28.12.06

É promessa de vida no teu coração

Foi tão disputado. Dois meses de entrevistas e dinâmicas e noites em claro pela vaga. Noites que se repetiram durante tantos anos. Anos que se sucederam num misto de stress e orgulho. Orgulho estampado na parede repleta de prêmios, nas fotos da equipe que demorou tanto para ficar perfeitamente afinada, no histórico de projetos sonhados e erguidos com tanto esforço e dedicação. São mais horas com esses bons amigos do que com a minha própria família. Trabalho cumprido.
- Pode entrar, ela está te esperando.
- Boa tarde, eu vim pedir minha demissão.

A primeira vez foi na escola. Eu tinha um laço no cabelo e uma folha de papel almaço na carteira para a prova. Regardez le film et ècrivez le nom de la citté. Apareceu uma rua enorme, com um museu na ponta e um arco na outra. As pessoas sentavam nos bares na calçada e liam jornal. La Seine, du fromage, de la bierre. Era magnifique! Tem que pagar a faculdade, a prestação do carro, o aluguel aumentou, aula de francês não é supérfluo? Quanto rende duzentos reais em um ano e meio?
- Pois não, senhora?
- Paris! Eu quero uma passagem para Paris, por favor.

- E você, lin-dá? Como tá esse coração? Ui, por que essa carinha? Não vai me dizer que de novo é por causa do namorado? Jesus Maria José, ele é um gos-to-so mas você vive assim! Querida, casal briga mesmo mas vocês... benza Deus! Mas eu tô achando que tem alguma coisa diferente aí, um brilhinho no olhar. Eu sempre falei que se você se encher já sabe, né? Parte pra outra! E essa cor tá linda, essas mechas estão durando, hein! Vamos lá, é para cortar as pontas?
- Corta no queixo! E pode repicar, qualquer coisa depois eu faço uma progressiva.

Mais um ano vai e eu ainda estou aqui, engasgada. Tantas horas eu ensaiei falando sozinha, já perdi a conta de quantas vezes tomei fôlego e desisti, das chances que tive com você ali e perdi logo depois de perder a coragem. E se ele disser não? E se achar ridículo? E se não estiver pronto? E se eu estiver errada? E se ele disser sim? Toca essa campainha.
- Oi! Que surpresa, não sabia que você vinha aqui.
- Eu te amo. Eu vim para dizer que te amo.


Um ano novo pode começar a cada dia. Feliz 2007. 2008, 2009, 2010...

24.12.06

atendimento@papainoel.com.br

Querido Papai Noel, Tudo bem por aí? Espero que tenha tido um ano bom. Se prepara porque aqui está muito calor, se der coloca um short ou vem com uma camiseta debaixo da roupa porque está praticamente o Senegal. Sorte que você tem suas renas porque, se andasse de avião, não teria como entregar os presentes nesse Natal. Está um caos nos aeroportos, já deve ter sabido. Nada como ter transporte próprio, hein? Pensando nisso, pode estacionar o trenó na minha vaga, não precisa de tíquete de estacionamento nem R$5 pro flanelinha. Minha casa não tem lareira, se esquentasse mais derretia, então você vai ter que entrar pela porta mesmo. Vou para a ceia de carro e depois devo emendar numa festinha então quando você passar aqui não deve ter ninguém. Só meu cachorro, mas ele já te conhece então é tranqüilo. Só não esquece de deixar alguma coisinha pro bicho, hein? E não deixa ele ver as renas senão vai ficar latindo e acaba acordando os vizinhos. Se alguém te vir não se preocupe. Nessa época a galera bebe tanto que é capaz de não acreditar no que está vendo. Até porque, sem querer ofender, muita gente nem acredita em você mesmo então... Não sei se os duendes vêm também então talvez eu tenha exagerado nos comes e bebes, mas quis garantir que vocês se sintam bem. Tem cerveja gelada no cooler, rabanada em cima do fogão e peru para comer com pão de forma. Eu recomendo que você coma a salada e beba o suco porque esse seu peso pode fazer mal à saúde, mas não quero ser chata. Essas comidinhas foram o melhor que consegui porque sou péssima cozinheira. Com o Grill George Foreman que você vai trazer a recepção no ano que vem será melhor, prometo! Ah, tem uma garrafa de Chandon no freezer. Eu queria tomar no dia 31 mas se vocês quiserem muito, tudo bem. Ia tomar antes da festa sozinha mesmo, então... Já que eu estou sendo legal bem que em troca da garrafa podia mandar alguém para brindar comigo no reveillon, hein? Eu sei que não é muito uma coisa que se peça, mas ficaria mais feliz do que com o I-pod. Será? Bem, conversa com a Mamãe Noel e faz o que achar melhor. Ganhei de amigo oculto uns sais de banho maravilhosos, pode usar para relaxar. Mas não deixa minha casa pro final não senão meus presentes vêm chacoalhando pelo mundo inteiro, e depois do Natal é um inferno trocar alguma coisa nas lojas, tudo lotado. E não faz muita bagunça no banheiro, detesto! Principalmente nada de cabelo no ralo... De resto, mi casa es su casa! Ah, vou deixar o computador ligado caso queira checar seus emails. Tem várias músicas legais no I-Tunes. Sabe mexer, né? Se lembrar de alguma coisa, escrevo depois. Fiz a lista em anexo meio correndo então pode ter alteração. Seja feliz no Natal, você e todos os seus filhos. Beijo, Santa! 
 PS – Se der, molha as plantas? Posso demorar para voltar e nesse verão, já viu...

21.12.06

5,4,3,2...

Blocos de rua, Buenos Aires, Figo, You Tube, Congonhas, Janot na Matriz, Tiradentes e a Estrada Real, a taça do mundo é nossa mas as eleições não, Valerioduto, Leblon nas páginas da vida, os moços do meu tempo e seus tempos, corre que ainda dá tempo para a retrospectiva dos Tribuneiros.

