Pressure pushing down
on me
Pressing down on you,
no man ask for
It's the terror of
knowing what the world is about
Watching some good
friends screaming
"Let me out!"
Insanity laughs under
pressure we're breaking
A casa dos meus pais onde cresci sempre foi muito animada, nunca era um ambiente monótono. Eram quatro filhos, duas funcionárias, hóspedes eventuais, agregados fixos, um entra e sai de gente a qualquer hora, ali já voou jabuti pela janela, entregador de pizza já foi recebido por homem vestindo capacete medieval e empunhando espada de ferro, duas crianças já quebraram os braços ao mesmo tempo, o cachorro jantava medalhão ao molho madeira com arroz à piamontese, até incêndios alheios figuram no álbum de feitos daquela casa.
Eu estudava no escritório, comecei a sentir um cheio de queimado forte vindo pela janela, ao olhar para baixo vi o telhado da pequena escola ao lado em chamas. Uma rua inteira podia ter notado, mas fomos nós. Descemos correndo pelas escadas com extintores em mãos, o porteiro tentava fazer funcionar a mangueira de incêndio da garagem, pai e irmão tentavam pular o muro, mãe ligava para os bombeiros, salvamos o lugar. Uma semana depois, meus irmãos viam TV no quarto quando comentaram: ‘cheiro de queimado de novo, né? Também estou sentindo, acho que a Bruna está secando o cabelo”. Pela janela, uma fumaça negra entrava que, se fosse dos meus fios, significaria que eu estava carbonizada. Foi minha mãe quem deu o alerta – fogo na escola de novo! Mais uma vez corremos pelas escadas, já não havia mais extintores carregados pelo curto espaço de tempo entre os dois incêndios, gritaria na rua, pai e irmão de novo pulando o muro – pelo menos já tinham experiência naquele espaço. Claramente alguém traçara um plano para ganhar o dinheiro do seguro, e no desenho do Scoobydoo essa historia terminaria com “o que teria acontecido se não fosse aquela maldita família vizinha.”
Eu estudava no escritório, comecei a sentir um cheio de queimado forte vindo pela janela, ao olhar para baixo vi o telhado da pequena escola ao lado em chamas. Uma rua inteira podia ter notado, mas fomos nós. Descemos correndo pelas escadas com extintores em mãos, o porteiro tentava fazer funcionar a mangueira de incêndio da garagem, pai e irmão tentavam pular o muro, mãe ligava para os bombeiros, salvamos o lugar. Uma semana depois, meus irmãos viam TV no quarto quando comentaram: ‘cheiro de queimado de novo, né? Também estou sentindo, acho que a Bruna está secando o cabelo”. Pela janela, uma fumaça negra entrava que, se fosse dos meus fios, significaria que eu estava carbonizada. Foi minha mãe quem deu o alerta – fogo na escola de novo! Mais uma vez corremos pelas escadas, já não havia mais extintores carregados pelo curto espaço de tempo entre os dois incêndios, gritaria na rua, pai e irmão de novo pulando o muro – pelo menos já tinham experiência naquele espaço. Claramente alguém traçara um plano para ganhar o dinheiro do seguro, e no desenho do Scoobydoo essa historia terminaria com “o que teria acontecido se não fosse aquela maldita família vizinha.”
Assim era o
cotidiano bucólico na casa dos meus pais. Eu creditava ao excesso de gente, era isso que provocava as estripulias, mas hoje percebo que não
– aqueles dois, sozinhos, tem mais capacidade de se meter em altas confusões e
aventuras do que todos os personagens da Sessão da Tarde reunidos. E foi assim
que, munidos desse know how e impedidos pelos filhos de abrir a porta de casa
para qualquer coisa além de buscar comida e descartar lixo, ligaram dizendo
haver “uma coisa estranha no hall”.
- Não tem
nada de estranho no hall, vocês não vão abrir a porta, não sairão de casa. Já aprendeu
a costurar máscaras?
- Tem um
pratinho no móvel em frente ao elevador, acho que é uma comida embrulhada.
Respirei
fundo. Tanta coisa para lidar e agora meus pais estão delirando ou alguém está fazendo
macumba no corredor deles.
- Deve ser do
porteiro, ele esqueceu aí. Não coloca a mão!
- O porteiro
não sobe aqui.
- Então algum
moço do Ifood subiu e deixou para o vizinho.
- Ah não,
eles não sobem também. Eu sou o sindico, proibi.
- Seu pai
está indo lá!
- Não! É pra
Exu, não pode mexer.
- Quem é Exu?
Foi você?
Fui, pensei.
