Um dia ele passou a mão no meu cabelo. Cruzou o quarto para pegar uma camisa no armário e eu estava no caminho, lendo o jornal. Afundou de leve os dedos nos meus fios e brincou com eles. Tirou a branca do cabide, vestiu sem abotoar e foi tomar café.
Um dia ele encostou a cabeca no meu ombro e suspirou. Perguntei se o filme estava ruim, ele só fez que não com o dedo e sorriu. Reabriu o saco de pipocas e comeu uma atrás da outra.
Um dia ele usou a palavra interface. E riu, entre o orgulho e a piada. Pouco tempo antes eu tinha criticado uma interface e me criticado internamente por abusar dos jargões quando sobrecarregada de trabalho.
Um dia ele fez compras no supermercado. Quando cheguei, vi na geladeira o queijo fresquinho, o suco de laranja e, no meio do estoque de iogurtes, um com novo sabor de maçã. Ele volta e meia comentava que eu sempre comia o de morango e ainda ia enjoar.
Grandes declarações de amor podem ser muito fáceis. Difíceis são as banais, as espontâneas, cotidianas, desinteressadas, as cuja única intenção é nada, só o vício de estar perto.
Um dia ele me olhou.
6 comentários:
lindo!
dá até vontade de viver isso outra vez ;)
"Difíceis são as banais, as espontâneas, cotidianas, desinteressadas"... Pra essas é preciso ter uma chance.
(Brilhante, B.D.)!
Muito bom, Bruna!!! Adoooro. Beijos
é... suspiros...
"Um dia ele me olhou". Isso às vezes é tudo!... (Curto, sensível e bonito, Bruna). bjs!
lindo, lindo!
amei
PS: essa coisinha de letras aqui debaixo ainda me deixará maluca!!!!
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