19.12.06

Yabadabadoo!

Homenagem a quem divertia minhas manhãs.
Joseph Barbera, 03/1911 - 12/2006

18.12.06

Além do que se vê

Ninguém pode dizer que são um gueto sem religião. Estão num culto. Assistem a tudo através de minúsculos visores de câmeras portáteis como se pudessem guardar ali a catarse do momento, provavelmente um momento pelo qual já passaram milhares de outras vezes porque aquela platéia é a mais perfeita tradução da palavra fã. Sei que a sua solidão lhe dói. Quem é mais sentimental que eu?

Era uma fase bem ruim quando nos esbarramos. Estavam perdidos num arquivo mp3 e a única referência que eu tinha era de alguém que dizia que nunca acreditou na ilusão de ter você pra mim. Logo depois de encontrar Lisbela ali sem querer, tão linda, eles me apareceram num clipe e não cantaram nada. O público gritava para olhar lá quem vem do lado oposto e vem sem gosto de viver. De repente tiraram esse azedume do meu peito e com respeito trataram minha dor.

No palco não dizem mesmo nada além de boa noite, obrigado e até amanhã. Ninguém se importa. Pra que mudar? Deixa eu brincar de ser feliz. Ah sim, pediram desculpas pelo atraso. Ninguém ouviu porque já cantavam a primeira música. Então tentar prever serviu pra eu me enganar.

Eles rejeitavam seu maior sucesso comercial. Foram acusados de serem blasé para serem cool, mas quem te vê passar assim por mim sabe que não é isso. Contemplar aquele resgate foi libertador. Poder gritar ô Anna Júliaa-a-a-a-aaaaaaaaaaaaaahh-aaaaaaahhhhhhh! Se fossem pessoas muito equilibradas, bem resolvidas, extrovertidas e sem nenhum grau de estranheza seriam incapazes de perguntar coisas como quem sabe o que é ter e perder alguém, ou juntar lindos acordes que embalam besteiras como eu tô levando tudo de mim que é pra não ter razão pra chorar.

São homens. Ás vezes garotos, projetos ainda, mas não são meninas se esgoelando por artistas-pop-gatinhos-da-estação. São homens e gritam: Não solta da minha mão! Ok, e algumas meninas que dizem ser lindo cabelo despenteado, barba gigante e visual de década passada. Alguma coisa a gente tem que amar.

Só faltou a implorada Pierrot e dar um basta a esta dor já sem fim. Não vão embora daqui, eu sou o que vocês são. Lá embaixo, o Rio de Janeiro iluminado. Eu que já não quero mais ser um vencedor levo a vida devagar pra não faltar amor. E a banda diz: assim é que se faz. Sob o luaaaar, a explicação vem no título. Era só um show dos Los Hermanos.

13.12.06

You´ve got a friend

Você já pensou em pedir a um amigo bonitão para te acompanhar numa festa? Já usou sua melhor amiga para despertar ciúmes em alguém? Já mandou flores pra si mesma? Então você é muito antigo. Carência e solidão agora afetam todas as áreas da vida de uma pessoa, não ter namorado não é mais o único problema que afeta as pessoas ao seu redor. Você é popular, tem uma galera muito animada e que te aaaaama? As cobranças evoluem assim como a tecnologia e, já que ela está aí, que faça a sua parte na questão. Se além de ir ao cinema sozinho você não tem milhares de amigos no Orkut, talvez no pinel forme um grupo.

Quando alguém te adiciona no Orkut você pensa antes de responder se Fulaninho é seu amigo, ou todos são do mesmo nível? Já pensou “por que essa criatura esnobe que nunca me olhou na cara resolveu aparecer”? Alguma vez usou a classificação de adicionados “Não Conheço”? Se sim, pode me explicar por que diabos aceitou Fulaninho na sua página? Aliás, como está sua avaliação orkutiana - quantos por cento sexy? E confiável? Se você é do tipo que tem um messenger lotado de gente, fico mais tranqüila. E aproveitando, peço que me esclareça uma coisa: O que são os "Outros Contatos" no MSN? Se não são amigos, família nem contatos de trabalho, posso dizer que são o quê - Intrometidos? Amigos dos amigos? Carentes? Figurantes?

Figuração deveria ser um trabalho com área de atuação mais ampla. Para que esperar a câmera se tem gente olhando o tempo todo ao redor nos lugares públicos? Ao invés de você chegar sozinha no Baixo Gávea numa quinta à noite, contrata umas pessoas, espalha por ali e pronto – olha a vereadora do povo chegando! O melhor é que não precisa dar muita atenção para esses profissionais e nem fingir que está feliz como faz com quem convive só para fugir da solidão. Convenhamos, bem mais fácil!

Para quem não quer passar o Natal sozinho, uma empresa holandesa criou um DVD que faz companhia. Atores interpretam diferentes situações em torno de um jantar - pode ser romântico ou uma discussão – e basta o sem-amigos dar play na máquina para participar enquanto ceia. Na versão Festa de Reveillon é capaz até de vir uma garrafa de champagne para o brinde.

Drinking with Steve é um DVD que segue a mesma linha, mas ele é daqueles amigos para toda hora. No vídeo, Steve senta-se em um sofá, bebe cerveja e fuma. Para que mais? Milhares de casais vivem no silêncio há anos... Você está chateado? Se sente o mais desprezado dos seres? Está só com vontade de tomar um chopp? Nunca mais vai se sentir mal por beber sozinho depois de comprar Steve! O site de venda mostra outras vantagens nessa relação – sem conversas estúpidas, sem drama sobre ex-namoradas ou tirações de onda.

