12.2.07

Os musicais da Bróduei

Prendedor de cabelo, flores de crochê, benjamins e adaptadores, frutas, fantasias de Carnaval, sandálias, camisas de salva-vidas com a frase “Afoguem as feias”, óculos escuros, brinquedinhos e CDs. Elas não deixam de usar salto fino porque agarra nos buracos, mas porque acham realmente bonitas as plataformas enormes; as calças parecem ter sido compradas um tamanho menor para marcar bastante as imperfeições do corpo e a calcinha; as tonalidades de louro dos cabelos, se os laboratórios tentassem, não conseguiriam criar. Eles não disfarçam o olhar para nenhuma mulher que passa, cantam pagodes e vestem tênis gigantescos com calças jeans claras. No elevador, em 99,9% das vezes o assunto é futebol – “E o Romário, hein? Mermão, desse jeito vai ter que contar os gols do pleisteixom para chegar ao mil”.

Entre o Theatro Municipal, a Câmara Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes e a Biblioteca Nacional, mendigos dormem na praça que poderia ser um cartão postal. Falou no celular na rua, há enormes chances de um moleque saltar na sua orelha e correr entre os carros antes que você perceba que foi roubado. Ao cair o primeiro pingo do céu, “sombriiiinha, 5 reais”. Mas preste atenção porque o pingo pode ser dos aparelhos de ar-condicionado. Dos milhares de cinemas que batizam a região - Odeon, Império, Pathé, Capitólio, Rex, Rivoli, Vitória, Palácio, Metro Passeio, Plaza e o Colonial (deve ser por isso que eu gosto daqui) - os que não resistiram viraram igrejas evangélicas ou exibem filmes pornô, clientela fiel desde 10 da manhã nos dois casos. Seis da tarde, cada bar espalha suas mesinhas pela calçada e aí “amor, trabalhei até tarde hoje”! É sempre sexta-feira. Sendo que na sexta-feira mesmo a fumaça dos churrasquinhos não perdoa patrão nem empregado.

Entre lojas de R$1,99, restaurantes a quilo para todas as classes, pirataria escancarada pelas calçadas, encontrões na multidão e elevadores entulhados de trabalhadores encalorados, entro nas Lojas Americanas e me pego cantando a música que vem das TVs de 2 mil reais. Vai / E avisa a todo mundo que encontrar / Que existe ainda um sonho pra sonhar...
Acústico do Roupa Nova. Você é pessoa que nem eu / Que sente amor / Mas não sabe muito bem/ Como vai dizer...

O Centro da cidade pode ser desesperador.

3 comentários:

Unknown disse...

Tem também o "cinto da Ivete Sangalo" e o "três traidente é dois real, três traidente é dois real" daqui da esquina do meu escritório... o horário de almoço é um caos, pq é impossível andar com todos os vendedores de tudo espalhados pelo chão. Mto bom o texto, retrato fiel do Centro...bjs

Julieta disse...

pense no Saara...

Anônimo disse...

Isso é porque vc não trabalha em Copacabana...pq por ai vc anda na rua e encontr ahomens bonitos de terno , pessoas conhecidas e restaurantes descentes. Vem pra cá para ver o q é bom !