28.3.07

Tied down to loverboy rules

Não, é melhor eu pensar duas vezes antes de me meter nisso, antes de bisturi, corta aqui, tira o coração e toma, olha que bonitinho! Conheço todos os seus jogos porque… hehe… eu jogo também. Mas o que preciso é de férias disso, um tempo para catar os caquinhos que sobraram do meu coração que caiu aqui da última bandeja em que o servi. E quando acontece desse amor todo desabar sem dó nem piedade é necessário ser muito macho então eu, querido, estou te mostrando a porta aberta: fora! Porque preciso acreditar, fazer uma fézinha. Antes que esse rio vire um oceano, antes que você jogue de novo meu coração no chão, eu reconsidero a idéia boba de que não posso ficar sozinha. Eu preciso ter alguém do meu lado, mas vou esperar por algo mais. Because I gotta have faith.

I gotta have faith. Yes I-got-to-have faith, faith, faith!

26.3.07

As sem razões do amor

Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo.
(...) Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

22.3.07

Ne me quittes pas

Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà

A sua volta trás de volta minha incrível capacidade de imaginar, criar uma pessoa e distanciá-la cada vez mais da realidade porque minhas criações são, quase sempre, muito melhores do que o ponto de onde partiram. Das minhas criações você foi a mais verossímil.

Esquecer os tempos dos mal-entendidos
E os tempos perdidos
Tentando saber como
Esquecer as horas
Que as vezes mataram
Com sopros de por que
O coração de felicidade
Ne me quitte pas

21.3.07

Strawberry fields forever

Lembro que antigamente as frutas tinham época. Não bastava querer morango em janeiro, não era época, só no inverno. Em janeiro a gente podia comer abacaxi, mas o chantilly tinha que esperar o tempo esfriar para ter a companhia dos morangos. Até que de repente, quando me dei conta, estavam eles lá, enormes e vermelhos esmagados numa caixa de plástico sendo vendidos em um sinal perto da Uruguaiana em pleno mês de fevereiro! E não era efeito de nenhuma alteração climática, simplesmente ficou mais fácil, as coisas na plantação evoluíram, a tecnologia ajudou, sei lá.
O que aconteceu é que nunca mais sonhei com torta cheia de doce de leite besuntando os moranguinhos, nunca mais fiquei esperando pelo início dos Festivais do Morango das docerias, inclusive eles perderam um pouco o sentido. Até caipirinha tenho pedido de uva. Daqui a pouco enjôo e passo para outra fruta, qualquer uma, a qualquer hora. Vou olhar aquele monte de frutinhas disponíveis o tempo todo, aí bebo a que me der na telha no dia, ando mesmo querendo mudar de bebida, experimentar um licor de limão feito no Mediterrâneo.
Não sei, mas acho que os morangos deviam se valorizar. Convivem tanto com as pessoas, podiam tomá-las como exemplo...

18.3.07

Oferta especial

Olha, não sei de você, mas tem gente preocupada com a sua felicidade. É! Querendo saber o que faz você feliz. Estão até gastando um dinheiro com isso, pagaram inserção no horário nobre, rede nacional, liga a TV para ver. No intervalo do Fantástico de hoje vão aparecer coisas que podem fazer você feliz. Fantástico! Quem vai falar é o Arnaldo Antunes. Sabe que o Arnaldo Antunes às vezes me faz feliz?
No filme têm umas opções, não precisa marcar não, acho que basta pensar no que eles vão mostrar mesmo. Se perder o Fantástico, assiste aqui. Vê lá, hein, isso pode dar problema, não é tranqüilo assim não. Se goiaba com queijo te fizer feliz, beleza, mas se for algo mais complexo, ih, aí pode dar trabalho.

A lua, a praia, a rua, uma dança, chocolate, acordar tarde, arroz com feijão, matar a saudade, a casa, os sonhos, dormir na rede, ler, ficar à toa, viver um romance, uma conversa boa, cafuné, parque, chafariz, um choro, esquecer o tempo, um som, a pessoa ou o lugar, comer morango com a mão, colocar açúcar no abacate, cuspir semente de melancia, comida caseira, cheiro de cebola fritando, o bife e a batatinha, um doce ou um desejo, passar azeite no pão, namorar a noite inteira, um filme, brindar à toa, um dia normal que vira uma noite especial.

