3.6.07

Sau-dá-dji

A noite e a chuva que cai lá fora.

Publicaram esse estudo, quais as palavras mais difíceis de serem traduzidas. No dialeto tshibula, Ilunga é a pessoa que está disposta a perdoar maus-tratos pela primeira vez, a tolerar o mesmo pela segunda vez, mas nunca pela terceira. Tem palavra para isso. E gente ilunga. Em ídiche, Shlimazl é uma pessoa cronicamente azarada. Não é amaldiçoada, nem só azarada, é quem sempre se dá mal. A terceira da lista é a polonesa Radioukacz, nome para quem trabalhou como telegrafista nos movimentos de resistência ao domínio soviético nos países da Cortina de Ferro. Ahn?
Saudade é a sétima palavra. A dor da ausência. Saudade dói. Você não está mais aqui. Show de bola, ferrocarril, gostoso, sambinha, o dia vai nascer de novo e você não está mais aqui. Quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue*, dá saudade. Quando fica lá longe. Quando não é desejo de voltar, mas a vontade de que pudesse estar aqui. Fico eu com essa lista de assuntos para falar e se você estivesse aqui possivelmente eu nem me obrigaria a começar. Ainda não perguntei tudo e esqueci de contar algumas histórias. Será que esqueci de vivê-las a dois ou foi o tempo que esqueceu de demorar mais para que elas pudessem existir? Você gosta? O que você acha? Você vai comigo? Nos vemos depois? Não tem ninguém e eu aqui Pochemuchka, que em russo é quem faz perguntas demais.
Quando não apertam as lembranças mas sim o que ainda está por vir e quero aproveitá-lo logo, dá saudade. Em árabe, Altahmam é um tipo de tristeza profunda, quem sabe igual a saudade! Quem disse que saudade é bonito não viu que acenderam a luz, as cadeiras estão sobre as mesas e não toca mais música. Quando eu queria só mais um pouquinho. Quando "como foi bom"! Mas não tem mais. Pode ter em outra hora, mas não agora. Agora, é vazio.
Quem se importa com o nome do telegrafista?
Será que saudade só tem aqui?

Solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim.

*Adriana Falcão

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom, Bruna. O jeito como vc fala daquilo que sente (sentimos, no caso... Daquilo que é comum às pessoas sensíveis) é muito bacana. Dá a impressão de que vc consegue organizar bem, ou ao menos expressar bem os sentimentos.
Esse post renderia mais uns 4 ao menos... Eita assuntinho que é esse da saudade...

Anônimo disse...

Eu tô por aqui e sempre pronta para fazer companhia. Só preciso de meia hora para chegar : )

Anônimo disse...

Ayyy Bruna… Você me fez chorar. Se você sentir saudade me avise, que eu te chamo para nós dois sorrirmos juntas. Sentir saudade não é mau – nooo… é sinal de que aconteceu algo que valeu a pena. Estou sem palavras.

Un abrazo MUY, MUY grande a la patricinha mais legal no brasil – caraca(s)! Jeje.
Tu amiga,
MaCe

Paula disse...

O que é que tá acontecendo nesse mundo? Ainda bem que não é só comigo... bjs e melhoras!