E se você faz questão que os outros saibam que não é mais um marginal na sociedade, é possível adquirir amigos virtuais no site Fake Your Space, que oferece um serviço de venda de melhores amigos. Os usuários de sites como My Space e Orkut pagam um pechincha para escolher um amigo que deixará uma série de mensagens em seu perfil. Ele fica como você quiser e vai mostrar ao mundo internético a pessoa super popular e legal que você é.

Enquanto não volto a trabalhar, posso fazer uma caixinha de fim de ano oferecendo meus serviços de amiga. Por uma módica quantia, ligo várias vezes para seu celular. Por mais um pouco conheço quem te interessa e faço vários elogios à sua personalidade e capacidade de agregar. Que tal? Mas mais fácil de verdade, mais barato e digamos (sem querer ofender) maduro seria conviver bem consigo mesmo, tentar entender por que tem dificuldades de se relacionar ou simplesmente aceitar que quantidade não é qualidade. Hum, frase mais antiga... Ninguém vai gostar.

You just call out my name

Aproveite para mandar cartões de Natal para todos. Veja como confeccioná-los em Tribuneiros e ficarão a minha cara!

10.12.06

Neuroses de domingo


E se eu me consertar?
Imagine um mundo de pessoas bem resolvidas, quem faria música?
Clique na imagem e cuide bem das suas.
(5 dias para o show dos Los Hermanos. Pede pro Tico me esperar)

7.12.06

Páginas da vida

Quando você não faz oficialmente nada, tem muita coisa para fazer. Se um shopping novo é inaugurado no Leblon você vai e isso te torna muito antenada com as tendências. São oito andares até a vaga, e pessoas perguntando por que abriram um lugar ainda em obras e cheio de poeira. Pela lotação dos corredores e sorriso dos lojistas, a resposta é fácil: porque é Natal, e todo mundo quer presente.
Quando você sobe tudo e estaciona, o carro automaticamente fica de frente para a Lagoa. Ou, se parar do outro lado, para a praia. De repente todos os visitantes estão parados não olhando para as vitrines, mas para uma das vistas mais bonitas da cidade. Parece que nunca viram aquilo. Não pode olhar direto para baixo porque está a Cruzada São Sebastião, tem que mirar o horizonte, e isso me lembrou uma Radical Chic muito antiga em que ela se olhava nua no espelho e dizia que seu corpo era igual ao Rio de Janeiro. De longe, um espetáculo. De perto, quanto defeito!
É surpreendente ver algo que você conhece a vida inteira por outro ângulo. Se dê esse presente no Natal.

6.12.06

As tais mil palavras


Artista plástica frustrada e designer sem nenhuma aptidão, só me resta transformar em palavras tudo o que quero expressar, passar a vida admirando obras de arte e pensando - O que Chagall escreveria se não pintasse como um sonho? A vantagem é que quadros e esculturas são mais generosos do que livros, cada um aprecia e entende o que lhe parece. O criador põe a obra no mundo e ela passa a ser de cada um por aquilo que representa subjetivamente. A Monalisa para você não tem nada a ver com o que teve para da Vinci, e isso é menos aprisionador do que as palavras.

Chego a ter uma certa raiva de existir o Photoshop e seus amigos, as técnicas rudimentares são muito mais bonitas. Mas é como a beleza de uma máquina de escrever versus a praticidade de um computador. Na faculdade de jornalismo eu ainda ouvia histórias de redações onde os repórteres cortavam e colavam suas matérias usando papel e cola porque não existia o delete. Eu amo o Ctrl + Z!

Mulheres pegando sol com chapéu de palha, crianças com vestido de casinha de abelha, homens de trench coat e artistas respingados de tinta em ateliês coloridos são exemplos de imagens glamourosas para mim. Mas já que o Photoshop existe, a brincadeira é ótima. A última do site Worth1000 foi promover um concurso para transformar obras conhecidas em peças publicitárias. O auto-retrato da Frida Khalo virou a campanha pela real beleza do Dove, uma obra cubista do Picasso reforça que a Crayola ajuda crianças a desenhar desde 1885, a Fed Ex sugere que poderia ter ajudado Van Gogh a enviar sua lembrancinha a Gauguin, e por aí vai.


A publicidade volta e meia recorre aos grandes mestres. Além de ser uma forma de mantê-los vivos e divulgá-los para quem não teria um acesso formal, é um prazer esbarrar com da Vinci depois de um vídeo bizarro qualquer do You Tube, por exemplo. O canal de notícias France 24 usou a criação da Monalisa para ilustrar seu slogan - Além das notícias. Veja aqui


E já que estamos falando em arte, vale destacar a exposição do Degas no MASP. Se ainda tivéssemos aviões no país eu iria a São Paulo só para ver as esculturas das bailarinas!

30.11.06

Qualé seu guarda, que papo careta!

“No momento todos os troncos de acesso o Detran estão ocupados. Por favor tente mais tarde”. No início parecia um filme do Tarzan, mas revelou-se uma pornochanchada.

Um dia sua carteira de motorista vence. Sim, eu posso continuar dirigindo, basta perguntar à minha seguradora que só sabe que eu existo porque anualmente deposito uma boa quantia em seu nome. Mas não, o Detran quer que eu faça uma prova. Sabe aquelas certezas que temos de que alguma coisa não vai dar certo? Eu a tenho, intensamente. Começa a saga, porque de ônibus eu não vou andar.
Os motoristas habilitados antes de janeiro 1998 não fizeram aulas de Direção Defensiva e Primeiros Socorros porque a legislação em vigor na época não exigia isso deles. O Conselho Nacional de Trânsito determina que eles se adaptem à legislação atual. Acredita-se que, dessa forma, seja possível tornar os condutores mais conscientes e, assim, reduzir a quantidade de acidentes no país.