Taí, várias dessas coisas me fazem feliz. E muitas estão à venda no Pão de Açúcar. Falei que isso é a nova campanha publicitária do Pão de Açúcar? Pois é. Gente me faz feliz. Faz infeliz também, mas faz feliz. Essa coisa dos sonhos, abraço, beijo, conquistas. Beijo é conquista, né? Às vezes é uma bobeira de conquista, mais mérito da vodka do que seu, mas quando é mérito seu, nossa, faz muito feliz. Risada. Nem sempre risada é conseqüência de felicidade, pode acontecer no meio de uma tristeza, mas mesmo assim risada é bom. É como Tylenol – Tylenol não faz feliz porque é sinal que existe uma dor, mas aliviar uma dor já dá uma felicidade... Vento do mar, música boa e sapato que não machuca são grandes provocadores de felicidade. Avião que sai na hora! Álbum de fotos. Ih, álbum de fotos pode deixar triste. Mas então é porque já fez feliz. Mas sabe o que me faz feliz mesmo? Paz. Será que vende no açougue ou na parte de enlatados?

17.3.07

Águas de Março (letra e música: Al Gore)

Ahhhhh o verão! Dizem que é a estação da perdição porque é no verão que você faz tudo aquilo que vai contar para os seus netos, bisnetos e tataranetos um dia, quando lembrar que mesmo antes do aquecimento global a coisa já era bem quente.
Dormir de cueca, dormir de calcinha, é só no verão que você precisa economizar na conta de luz mais do que ser sexy.
Viajar para a montanha, para a cachoeira, para o balneário ou qualquer lugar só porque é mais fresquinho que o Rio, é só no verão. É no verão que o ódio ao trânsito floresce e o amor à preguiça, amor ao sol ou até mesmo o amor a uma sirigaita fica platônico porque está quente demais para relaxar, torrar na praia, qualquer um fica suando que nem um porco quando vai falar com a sirigaita e nem é de nervoso. Mas isso passa, seja otimista rapaz, é verão! As pessoas estão bronzeadas, deixa para se preocupar com as manchas na pele no inverno quando estiver com a cabeça fria.
Vai contar o que para os seus netos? Que ficava se abanando com o que tivesse na mão? Não! Que achava até bom a fila da Caixa Econômica demorar porque lá é fresquinho, que assistiu a todos os filmes em cartaz para aproveitar o frio do cinema, que os lounges do Shopping Leblon são ótimos porque têm sofás confortáveis e ar-condicionado, perfeito para ler em paz. Tomar banho e sair melado, pressão baixa, insolação, comprar garrafinha d´água só para jogar no rosto, essas coisas que a gente só faz no verão.
Ah o verão! Quando viu a propaganda esqueceu como era o maçarico por aqui, né, José Mané? O verão está acabando agora e está chovendo… viva o outono.
Yeah yeah.

13.3.07

Criptonita

Se você estivesse aqui eu não estaria tão sozinha. Não estaria com a luz apagada para esconder minha cara inchada. Não estaria abracando o travesseiro, não estaria sendo amparada pelo cachorro. Se você estivesse aqui eu não consumiria tantas tarjas-pretas. Não comeria tantas bombas de chocolate. Não trocaria o dia pela noite. Se você estivesse aqui eu não deletaria tantas frases, não pensaria em parar, não me incomodaria com tão pouco.
Se você estivesse aqui eu não ficaria entrando em igrejas sozinha, não frequentaria palestras em centros espíritas, não leria horóscopos na esperança dos astros mudarem minha vida. Se você estivesse aqui eu não estaria descuidada, não teria o peso errado, não acharia que o supérfluo parece inútil. Se você estivesse aqui eu teria quem me tirasse da cama, alguem que me pusesse para dormir, que me acordasse dos pesadelos. Se você estivesse aqui eu estaria gargalhando das bobeiras que você causa, sorrindo nas nossas conquistas e alardeando nossos planos. Com você aqui eu saberia responder o que me perguntam, explicaria o que ninguém entende, justificaria a decisão de continuar.
Com vocâ aqui eu também choraria, mas conseguiria parar. Também temeria, mas saberia me incentivar. Se você estivesse aqui eu não estaria olhando as pessoas na rua e pensando como elas estão bem apesar de tudo. Não sentiria o mundo sobre mim. Não despertaria esse sorriso de compaixão ao confessar a sua falta e perguntar por você - Pelos poderes de Greyskul, onde está a minha força?

11.3.07

De novo. Não! Outra vez.

