E quando eu já estava suficientemente cansada, vem o deboche
da irmã que se isolou, antes até da geosmina surgir aqui, em uma ilha no Pacifico: “você
é louca de ficar nessa cidade. A única coisa que falta acontecer no Rio é ser invadido
por ETs”.
Tenho incentivado nossos pais a se entreterem com qualquer
coisa, como uma babá que oferece vídeos para as crianças se distraírem enquanto coisas precisam ser feitas - no caso, acharem uma vacina. Essa semana meu
pai ficou quase uma hora conversando com um operador de call center. Sabe que o nome do homem é Leo, que Leo não tem feito exercícios físicos,
que mora com a namorada, debateram a dificuldade de se manter são na quarentena, o
inicio de uma bela amizade. Por isso até
me alegrei quando ele comentou ter passado horas assistindo ao History Channel.
“Um programa muito interessante: Alienigenas do Passado”. Eu teria feito a
piada “não quer assistir Alienigenas do Futuro para já nos prepararmos?”. Não fiz.
Eu hein, mania súbita de ET na família.
Na véspera era eu quem assistia TV, um documentário sobre a turnê de As
Cidades do Chico em 1999. Estava tendo um dia péssimo, culpada por senti-lo péssimo
quando coronavirusmente estava tudo bem, mas ainda sentindo. Fui melhorando com
aquelas músicas, as risadas do Chico, conversas sobre criação, futebol,
parcerias, oi? Chico e Bethania disseram que viram extraterrestres? Devo ter
entendido errado, voltei a cena. Mais alguém
viu esse documentário, eles falaram sobre disco voador em Copacabana mesmo?
Google – Bethania + Disco Voador. Que
ainda estou sozinho, apaixonado / Como um objeto não identificado / Para gravar
num disco voador / Eu vou fazer uma canção de amor. Apenas música, nada
sobre abdução.
Liguei para um amigo. Semanas antes interrompera uma conversa
nossa com uma expressão de espanto dizendo ter um balão no céu. À meia-noite,
na zona sul do Rio de Janeiro, em plena quarentena? “Não se move como um avião,
talvez seja um disco voador.” Eu segui falando como se nada houvesse
acontecido, no máximo ri da pausa inesperada, não voltamos a isso. Agora precisava
compartilhar a cisma. “Tem uma coisa estranha acontecendo. Surgem ETs por toda
a parte na minha vida desde aquele dia”. Dessa vez foi ele quem riu: “ao menos parece
que testemunhamos a primeira chegada dessa leva.” Não estava entendendo a seriedade.
Sempre acontece nas redes sociais, um assunto que eu tenha
falado com alguém ou conversado por Whatssapp surge no feed naqueles links
patrocinados. Essa publicidade programática está extrapolando o mundo digital?
Existe no ar um algoritmo selecionando nossos assuntos, estamos monotemáticos com pandemia e governo por metadados e não por emburrecimento e pânico?
Abro o Instagram. Esta lá, na postagem de um perfil que sigo:
“5 documentários sobre alienígenas que confirmam que o estreitamento do nosso
contato com os ETs é uma questão de tempo.” Não estou alucinando. Me rendo. Quanto tempo,
gente? Eu estou exaurida de fatos históricos, não quero receber ETs nem que
eles sejam idênticos ao do Spielberg, a única novidade que quero é imunidade
generalizada (e, se couber bônus de desejo, troca de governo).
Se só me restar a resignação de aceitar o fato da chegada dos
ETs, que venham de máscara, tragam mop, aspirador robô,
álcool 70 e sua própria comida porque eu não vou fazer faxina nem almoço para
mais ninguém.
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