Eu acho que essa é a solução! Se eu pagar um dinheirinho para o Detran, vou resolver a barbárie que é o trânsito no Rio. Provavelmente os ônibus passarão a andar na faixa da direita, os taxistas serão substituídos por lordes britânicos, o asfalto recapeado semanalmente virará um tapete, parar no sinal à noite deixará de representar uma possibilidade de assalto, os ansiosos que buzinam um segundo antes do sinal abrir serão eletrocutados ao engatar a primeira, os moto-boys ganharão velocípedes para se locomover, os carros não vão ligar se o motorista estiver cheirando a álcool e os moleques de 20 anos nunca conseguirão passar de 80 quilômetros, engolindo seus complexos de Schumacher garanhão.

Vamos marcar a provinha de atualização? Primeira pergunta da candidata - O motorista terá que pagar alguma taxa pela prova? Não! O valor da taxa está incluído na quantia cobrada pela renovação do documento, que é de R$ 71,86 + taxa bancária. Ah, bom! Bastante justo. Desconta do IPVA anual ou do DUDA para vistoria? Essa pergunta não é válida? Ok. Tenho que fazer um exame médico, de novo, para avaliação das condições físicas, oftalmológicas e mentais. Com certeza enlouqueci nos últimos 5 anos, mas só alguém fora de seu juízo normal acharia correta essa prova. O exame é cobrado pela clínica credenciada, que surpresa! Só aceitam cash, dinheiro vivo, e pode levar em uma mala preta. Ah, para falar com algum atendente do Detran é preciso ter em mãos o DUDA pago, oh!

Um mês depois vou ao posto escolhido. Chove torrencialmente, claro. Levo meus documentos e algo estranho acontece. Os atendentes são... simpáticos? Me cadastram no sistema, tiram minha foto de graça, me fazem assinar em uma máquina e me devolvem tudo: "O sistema escolheu uma clínica de Ipanema para a senhora fazer os exames. Eu sei que tem uma clínica em frente à sua casa mas não adianta reclamar, é o sistema, hihihi! Para fazer a prova por favor ligue para o Detran. Não, aqui não é o Detran, tem que ligar para “Eles”.

- Por favor quero marcar minha prova no posto do Largo do Machado onde, mal consigo crer, as pessoas são eficientes.
- Tem que ligar de manhã porque na parte da tarde não tem vaga.
- Não posso marcar agora para outro dia de manhã?
- Tem que ligar de manhã porque na parte da tarde não tem vaga.
- A senhora é gaga? Eu não perguntei se tem vaga no posto de tarde, disse que quero marcar agora para qualquer dia em qualquer hora neste posto.
- Neste posto tem que ligar de manhã porque na parte da tarde não tem vaga. Mas tem na Ilha, Madureira, Campo Grande, Nova Iguaçu e Nilópolis.

A seguir cenas. Hoje não tem tronco vago para mim e o registro do meu cipó venceu.

29.11.06

Sympathy For the Devil

(ou exercício 1: Rolling Stones)

100 years ago I said Let's spend the night together, I just wanna make love to you
It's only rock and roll, Wild horses, No expectations, Hot stuff
Play with fire, you answered

Everybody needs somebody to love, I want to be loved
Gimme shelter, You can make it if you try, Try a little harder
If you let me I wanna be your man, That´s how strong my love is, Live with me Each and every day of the year
And Little by little you became My Girl, my Backstreet girl
The spider and the fly, Sweethearts together
Ain´t that loving you, baby?
Just my imagination Blinded by love
Biggest mistake

Look what you´ve done, Heart of stone
You got me rocking, I go wild, a Street fightin' man

Dead flowers, Love in vain

I'm going down Always suffering (I can´t get no) Satisfaction
Anybody seen my baby?
Gotta get away, Time waits for no one
Let it bleed, What to do? It´s all over now, I'm moving on
How can I stop this 19th nervous breakdown? Stop breaking down
It must be hell, Sister Morphine


Now I´m Goin' home, the Prodigal son. Back to zero
It´s not easy, I've been loving you too long
I Don't Know Why you turned into My Obsession
Me, always Cool, calm and collected
Something happened to me yesterday
Can't you hear me knockin'? Almost hear you sigh
Ain't too proud to beg: Who's been sleeping here? Who's driving your plane? Just wanna see his face. Tell me, Bitch, Don't lie to me
I´m a fool to cry

Hide your love, Let me go, Laugh, I nearly died
No use in crying
You can't always get what you want

I'm free, You better move on
Can you hear the music? (Goodbye) Ruby Tuesday (still I´m gonna miss you)

Till the Next Goodbye, I will Start me up

argumento: Fernando Tranjan e Pedro Garavaglia



27.11.06

Viva o Sundown, own own own

Diz o comercial da Skol que o verão, ah o verão, é a estação da perdição porque nele você faz tudo aquilo que vai contar para seus netos, bisnetos e tataranetos. Você vai jogar hockey com rodos na piscina vazia e cultivar o amor à preguiça, ao sol e a uma dúzia de pessoas, fazer corrida de pé de pato na areia, farofa com a galera na piscininha Tone, imitar a Dancing Flower e dar muitos mergulhos na água. No verão as pessoas ficam bobas... Assistindo no ar condicionado, dá até vontade que comece logo a época de sair de sandália rasteirinha de noite com homens de bermuda, todo mundo bronzeado e de rabo de cavalo porque não há cabelo que resista, programas pós-praia, sol até às 7, ensaios para o carnaval, uma sensação de férias mesmo pra quem continua trabalhando.

A árvore da Lagoa está horrível, com umas bolas vermelhas gigantes. Se não melhorar quando acesa, dessa vez eu juro que sequestro ela no meio da noite e jogo na Baía de Guanabara já que nunca passo mesmo pelo Aterro. Ou deixo no Leblon, de onde alguém rapidinho vai roubá-la.

