6.11.09

Capítulo 1

Depois de selar a carta à moda antiga, não usando a língua e sim aquela cola de pincel que ainda existe nos Correios, entregou ao atendente e pediu licença. Não licença ao atendente, que para sair dos Correios basta atravessar a porta, mas à vida mesmo. Ficaria ali no alto por um tempo. É um lugar entre a terra e o céu, como se estivesse sentada em uma nuvem, sabe? Uma pausa. Você pode pensar que ficar sentada por muito tempo dói a coluna como nos vôos muito longos onde não se dorme, mas nesse caso isso não acontece, e não sei por quê. Precisava de tempo, e não esse dos casais sem coragem ou com muita dor no coração, mas o dos cansados, daqueles que não sabem em que direção seguir. Já tinha passado por maus bocados antes, e bota maus nisso! Os atuais nem eram assim tão ruins, havia solução, qualquer um apontaria uma dezena delas, mas as instruções não funcionavam, inicializar não lhe parecia palavra em português, faltava até metáfora para ilustrar, e a pausa prescindia de razões, explicações, desculpas, respostas confortáveis para os ouvidos dos que perguntavam. Foi por isso que puxou-se pela gola e lá em cima se sentou.

2 comentários:

Julieta disse...

Aguardo ansiosa cenas dos próximos capítulos.

Karol Gonçalves disse...

Ufa!
Que bom que voltou e em capítulos!!
Até comentei, pq estava bem desamparada com o closed!