Estava ruim. Ruim.
Alguma coisa incomodava, eu não conseguia ser louca por ele. Por mais que ele se esforçasse, que o host fosse melhor, que a fonte fosse maior, a verdade é que nunca esteve tudo maravilhosamente bem, nunca me senti 100% à vontade. É tão ruim perder alguém. Ok, alguma coisa. O antigo era tão eu, tivemos tantos bons momentos, já nos conhecíamos, crescemos juntos, parecia que ele me ajudava, eu me sentia segura lá, conquistamos coisas juntos! Seu Martin 1 não precisava acabar. Mas acabou... Esgotei o espaço dele, esgotei minha paciência de resolver, fim. É: fim. E a solução não era procurar um parecido para substituir, certamente não daria certo, aquele já era porque sempre tem um motivo qualquer para já não ser mais então o certo é bola pra frente, the show must go on, leite derramado, essas coisas. Não substituir, continuar. Mas de cabeça fria. E parece que agora dá! Sem birra, sem achar que nunca mais, sem dizer que não vai se apegar porque essas coisas de internet são todas iguais, um dia dão um bug e você perde tudo mesmo. Tem que ser infinito enquanto durar, certo? A vida imita a arte, a arte imita a vida e a web é a mesma coisa. Ainda estamos falando sobre blogs?
A primeira decisão foi instituir a paz - vamos ser bem-resolvida, se existiam coisas boas quero aqui o que der para trazer. Meus textos antigos! Sim, vou republicá-los. A segunda foi jogar tudo que soava estranho fora e começar de novo. Feng-shui. Uma vez, duas, três, quantas vezes forem necessárias para dar certo. Mas com boa-vontade, sem me enganar que está tudo bem e continuar sentindo aquele desconforto. Eu gosto de cinema, eu gosto de imagens, eu gosto de azul, eu posso fazer dele mais a minha cara. Agora está melhor. Êêêê!
Então vamos de novo. E se você já tinha se apegado àquele, lamento. Isso passa, veja o novo com bons olhos.
Seja bem-vindo.

9.3.07

Apenas mais uma de amor

Então a gente combina assim: eu te pego no colo quando você precisar e você segura a minha mão para eu agüentar a dor. Uma vez por semana você ensaia com a banda, é nesse dia que eu janto nos meus pais. Eu almoço com as meninas sempre que você jogar futebol só para podermos emendar no choppinho pós-pelada e clube da Luluzinha. Nós vamos alternar os dias em que chegamos irritados do trabalho e quando isso coincidir vamos lembrar porque eu insisti no ateliê e você gastou uma fortuna na esteira. Eu vou sempre ter lingerie nova e você nunca vai saber que para ser essa delícia eu gasto horas com depilação e massagem. Você vai sempre acertar o cesto da roupa suja e nunca vai sentar na frente da TV de Ryder e regata. Nem sempre eu vou lavar a louça de salto alto, mas você vai sempre me agarrar por trás e beijar meu pescoço. Nem sempre você sair atrasado comendo pelo caminho, mas eu vou sempre pular no seu pescoço para me despedir. Você vai saber que eu quase sempre finjo ser forte e eu vou saber que muitas vezes você não passa de um menino. Você vai viajar e eu vou morrer de saudades, eu vou virar a noite no trabalho e você vai dormir mal até eu chegar. Você vai pedir para eu usar aquela roupa que me deixa linda e eu vou transformar seu armário numa arara de desfile. Eu vou correr para te contar cada novidade e você vai pensar no que eu diria a cada decisão que tomar. Você vai sempre insistir que eu sou melhor sem maquiagem e eu vou sempre pedir para você não fazer a barba. Você vai ficar desesperado porque eu estou chorando e eu vou te abraçar até você desabafar. Você vai sempre lembrar de mim e ficar feliz no meio do dia e eu vou sempre te mandar uma mensagem dizendo que te amo. Você vai sempre me fazer rir e eu vou ser sempre seu passatempo preferido. Você vai se irritar de mentira com meu sentimento de posse e eu vou jurar que acho ótimo você não ser ciumento. Eu vou secretamente escolher o nome dos bebês e você a escola, cursos de língua e países para intercâmbio. Eu vou sempre comprar o pão de centeio que você gosta e você vai virar chef de tanto testar as receitas que eu amo. Eu vou ser sempre a sua melhor amiga, você vai ser sempre meu porto seguro. Eu vou te procurar em todas as partes desse mundo, você vai ter certeza que sou eu quando me achar. E quando nos encontrarmos eu nunca mais vou olhar o relógio e você nunca mais vai virar as páginas do calendário para não desandar.