Criada pela The Glue Society, esta escultura da foto é um alerta sobre o aquecimento global. O trabalho se chama Calor com possibilidade de tempestade. Foi mais ou menos o que aconteceu neste fim de semana com os cariocas, uma prévia do tal verão. Não é à toa que o filme mais visto tenha sido Happy Feet, o do pinguinzinho.

Outra boa alternativa nas telas – O ano em que meus pais saíram de férias. Texto lindo, elenco encantador, Copa de 70 (apesar de tudo) e Tropicália. Na mão direita tem uma roseira autenticando eterna primavera e no jardim os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis. Viva o Cao Hamburger, o Shlomo, o Mauro e a MPB no cinema nacional. Que, aliás, salva outro filme no qual o bonequinho vai para debaixo da cadeira de vergonha - 1972. Na trilha: Acabou Chorare e Tinindo Trincando, dos Novos Baianos, Baby com a Gal e outras setentices. Para quem gosta de fuçar, músicas dos grupos A Bolha e Soma. Ouça o disco, nunca veja o filme, e desempoeire seus casacos no escurinho do cinema.

23.11.06

Meu carro é vermelho

Senhor juiz, pare agora e veja só que festa de arromba noutro dia eu fui parar. Quando ele subiu no palco a platéia já estava conquistada, e foi anunciado como o ponto alto da noite. Aí entendi o porquê. Alegando calor, tirou o casaco e revelou sua camisa regata branca. Delírio! Ao seu lado, a mocinha dançava de vestido curto e botas longas de zebra. Era Érica Martins, da banda Penélope, fazendo o papel de Vanderléa.
Tinha um quê de Los Hermanos ali, calças sociais com camisas de manga curta, um certo culto... Mas o Roberto já tinha avisado, anos atrás, que o que provocava lá fora um corre corre dos brotos do lugar era o Ed Wilson que acabava de chegar. Hey, hey, que onda! Depois descobri que nos anos 60 o Ed Wilson fazia Ana Maria entrar na cabine para vestir um biquíni de bolinha amarelinho tão pequenininho.

Ali na Lapa dividia o palco com representantes da nova safra do rock nacional como Gabriel, dos Autoramas, e Nervoso, do Acabou la Tequila, mantendo sua fama de mau. Eles já eram fãs da Jovem Guarda quando deram de cara com o tecladista do movimento, o Lafayette, tocando forró em um bar de Niterói. Bicho, sem palavras pra descrever essa cena. Agora, junto com Os Tremendões, Lafayette é o zen-budista reverenciado pela garotada, e voltou para ficar porque ali é seu lugar.
Cabelo na testa, são os donos da festa, entraram para os dez mais. Recomendo o show, é uma brasa, mora? O próximo é no dia 23 e promete lotar o Estrela da Lapa com garotas papo-firme.

Papara papara papara

Amigo de tantos caminhos e tantas jornadas
Cabeça de homem mas o coração de menino
Aquele que está do meu lado em qualquer caminhada
Me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro
Você tantas vezes provou que é um grande guerreiro
Não preciso nem dizer tudo isso que eu lhe digo
Mas é muito bom saber num pocket show em Tribuneiros

21.11.06

The end

"Os atores fazem o trabalho e eu fico assistindo, e nada é melhor do que isso!"
Homenagem a Robert Altman, 81 anos e mais de 85 filmes.

16.11.06

Para uma Noite Feliz

Planeje seu Natal com os Tribuneiros. Ofertas imperdíveis para toda a família.

14.11.06

A vida passa na TV

Um zoológico na Tailândia decidiu exibir vídeos-pornôs para um casal de pandas para ver se o macho se anima. Chuang Chuang, o marido-urso, vive com Lin Hui há três anos... e nada. Pandas dificilmente procriam em cativeiro, devem ser do tipo que gosta de relacionamentos abertos, sem pressão, e Lin Hui já deve ter enchido a jaula de velas, desfilado com lingeries sexys na frente do marido, tentado um novo corte de pelos e, dizem as más línguas, andado até se insinuando para o leão vizinho na esperança de despertar ciúmes em Chuang Chuang, mas foi tudo em vão. Para ajudar, os veterinários resolveram exibir os vídeos em uma tela grande depois do jantar, quando o panda estiver se sentindo “amoroso” (palavras do projeto).

Fiquei pensando se seriam filmes mais do estilo Sexy Hot ou algo como Playboy TV, com uma historinha para embalar. Será que vão passar o da Paris Hilton?! Alexandre Frota estaria cotado para os fins de semana e, para o caso do panda preferir algo mais cult, alguns pornôs-chic como Nove Canções já foram alugados.

A estratégia de usar filmes motivacionais não é empregada só no campo sexual, várias empresas e cursos também fazem isso. Pode ser uma prática interessante, se customizável. Seu marido anda pouco romântico? Bloqueie os canais de futebol e deixe Notting Hill passando na TV da sala. Ele anda desanimado no trabalho? Jerry Maguire nele! Não quer filhos? Madagascar, Deu a Louca na Chapeuzinho, Procurando Nemo, ou compre logo um Play Station e o convença de que sempre terá companhia para brincar. Anda te valorizando pouco? Thelma e Louise, um pouco de ameaça não faz mal a ninguém. A lista é infinita, use a imaginação e seu cartão da Blockbuster.

Mas se ele sumir de casa cancele imediatamente o plano e volte ao velho debate de relacionamento, pelo menos você tentou! E vamos ver se a Lin Hui tem mais sorte...

