27.8.12

Tendo à lua

O dia em que eu recebi uma carta das Casas Bahia oferecendo “transformar meus sonhos em realidade” foi o dia em que meus pais completaram 36 anos de casados. Esse foi também o dia em que pelo mesmo correio chegou a segunda proposta para que eu me tornasse sócia do Country Clube de Belford Roxo, local onde jamais estive e que fica a 42 quilômetros da minha casa. Foi ainda a data em que O Globo publicou que a proporção de pessoas divorciadas no Brasil duplicou em dez anos e achei 3,1% um número bastante positivo se comparado à minha expectativa. E o dia seguinte à divulgação, pelo mesmo jornal, do resultado do último censo onde 40% dos lares aparecem como sendo chefiados por mulheres.

Horas depois de ler a matéria recebi mensagens de duas amigas. A primeira sugeria informar à massa de conhecidos que se acha no direito de opinar a respeito da minha opção de estado civil sobre a realidade brasileira (e nem entraríamos no âmbito ocidental mundial). A segunda pedia um manual de boas maneiras para um primeiro encontro que ela teria dias depois, e por mais que a junção das mensagens leve a crer que pertenço ao animado grupo de mulheres solteiras cheias de encontros já antecipo não ser este o caso. Tenho em meu círculo social moças que se auto-definem como “porteiros” (por analisarem todo e qualquer elemento do sexo oposto que lhes cruze o caminho), mas a minha vida amorosa pode ser comparada à dos esquimós (N.R. - sempre os visualizo quietinhos e a sós em seus iglus).

Enfim, o dia em que meus pais completaram 36 anos de casados foi a véspera do dia em que confessei minha desconfiança em relação ao Neil Armstrong ter pisado na lua. Nem sabia que ele continuava vivo, por isso não me comovi com sua morte, mas aproveitei para dividir suspeitas – não sei se depois daquele episódio televisionado idas à lua se tornaram habituais (não acompanho a rotina dos astronautas), não entendo por que nunca voltaram, por que não transmitiram mais expedições se a audiência foi espetacular ou se disseram por aqui que na lua só tinha crateras quando na verdade lá é um paraíso ao qual só privilegiados tem acesso. De toda forma, concordo com os Paralamas que o céu de Icaro tem mais poesia que o de Galileu então não perco meu sono investigando a lua da Nasa.

No dia em que meus pais completaram 36 anos de casados pensei em retomar o texto sobre os absurdos que ouço, incrédula e calada, por não ser casada, mas fiquei com preguiça. Pensei em listar de forma cômica situações a evitar em um primeiro encontro, como vomitar sobre o pretendente, revelar o nome planejado para os futuros filhos ou provocar um debate sobre renda fixa ou CDB, mas me faltaram boas idéias. Pensei que o Vaticano deveria usar meus pais como garotos-propaganda do sacramento já que a manutenção do casamento anda um pouco em baixa, eles poderiam até explorar a versão de tratar-se de um milagre com potencial alcance a todos, mas achei melhor deixar a religião fora disso. Pensei em um amigo que diz que ter pais casados e felizes por tantos anos é uma sacanagem com os filhos! Pensei sobre o uso da crase. E pensei seriamente nas razões que podem ter levado o Country Clube de Belford Roxo a enviar duas propostas para eu me tornar sócia do lugar.

Definitivamente, só tem gente esquisita nessa Terra. (E, vai saber, na lua). 

7 comentários:

Ana Luce disse...

Mas como foi que o pessoal das Casas Bahia adivinhou que o seu sonho era se tornar sócia do Country club de Berlfort Roxo?

Julieta disse...

Eu também nunca entendi porque não voltaram à lua! E menos ainda porque nunca televisionaram de novo. Mas nesse mundo de descrença, acharíamos que era um novo filme. Vai saber.

Julieta disse...

"merecia a visita não de militares, mas de bailarinos e de você e eu" - minha parte preferida.

Dani Meres disse...

Já já, será possível, brincar de Jetsons na Lua.
(http://www.virgingalactic.com).
Quando te perguntarem pq vc não casou, diga que está se preparando para ir para a Lua ;-)

Anônimo disse...

Eu gostei desse papo de CDb e renda fixa... é bem a altura desse povo chato que se mete na vida de todo mundo.... Lê

Anônimo disse...

Nossa, tá cada dia mais difícil comentar aqui.....cada código difícil de ler que temos que publicar ! lê

Anônimo disse...

..se os 36 anos te fizerem voltar a escrever mais, podemos até posar para uma foto e te dar num porta retrato.