Tenho que trabalhar, fazer comida, faxina, unha, depilação, exercícios, tudo na
mesma sala, faria despacho no corredor alheio.
Os dois estavam com a porta aberta, me mostravam por Facetime o embrulho
de papel laminado, eu já pensava em terrorismo com antraz, de repente percebo
gargalhadas da minha mãe. Meu pai, mais de quarenta anos naquele casamento, nem
se abalou. Olhava imóvel para ela.
- Estou vendo
aqui uma mensagem da vizinha! Foi aniversário dela, deixou esse pedaço de bolo
para nós! Que amor.
Me jogo no
sofá. Fim de ato. Se ao menos eu soubesse fazer bolo...
Horas depois recebo
uma mensagem de L, quer um vaso de planta emprestado.
- Que legal,
você vai começar uma horta em casa? Essa semana nasceu um manjericão no meu
vaso de pimenta, os passarinhos fazem a maior bagunça na plantação!
Não
exatamente uma horta, ele quer empreender.
- Está
nascendo um pé de maconha no meu cactus.
Eu não sei
por quanto tempo viveremos nessa quarentena, mas me preocupo no quão mudados
sairemos dela.
C quer se
divorciar, não suporta mais o marido, liga aos prantos, diz que aquele homem
por quem se apaixonou e parecia incrível no palco agora passa as noites no sofá
fazendo lives, ela não suporta aquele repertorio, teme que ele esteja obcecado pelos
coraçõezinhos subindo na tela. Nas primeiras semanas de reclusão eu cantaria
Queen – why dont we give love one more chance? Tantos dias depois jogo logo
argumentos práticos:
- Você tem
uma filha pequena, uma casa de três quartos, vasos sanitários amarelando, um
escritório para gerenciar, prefere arrumar tudo sozinha ou dá para amá-lo um
pouco mais?
Nunca fui tão
convincente. Próxima ligação, por favor.
Minha mãe
está comendo o bolo da vizinha, meu pai segue seus comandos separando os
parafusos do armário de ferramentas por modelo e tamanho, mas está preocupado
com o barco, um veleiro de 27 pés visto pela última vez quando achávamos que
tinha uma gripe lá na China. Diz que o barco pode estar perto da água e em
risco no caso de uma imprevista ressaca, alagado pela chuva podendo tombar da
carreta, pode ter criado vida e fugido pra Dinamarca onde a situação está
melhorando!
Finjo
sacrifício, decido ir até o clube checar. Preparo um figurino Chernobyl e uma
lista de justificativas como se alguém fosse me interpelar no caminho e cobrar
explicações sobre o que eu fazia na rua. “Identidade, por favor. A senhora não sabe que tem live do
Raça Negra hoje?”.
Atravesso o
clube estranhando até o sol na pele - já era quente assim? De repente ouço mini-ondas
batendo na parede do cais. Fico ali por minutos longuíssimos, apreciando.
Que som deslumbrante proporcionado por uma água negra, destruída com sacos plásticos,
garrafas pet, mochila despedaçada e tudo mais de imundície humana produzida!
Existe uma
tartaruga que vive no cais do clube, uma guerreira. Tenho enorme afeto por ela,
o que passa na cabeça miúda de uma tartaruga que tem o mar inteiro para viver e
escolhe o Rio de Janeiro? Consegue nadar e respirar naquele mar de lixo, nunca
sei se feliz ou como as moscas que ficam batendo no vidro tentando sair sem
perceber que é só chegar para o lado porque a janela está aberta. Somos muito
parecidas nesse aspecto habitacional.
Fico pensando
na tartaruga quando vem até mim um gato, dos muitos que circulam por ali. São
todos vacinados, usam coleirinhas de miçangas, estão presentes na minha vida desde que sou criança e minha mãe se desesperava: não mexe no gato! Ele
arranha! Solta o gato! O bicho traça uma reta em minha direção miando aos
gritos quase correndo em duas patas com as outras em forma de braços abertos, como
nós faremos ao reencontrar os amigos – peloamordesaofrancisco, fala comigo! Abro
meus braços para ele, desobedeço a minha mãe. Sento no chão, máscara no rosto,
álcool gel no bolso, sol no corpo, vento do mar, eu e o gato. E de repente
avistamos ela, acompanhada de amigas. Ficamos ali vivendo aquele momento lindo
- eu, o gato, as tartarugas. #TamoJunto, amiguinhos.
E às vezes eu
deixarei
Você me ver
chorar, sorrindo
Caring about ourselves
This is our last dance
This is ourselves under pressure
This is our last dance
This is ourselves under pressure
Um comentário:
Bis
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