13.6.07

Dá uma forcinha pro santo!

Logo na entrada dá para sentir o cheiro de broa de milho e, naturalmente, dos famosos pãezinhos. Ele chega um pouco atrasado, o que nos dá tempo para olhar ao redor, e vai logo se explicando: "Ainda bem que você não é ansiosa, sabe quantas vezes sou agredido por esses meus atrasos?" Antonio desmarcou a conversa diversas vezes, mas garante que há tempos quer esclarecer como funcionam as coisas no seu departamento.

O santo não se atrasa por excesso de pedidos, difícil é separá-los. Para ele mesmo, sobram poucos. “Não é o caso de terceirizar por preguiça, mas de encaminhar corretamente. Antigamente chegavam súplicas que, juro por Deus, nem Ele resolveria. A mulher era chata, grudenta e já tinha escolhido o homem para casar no próximo mês porque a lipo estava marcada. Hoje não sofro mais por isso, nosso sistema encaminha a fiel para Rita de Cássia e ela tem todo um know-how em causas impossíveis assim. Confesso que aprendi um bocado com o tempo também, você não imagina a quantidade de gente que quer casar. Isso é o mais fácil, minha filha! Casar qualquer um casa porque tem é pessoa carente no mundo. Sendo essa a condição única, beleza. Santo Expedito, nem me preocupo – causas urgentes. Não é preconceito, dependendo da mulher nem ela quer que o pedido passe por aqui”.

Nada tira o bom humor do santo, a não ser falar sobre a moça que primeiro o jogou pela janela. “Conversávamos muito, mas existiam outras questões a resolver e ela não quis entender, achou que era tudo minha culpa e zum, lá fui eu quarto afora pelos ares. Tinha que cair em algum lugar, é física e não religião. Caí na cabeça de um pedestre e acabou que eles se casaram. Não fui eu! O boato se espalhou e todos os dias alguém me coloca de cabeça para baixo, dentro do armário, arranca até o menino Jesus dos meus braços. Não gosto desse tipo de coisa não, deduro logo para São Gangulfo. Quase ninguém sabe, mas ele é o santo dos adultérios. Depois dele, só São Theodoro na reconciliação ou Santa Adelaide no segundo casamento. Acabam intercedendo junto a mim, mas preciso acabar com essa moda de me punir.”

Os pedidos não param de chegar e reparo que Santo Antonio encaminha um para São Longuinho. “Esse trabalha também. Não é só chave que ele acha não, tem gente que perdeu amor no mundo, deixou escapar a chance e quer uma segunda. Os pulinhos não são só de alegria, é o pagamento. Contamos com a ajuda até de São Jorge aqui, não porque em alguns casos só sendo muito guerreiro mas pelo costume catalão de presentear com livros e flores no dia dele. Acaba funcionando. Essa questão cultural ajuda muito, basta olhar ali a sala de São Valentim e Santa Catarina de Alexandria, lotadas! A verdade é que eu, minha filha, fui promovido e hoje só atendo os casos mais graves. Não os desesperados – esses esgotam a paciência de São Judas – mas aqueles que dão mais trabalho. As tais mulheres que escolhem. Inventaram de estar bem sozinhas e querem alguém que some, não complete. Além de tudo querem ser felizes! Ah, saudades de quem pedia só véu e grinalda...”

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom isso, Bruna! Há tempos bato nessa tecla: o Antonio deveria organizar os pedidos.

Paula disse...

Pois é, Sto. Antônio tem que fazer uma reciclagem, um MBA de gestão matrimonial, alguma coisa do gênero. Nada é estático, e os pedidos mudaram... Muito bom, Bruna!