11.11.06

You never can win

Esperei meses por essa noite. Queria recuperar cada centavo investido, cada minuto de ansiedade, e o orgulho ferido. Cultivei as unhas longas, pintadas com um esmalte discreto. Um enorme anel de ouro contrastando com os pequenos brincos, e os braços livres de relógios ou pulseiras. Um soutien de renda sugestivamente chamado de meia-taça combinando com a parte debaixo. As pernas longas cobertas por uma calça que acompanha o contorno do corpo cuidadosamente hidratado para lembrar a maciez com que suas mãos o percorriam. Blusa preta, as costas nuas protegidas por um casaco que será estrategicamente tirado e entregue para que você pendure nas costas da minha cadeira. O cabelo sedoso escorrendo pelos ombros, exalando um suave perfume que fará com que você deseje enrolar nos dedos para beijar minha nuca. Salto fino, alto o suficiente para que a minha boca fique quase na altura da sua. Só um pouco menor do que você para que eu possa levantar a cabeça e abaixar o olhar quando nos cumprimentarmos. Um brilho seco nos lábios para que eu possa umedecê-los com a minha saliva.
Dou boa noite de longe e falo com os outros enquanto acompanho seus olhos por mim. O garçom enche a taça de champagne que eu bebo displicentemente enquanto você entretém a roda, quase zonzo. Como é sexy a risada maliciosa de quem também nos deseja! Você me tira para dançar, I´ve got you under my skin. Na minha cabeça, outro refrão me faz sorrir: para quê um beijo se eu posso ter o seu olhar?

Dou um suspiro e digo que já vou, foi uma noite maravilhosa. Você me acompanha até o carro, eu beijo seu rosto e me afasto do seu abraço.
Cuidado ao desprezar uma mulher, a vingança é um prato que se come frio. Foi ótimo para mim, não sei se tão bom para você. Bons sonhos.

8.11.06

Cierrem las puertas

O governo venezuelano proibiu o uso de árvores de Natal, imagens de Papai Noel e botas vermelhas na decoração natalina. O objetivo é erradicar a tradição americana.

O governo brasileiro está em alerta já que agora mais gente deve vir de longe para prestigiar a árvore de Natal da Lagoa.

7.11.06

Old Blue Eye´s Way

Senhor, fazei com que Júpiter fique alinhado com o Sol, com que Vênus entre logo na minha segunda casa, afastai de mim o inferno astral e fazei com que todos leiam os Tribuneiros hoje.

Todas as pessoas que não existem

Tudo o que eu não pude ter sempre ganhou seu semblante macabro no horizonte e tudo o que eu pude ter sempre chegou pequeno e podre por não ser você.
Eis que finalmente dou de cara com a sua cara. Perdido, sorrindo além da conta como sempre, com todos os fios da sua cabeça devidamente moldados e no lugar. Com todas as emoções enquadradas e sem nenhuma poesia ou mistério na aura. Então era isso? Só isso? Fico sem saber por quem afinal sofri todo esse tempo.
Só sei que vou continuar sofrendo, vou continuar emprestando a sua existência para dar cara à minha dor, à minha espera, ao meu intuito final. Definitivamente não é você que eu amo, nunca foi. Eu amo essa coisa, essa falta, essa negligência, esse fim, esse tormento, esse vácuo, essa saudade, essa angústia, esse vazio, essa certeza, esse encontro. Eu amo usar as pessoas como hospedeiras desse meu vírus de amar sem saber o que, sem saber se existe, sem nem saber se é amor.

Tati Bernardi, em teaser para meu futuro texto "I see dead people".

1.11.06

Gil

Quando a gente tá contente, nem pensa que tá contente
nem pensa que tá contente, a gente quer nem pensar
a gente quer a gente quer é viver

29.10.06

Super freak


Cinco da tarde de uma sexta-feira no cinema Leblon. Não era Superman ou outro super-herói, mas o público que não lotava a sala foi ao delírio no final. Também não eram cinéfilos de Festival do Rio ou Estação Botafogo, dados a exaltações durante as sessões. Ouvi u-huuus e palmas! Um cambada de desajustados invadiu o cenário da novela das 8! As famílias não são perfeitas nas tramas de Manoel Carlos, mas a classe alta carioca está indo ao delírio com Pequena Miss Sunshine? Ok, parte dela. E com eles voltamos às críticas de cinema. Cotação: bonequinho fazendo dancinha estranha. Isso é bom.

Não leia a partir daqui se você ainda não tiver visto o filme (inclusive, saia da frente desse computador e vá ver).

Pode ser difícil explicar o que acontece, primeiro também vou ter que recuperar minha consciência. Por partes. É um script que prova ainda haver vida inteligentemente ácida sobre a Terra, guardem o nome do roteirista estreante Michel Arndt. Humor negro é sempre bem-vindo, o politicamente incorreto precisa resistir. Tem momentos não-verbais que mostram existir o silêncio inteligente além do diálogo igual, guardem um Oscar para Steve Carrel. Um casal de diretores de comerciais e clipes que levou quase 5 anos para viabilizar seu primeiro longa – esse! Não sei se Jesus was wrong como diz a camiseta, mas o personagem que a usa está certíssimo e até o final feliz dele incentivado por Proust é quase piegas e bom. O que acontece em um final feliz na vida real? Melhor frase: “Go hug Mum”. Comprei um caderninho. Não vou parar de falar, mas acho que vai melhorar a comunicação.

Pequena Miss Sunshine pode ser o retrato da família mais disfuncional que você já viu, e é um retrato hilário. Até que as gargalhadas dão lugar à lágrimas aqui e ali na platéia, e os disfuncionais vão reconhecendo a tragicomédia que pode ser a vida em casa. O filme foi feito para quem tem certeza que um dia sua família vai levá-lo à loucura e se impressiona que aquele bando de atrapalhados sempre consiga fazer com que tudo acabe bem. Aviões partem todos os dias para todos os lugares do globo, é estranho que tão pouca gente fuja e mais estranho ainda que tanta gente volte. Vai entender... Pode ser como diz a crítica do NY Times: talvez família que tome Prozac unida permaneça unida, o certo é que família que anda unida numa Kombi cor de banana tem maior valor cômico. Cinema é a maior diversão.

