opinião sobre comportamentos bizarros: viva os sedutores desastrados e artistas inofensivos.

É normalmente assim meus sábados com eles. Às vezes damos uns furos, analisamos sarcasticamente nossos quase-relacionamentos mantendo a certeza de que todos os esforços devem ser empenhados em prol de boas histórias. Eles são o que ela um dia definiu como “pessoas em quem podemos nos refastelar”. Um quase preenche totalmente o buraco no peito do outro.

2 comentários:

Julieta disse...

SENSA! Viva os afetivamente equivocados!!!

ADMIRADOR SECRETO , e cada vez mais fã .... disse...

É incrivel como lendo o que voce escreve dá sempre para se divertir e ter um momento de agradável reflexão......

Beijos e Keep Walking, Feeling, Writing & SMILING.....