Originalmente publicado no Seu Martin 1, em 03/07/06.

8.3.07

Do you need anybody?

um técnico de informática
um massagista
um guru
um homem com coragem
um bom salário
um plano de saúde
uma passagem aérea
Pontes entre os arquipélagos
Love.
All you need is love.
tribuneiros.com

Você está linda

Dia internacional da mulher. Uma rosa para aquela que acorda cedo para levar o filho à natação, corre para o escritório da multinacional onde trabalha, vai ao pilates na hora do almoço, chega em casa a tempo de fazer companhia ao marido e dorme depois de passar todos os cremes anti-rugas do mercado.

Ali perto, nas favelas de refugiados de Darfur, as mulheres também saem de casa todos os dias – precisam buscar lenha. Os homens não podem ir porque correm o risco de serem assassinados, e elas enfrentam a campanha sistemática de estupros que aterroriza os civis. Suas vizinhas de mundo cuidam de outras casas, casas talibans onde as janelas são pintadas para que elas nunca sejam vistas. Não podem trabalhar, as que não têm marido ou parentes homens são deixadas nas ruas para esmolar ou morrer de fome, mesmo que tenham doutorado. Feliz Dia Internacional da Mulher!

51% das mulheres brasileiras são mães. Uma pesquisa sobre emprego revelou que quase 30% dos lares são atualmente chefiados por mulheres nas nossas 6 principais regiões metropolitanas. 1/3 dessas mães não são casadas. Ah, as mulheres “Sex and the City”! Não exatamente essas da pesquisa, que estão longe de ser jovens profissionais bem remuneradas e consumistas que escolheram viver sozinhas. Quase 80% dessas mulheres vivem com até 3 salários mínimos e possuem só 8,7 anos de estudo. Mas elas estão ali, comprando seus cremes Avon e sonhando com um elogio dele.

Você achando que eu ia falar sobre como mulher é forte apesar de acreditar em tudo, como sofre na depilação, chefia marido, filho, equipe e academia... Mulher é ótimo, pelo menos pode chorar em público. Porque mulher é fresca, não é? E mulher nervosa? É TPM. Ou precisa de um homem que dê um jeito nisso. Homem, aliás, é sempre a solução que eles, homens, acham para tudo que diz respeito a nós, mulheres. Mulher quer é casar, mas desse jeito, independente, não vai arrumar marido. E para eles não tem tragédia maior nas nossas vidas.

Pelo visto, ou pelo IBGE, tem. Ou será que não? Talvez essas chefes dos 30% de lares brasileiros sejam felizes de verdade. Talvez a dor nas costas passe quando o Wellingtonzinho for chamado para o time de futebol e largar essas más companhias, quando a Danyellinha conseguir o diploma, quando sortearem o cupom dela na promoção do programa da Ana Maria Braga. Mulher é um bicho complicado, mas fica feliz com pouco. Um comentário sobre o cabelo novo, por exemplo, é uma declaração de amor que vale o dia.

Talvez essas senhoras de Havaianas no pé porque é mais prático e não porque é moda se igualem às senhoras do Leblon na bem versada herança genética que as faz idolatrar os ícones do cafajestismo. E na culpa, isso sim, característica intrínseca ao universo feminino. Esse detalhe o mundo moderno ainda não resolveu. Mas deixa que elas dão um jeito. Sempre dão.

Uma orquídea para vocês, mães africanas que largam os filhos no acampamento para buscar lenha e mães cosmopolitas que largam os filhos nos sonhos de criança porque não deu tempo de tê-los. Rosa já está muito batido.