27.10.06

Divas


Ainda não tinham inventado a escova progressiva. Elas sacudiam os cabelos levemente ondulados, muito bem penteados, quase sempre louros. Jamais mostravam um milímetro de raiz escura ou apareciam sem maquiagem. Não precisavam optar entre a luva e os anéis, as longas de cetim casavam perfeitamente com enormes diamantes nos dedos, combinados com brincos e colares. Nunca tinham ouvido falar no tal índice de massa corporal que ameaça as modelos de hoje, e abusavam de quadris largos, seios fartos, cintura de violão. Os saltos altíssimos alongavam as pernas que escapavam por entre as fendas dos vestidos glamourosos. Tinham olhos semi-cerrados e lábios brilhantes que sussurravam, a voz só se elevava quando batiam com os punhos nos peitos dos homens cheios de brilhantina. Estavam sempre envoltas pela fumaça dos cigarros nas piteiras e deixavam nos copos marcas de batom vermelho. Nada de gloss. Choravam em público, cantavam em público, dançavam em par. E tinham, principalmente, por trás da aparência de femme fatale, uma enorme vulnerabilidade e dependência daqueles homens que tentavam enlouquecer. Talvez fosse essa, mais do que os decotes, sua principal arma de sedução.
Em cartaz no Cine Tribuneiros, Gilda, estrelado por Rita Hayworth.

20.10.06

Esse turu-turu-turu no meu peito

- Você sempre teve esse sopro?
A primeira vez que o coração bateu errado foi na infância – eu quero esse cachorrinho, mamãe, vamos levá-lo pra casa, vamos, vamos! Não!
Depois bateu por outros cachorros aparentemente mais humanos, bateu muito rápido nas grandes conquistas, quase parou em alguns sustos, mas nunca pensei que a frase “precisamos ouvir seu coração” pudesse ser tão literal – Seu coração está fazendo um barulho estranho. Teremos que fazer uma ultrassonografia.
A médica olhava para a máquina e perguntava coisas.

- Tem uns buracos.
- É que deletei algumas coisas.
- Isso não é bem verdade, ainda estão nos arquivos temporários. Tem coisa demais aqui dentro.
- Preciso fazer uma faxina.
- Tem umas pessoas...
- Deixa elas aí, anda estou resolvendo para onde vão.
- Tem uma substancia estranha aqui.
- É Super-Bonder. Sou um pouco desastrada nesses assuntos sentimentais.
- Os batimentos não estão bons, muito devagar.
- Não tem nada muito emocionante acontecendo, é uma fase (adoro pensar isso, relaxa).
- Vamos ter que intervir para acelerar isso. (no interfone) Mande entrar o Rodrigo Santoro.
- Doutora, não acho que a presença do Rodrigo Santoro ajudaria. Não é um caso para algo mais concreto?
- Hum, tem razão. O que você quer?
- Eu não sei, não quero nada.
- Não pode não querer nada, é por isso que seu coração está batendo errado.
- Mas não sei o que eu quero, é tudo muito difícil.
- Precisa ter fé.
- Não tenho fé.
Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
- (no interfone) Emergência, código vermelho, traga reforços! – Entra pai, mãe, irmãos, tios, primos, amigos, colegas, cachorros, ex-namorados, casos, desavenças, fantasmas...
- Quem são essas crianças?
- Seus futuros filhos!
- E essa gente estranha?
- Seus funcionários, chefes, orientadores, namorados, você anda vai conhece-los se consertarmos seu coração. Acredita que pode melhorar? Acredita?
- Sim, acredito, por que estamos gritando?
- Você tem fé?
- É um culto? Eu... tenho, ahhhhh!

- Moça, está tudo bem? Se o barulho estiver incomodando podemos tirar o som.
- Que barulho é esse?
- Seu coração na ultrassonografia.
- Parece uma pessoa engolindo muita água.
- Acabamos o exame. Você tem um prolapso na válvula mitral, não traz problemas e basta fazer uma profilaxia em caso de cirurgias na boca. Pode levantar, venha buscar o resultado amanhã, boa tarde.

19.10.06

Disfarces

Ela chega de cara limpa, senta e acendem uma luz fria. Entra a equipe. Molha o cabelo, esconde as marcas, faz uma escova, base na pele, um pouco de cor, enrola o cabelo, cílios postiços, mais pincel, outra cor, solta os cachos, ilumina, ventilador, outro filtro, leva para o Photoshop, alonga o pescoço, aumenta os olhos, coloca mais cabelo, equilibra a luz, imprime. Está bonita.
Leia o livro – http://www.tribuneiros.com
Veja o filme - http://www.campaignforrealbeauty.com
Tire a sua máscara.

14.10.06

Conversa de bar

Impressões femininas sobre o primeiro beijo
- Tinha uma baba, era um pouco nojento.
- Ninguém me disse que teria uma língua rodando na minha boca.
- Quando acabou eu tinha certeza que meus lábios estavam inchados e todo mundo percebia.
A experiência do primeiro beijo pode ser comparada à da primeira comida japonesa. Por que exatamente repetimos depois?

Cicarelli e Tato Malzoni embarcaram hoje para a Eurodisney. Nos Estados Unidos, o governo pensa em fechar os parques temáticos, principalmente os perto de San Francisco.
Quando o Pateta agarra os peitos da Minnie e se esfrega no Mickey, Tico e Teco, você pensa que o fim do mundo pode já ter passado e ninguém reparou.

A Veja dessa semana encalhou nas bancas, foi trocada pela Caras que mostra a gatinha da Globo com o baixinho da Kaiser. Resposta de uma senhora, na Letras e Expressões, ao marido que perguntou por que aquilo seria uma armação - “Ela não precisa disso”, e suspirou.

12.10.06

Feliz dia das crianças

Cartaz do Tim Festival na minha janela. Um adesivo do Governo do Estado informa - Não recomendado para menores de 16 anos. Tema: show musical. Contem: horário inadequado, venda de álcool, rock, funk, pop, rap, jazz e mpb.
A vantagem de ter quase 30 é poder consumir drogas. Que o Senhor seja louvado.

10.10.06

Carta a 4 jovens escritores

“Queria ter alguma certeza. Umazinha que fosse. Acreditar que uma opção pode ser melhor do que a outra. Chega!
(...) E, como boa tia velha, tenho aqueles conselhos babacas pra te dar: cuidado no trânsito, não toma friagem, come direitinho, tenha paciência, não leva para o pessoal, perdoa, se perdoa, aceita e deixa ir embora. Sentimentos guardados azedam. Cuida do coração, ama muito e foca no agora! Porque esse é o momento. Relaxa, medita e principalmente: respira. Porque tudo passa, não é verdade?”

E a resposta em
http://www.tribuneiros.com

9.10.06

When I'm 28

Você não tem emprego, você fica mais velha, o espaço destinado às coisas que levará para a sua futura casa aumenta no armário, você arranha seu carro que completou 15 mil quilômetros e precisa de uma revisão além de renovar o seguro, acabou a cota de sol no Rio, boletins de CTI voltam a fazer parte da sua rotina, suas séries favoritas estão de férias, durante o Festival do Rio você está em São Paulo, suas milhas só te levam para Frankfurt ou Buenos Aires, você não pode voltar para Buenos Aires, você não tem dinheiro para viver em Frankfurt, quando percebe você só escreve sobre política e fica feliz que serão três debates no próximo mês, suas bolinhas homeopáticas estão acabando e você pensa em economiza-las para não ter que pagar outra consulta, sua mãe é agredida por um consertador de máquina enfurecido, você compra um vestido para a festa e descobre que está fantasiada de Ferrero Rocher mas ao contrário do bombom não tem ninguém para aproveitar tamanha delícia, você não consegue se apaixonar por quem deveria, o nerd da escola te encontra e diz que além do mega emprego está feliz porque vai casar, você começa a trocar o dia pela noite e pensa que pelo menos vai transformar aquilo tudo em textos de humor negro, até descobrir que por um mistério lostiano que pode ser chamado de burrice da Uol, seu blog é bloqueado e você nem pode mais usá-lo para deixar um recado avisando que se mudou. É quando suas amigas intervêm e sugerem fazer um filme usando tudo isso já que não deveria ser época de inferno astral delas mas estão todas mais ou menos no mesmo barco quando deveriam estar voltando do trabalho em suas Pajeros, indo buscar os filhinhos fofos na pracinha onde foram brincar com a babá, para encontrar papai de terno bebendo um vinho caro na casa decorada com girassóis. Filhinhos dão muito trabalho, babás esmurram criancinhas, pracinhas ao ar livre são alvo de bala perdida, Pajeros não cabem nas vagas da cidade, papai de terno vai te trair, se quiser troca o vinho por Absolut e os girassóis por flores artificiais que não morrem. Ou vai buscar o filho único de mãe solteira na casa da vovó de carro popular financiado em cinqüenta meses, esquenta a comida no microondas e toma um Rivotril para dormir bem porque amanhã a tia da escola quer falar com você antes do trabalho e se atrasar o fdp do seu chefe vai encher o saco. Ou se arruma no banheiro da academia, primeira ação do dia que começou às duas da tarde, corre pro analista, liga pra sua mãe no caminho dizendo que não vai jantar, passa no Bobs e faz uma hora na casa de uns amigos antes de ir pra boite de onde só vai sair quando o sol nascer, e se alguém disser que isso não é vida pergunta por que não avisaram antes que aquela casa da Barbie rosa jamais poderia se transformar em realidade já que com aqueles peitos e aquela cintura você seria ainda mais esquisita. Pergunta se a faculdade e os trezentos cursos extracurriculares que entopem seu currículo devolvem o dinheiro em caso de defeito no processo. Pergunta se os instáveis que juraram amor eterno não te acham mais a mulher mais sensacional e divertida que eles conhecem. Pergunta por que quando você fazia brincadeirinhas para descobrir com quantos anos se casaria e quantos filhos teria, ninguém rasgou aquele papel e te mandou escolher o fundo de aplicação mais rentável e não o nome do príncipe idealizado. Por que venderam uma imagem de vida feliz que não se parece em nada com a sua vida, por mais feliz que ela seja. Por que disseram que quase 30 já é adulto e adultos são independentes. Por que só nos filmes independentes os personagens são uma confusão ambulante e você passou a vida assistindo à blockbusters hollywoodianos onde o amor vence, está sempre sol e se chove as pessoas dançam com os postes. Por que você seguiu o caminho certo e deu de cara num muro sem que ninguém entregue a estrelinha invencível do Mario Bros. Por que os galãs da escola ficaram ultrapassados e não foram substituídos por modelos atualizados. Por que depois de uma noite de debate vocês concluem que não é uma boa estratégia ser cheia de opiniões e o marketing da parvinha ingênua e indefesa ganha mais eleições. Por que as coisas pareciam mais fáceis na época dos seus pais, que deveriam pensar o mesmo sobre a dos seus avós e assim por diante. Por que você insiste em querer se empolgar com qualquer coisa que te tire dessa luta inerte pela sobrevivência. Por que você apaga as velinhas do bolo e pede disposição, definição e coragem. Porque quando você tiver 64 vai querer rir desses dilemas, e precisa acreditar que vai ter valido a pena.