7.3.07

O problema do Coelho da Alice

Ainda bem que acabou o horário de verão. Tudo nesse período me deixa mais feliz, menos o problema que ele cria com as horas em si. Não é o que você está pensando, e quando eu revelar o motivo você também vai gostar de estar escuro às seis e meia.
Tenho uma certa dificuldade em ver horas em relógios sem número. Admito. Claro que eu sei onde estão o 12, o 3, o 6 e o 9 e isso dá uma ajuda boa, mas quando são só tracinhos ou bolinhas preciso fazer uma conta silenciosa para identificar os outros números e isso faz com que a resposta demore e o pobre sem relógio fique me olhando como se eu estivesse paralisada. Foi então que, assumindo essa falha em mim, fiz uma grande descoberta. Hoje em dia todo mundo tem celular, logo, não há no mundo conectado desculpa para alguém não saber as horas. Ou seja: só perguntam para checar se o outro também demora a responder! Ninguém sabe bem ver as horas!
Existem casos de pessoas que nunca dizem “são seis e meia” com medo de ser meio-dia e o relógio estar de cabeça para baixo. Está pensando em outras possibilidades de riscos assim? Fique calmo, já investiguei, há pouco perigo. 7h05 e 1h35, por exemplo. Se você não for muito burro, vai saber se colocou o relógio certo porque a luz é diferente nesses horários. O problema é mesmo às seis e meia e especificamente no Rio, onde o maçarico solar fica ligado das seis às nove da noite.
Ah, o Coelho da Alice? É por isso que ele vivia atrasado no País das Maravilhas! Não tinha celular. Enfim, agora a paz voltou a reinar por aqui. Meio-dia, sol a pino na cabeça. Ou sol a pino, meio-dia na cabeça, tanto faz. O que não tanto faz é o modelo do seu relógio – digital de camelô não, ok? Usa um relógio bacana. Todo mundo só vê as horas no celular mesmo...

5.3.07

Mind the gap

Ninguém disse que seria fácil.

Esquece que só sentar levou meses? Engatinhar antes de andar causou hematomas. Não conseguir se fazer entender foi quase sufocante. Mas você seguiu dentro do esperado, maternal-colégio-faculdade, conhecido-amante-ex, estudo-estágio-emprego. Difícil foi quando acabaram as placas e a estrada deixou de ser reta. Medo-grito-choro-passos. Difícil foi a hora em que acabaram as pistas, ou foi aprender a se guiar por outras pistas. O será que é isso. O mas quem diria. Difícil foi quando deixou de ser fácil, quando você esqueceu que nunca foi fácil, ou quando percebeu que fácil é o que já foi.

Difícil é o que não te contam. Não te contam que você vai cair, e você vai, e levanta para cair de novo! Só levantam aqueles que têm quem segure, quem dê um sorriso compreensivo, pegue no colo, coloque de pé e se afaste para estimular que continue o teste, ou levantam-se todos porque é assim que fomos programados? Eles estão ali, batendo as mãos na frente da criança como incentivo, mas não dizem como conseguem andar. Eles não dizem nada. Não dizem que sofrem, que está uma merda, que talvez não dê, que foi feio, que está doendo, que é ilegal, imoral, indevido, impensável, impossível mas que acontece aqui mesmo, nas tais melhores famílias. Ninguém diz e ninguém vê e ninguém progride. Poucos progridem. Como progridem?

Naquele época de passos de dinossauro e choro fácil não falavam para você sobre coragem. Que coragem é seguir para qualquer direção. Coragem é dizer não. É ver partir e recomeçar. Coragem é ser humano e fraquejar, se levantar, superação, entrega, pausa para tomar fôlego, é pedir ajuda, é assumir, delegar. Não contaram que você não teria certeza, simplesmente não teria certeza! Não contaram que você erraria, que mesmo que acertasse outro erraria e não, o mundo, esse aqui pelo menos, não é justo, e você pagaria mesmo que acertasse? Para alguns só ensinaram que alguém vai fazer, justamente esses para quem ensinaram que tem que fazer.

Não ensinaram que coragem é decisão? Mas decidir fugir não. Fugir não é uma opção, descer do trem, sair da brincadeira, Ctrl+Alt+Del, fugir é adiar. É jogar na mão dos que vão fazer, até que nessa brincadeira de batata-quente o objeto se espatife. Para estar aqui não tem jeito, você já está, dá um jeito.

Ninguém disse que seria tão difícil.

Não te contaram sobre esse enorme espaço entre o que você esperava e o que apareceu. Coragem é equilíbrio porque viver, não te contaram? é um eterno aprender a andar.

Me contaram que life is not about finding, is about creating.

2.3.07

Moleskines


"Do you mind if I use my notebook?" I asked
"Go ahead."
I pulled from my pocket a black, oilcloth-covered notebook, its pages held in place with an elastic band.
"Nice notebook," he said.
"I used to get them in Paris," I said. "But now they don't make them any more."
"Paris?" he repeated, raising an eyebrow as if he'd never heard anything so pretentious.Then he winked and went on talking.


Van Gogh, Gertrude Stein e Hemingway faziam suas anotações de viagens em caderninhos pretos. Eu faço em Tribuneiros.com